Mais de 10 anos após o fenômeno "O Código DaVinci", livro que catapultou o escritor Dan Brown ao sucesso mundial, chega aos cinemas a terceira adaptação cinematográfica de sua obra, Inferno, baseada no livro homônimo, lançado em 2013.

A nova aventura de Robert Langdon, simbologista e professor de iconografia religiosa, é novamente dirigida pelo veterano Ron Howard e, assim como nos filmes anteriores — O Código DaVinci, de 2006, e Anjos e Demônios, de 2009 — tem ritmo e cadência suficientes para surpreender o espectador, apesar de toda previsibilidade da história.

Pois é! Mais uma vez a saga nos apresenta uma trama clichê e repleta de situações que se desenrolam em conclusões óbvias. Mas, deixando isto de lado, Inferno proporciona um aprofundamento do personagem principal. Se em "O Código" e em "Anjos" Langdon não passava de um protagonista padrão, sem muito conteúdo, em Inferno conhecemos um pouco de seu passado. Uma pena que isso aconteça justamente naquele que será, conforme já se manifestou Howard, o "capítulo final" da franquia.

Filmado quase que inteiramente em locações na Hungria e Turquia, assim como nas italianas cidades de Veneza e Florença, Inferno tem fotografia competente, com várias tomadas em Bird's Eye Shot, que proporcionam uma vista extraordinária das construções antigas e monumentos destes países. O contrário do que aconteceu em Anjos e Demônios, que se passa no Vaticano, mas não pôde ser filmado in loco, uma vez que, por conta do burburinho causado pelas obras de Dan Brown, a Igreja Católica baniu e condenou o filme, não autorizando a entrada da produção no país. Essa medida vaticana obrigou a produção a construir cenários em escala que reproduziram as pretensas locações. A direção de fotografia é de Salvatore Totino, velho colaborador de Howard, que também assina os ângulos dos filmes anteriores da Saga.

A direção de arte também é notável, em especial nos takes dos delírios e visões de Robert Langdon, que lembravam muito alguns quadrinhos de Spawn, gibi do mito Todd McFarlane. Ron Howard nem precisou pesar a mão na saturação da imagem para disfarçar a pobreza dos figurinos, como fez durante os flashbacks de O Código DaVinci.


Tom Hanks retorna à pele (e penteadinho estranho) de Langdon. Como nos filmes anteriores, ele tem uma companheira de aventuras, a personagem Sienna Brooks, médica interpretada por Felicity Jones. Hanks é muito profissional, um ator experimentado, vencedor de 2 Oscar e que já flertou com praticamente todos os gêneros do cinema. Assim sendo, sempre se espera dele um bom trabalho e é isso que acontece em Inferno. Porém, a dobradinha com Jones não funciona. A impressão, nítida, que tive é que a atriz estava pouco comprometida com a produção, como aquelas modelos ou, mais recentemente youtubers, que caem de paraquedas no elenco de um filme qualquer. Nada digno de uma indicada ao Oscar.

Quanto ao resto do elenco, destaco a dinamarquesa Sidse Babett Knudsen, que vem chamando a atenção do público nerd por sua participação na nova sensação da TV, Westworld. Sua personagem, Dr. Elizabeth Sinskey, é muito importante para a trama e sua passagem por Inferno é memorável. Omar Sy, o francês que conquistou o mundo por seu papel em Intocáveis, de 2011, também está muito bem como o misterioso Christoph Bruder. Porém, dentre os coadjuvantes, meu preferido é Harry Sims, que é interpretado por Irrfan Khan. Adorei Sims, seu jeitão almofadinha e suas frases bem sacadas.

Ben Foster, com pouco tempo de tela e personagem raso, passou despercebido.

Inferno é, apesar de algumas escorregadelas, um filme legal, com pegada e vai bem com pipoca e guaraná. Ideal pro fim de semana.




Marlo George assistiu, escreveu e, como Felicity Jones, costuma fazer cara de paisagem.