Quem REALMENTE deveria ganhar o Oscar de Melhor Filme? Quais as maiores injustiças esse ano? O prêmio perdeu sua relevância? E o mais grave: alguém ainda se importa?
"Esquadrão Suicida" ganhou o Oscar de Melhor Maquiagem e Penteado. Foi merecido?
(Divulgação)
Entra ano, sai ano, mas a lenga-lenga é sempre a mesma: quem curte cinema SEMPRE reclama deste ou daquele prêmio "injusto" dado a filmes que não mereciam tanto alarde. Ou daquele filme que só ganhou espaço por conta de uma suposta ~"cota de representatividade" do que por sua qualidade. Ou ainda do hype insano de marketing que leva filmes que nem são tão bons assim a terem seu lugar sob os holofotes.

Época do Oscar - e depois - sempre gera aquele bom e velho chororô por parte de quem adora assistir filmes, faz maratona no cinema - ou onde quer que se sinta confortável - para conferir os indicados e TODO MUNDO vira crítico de cinema da noite por dia apenas por um mês para depois, simplesmente, voltar à vida normal que ninguém é de ferro.

Pensando nisso, a Equipe Poltrona POP pensou nesta lista para colocar alguns filmes e profissionais injustiçados na cerimônia do Oscar 2017, que, por si só, mais parecia uma paródia dos outrora anos de gala da maior festa do cinema - com direito até à suspeita de fraude por conta de uma troca de envelopes que ninguém sabe muito bem de quem foi a culpa, ressuscitando uma incerteza sobre o real ganhador de Melhor Filme...

Esta lista vai lembrar de ausências e questionar o simples fato de que produções e profissionais que foram esquecidos. Afinal, os prêmios já foram distribuídos e isso é irrevogável. Mas pelo menos dá para conhecer - ou relembrar - filmes que poderiam ter uma oportunidade frente a tantas produções medíocres de 2016 que, estranhamente, ganharam espaço na premiação.

>>> Melhor Filme:
Uma categoria que tentou abraçar o mundo com as pernas em 2017, pondo em xeque a qualidade de muitos ali selecionados. Curiosamente, alguns filmes poderiam ter figurado tranquilamente como "Armas na Mesa" e "Capitão Fantástico". Além de terem aquela 'cara de Oscar', foram filmes bem realizados, escritos e com um elenco fenomenal.

"Capitão Fantástico" só foi lembrado no Oscar na categoria Melhor Ator para Viggo Mortensen - e ele era o único com reais condições de ganhar do premiado Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar". Já "Armas na Mesa", que teve indicação de Melhor Atriz para Jessica Chastain no Globo de Ouro, nem sequer foi lembrada pela Academia. Uma pena.
Bryan Cranston

>>> Melhor Ator: Foi bem estranha a ausência
da indicação de Bryan Cranston como Melhor Ator por sua atuação em "Conexão Escobar". Sua composição do agente que desenvolve todo o esquema para o início das investigações sobre o cartel de drogas de Pablo Escobar é de tirar o chapéu e mostra o que de melhor é feito no gênero policial. E se não ter Cranston em outro papel bem interessante apenas um ano após ter sido indicado ao Oscar por "Trumbo - Lista Negra" não é injustiça, não tem mais como saber o que seria...

>>> Melhor Ator Coadjuvante: Mesmo que "A Qualquer Custo" e "Até o Último Homem" tenham conseguido algumas indicações no Oscar desse ano, a ausência de indicações dos atores Ben Foster (A Qualquer Custo) e Hugo Weaving (Até o Último Homem) só mostra que poderia haver justiça ao trabalho de composição de cada um dos personagens que eles interpretaram.
Ben Foster e Hugo Weaving: atuações esquecidas pela Academia
(Divulgação)
Foster - um eterno coadjuvante que já vimos num monte de filmes mas não lembramos o nome - é aquele tipo de sujeito implicante, brigão mas que tem um objetivo ao se juntar ao irmão (Chris Pine) numa sucessão de roubos à banco. Já Weaving brilha em cada cena que aparece como o pai rígido, violento e alcoólatra, bem diferente dos papéis classudos que estamos acostumados a ver o ator. Nem havia a necessidade de ganhar o Oscar - embora merecessem mais que outros concorrentes - mas somente a indicação já daria aquele "falou, valeu" que todo artista precisa para continuar...

>>> Melhor Atriz: Nada contra a indicação de Melhor Atriz Coadjuvante para Octavia Spencer por seu papel em "Estrelas Além do Tempo". Mas quem assistiu o filme sabe que quem chamou mesmo a atenção foi Taraji P. Henson como a "computador" que acaba, por erros e acertos, descobrindo a fórmula matemática para criar as parábolas necessárias e possibilitar que uma um protótipo desse a volta no planeta Terra e, a partir disso, lançar o homem à Lua.
Taraji P. Henson e Jessica Chastain: Atuações estupendas sem reconhecimento algum
(Divulgação)
Outra ausência sentida foi a da já citada de Jessica Chastain por sua instigante personagem em "Armas na Mesa". Além de ser a personificação viva do que é ser uma lobista, ela era intelectualmente detestável mas completamente crível. A atuação de Chastain é hipnotizante e ela criou - apoiada no esperto roteiro - uma das mais complexas e fascinantes personas da história do cinema num filme completamente esnobado pela Academia.

>>> Melhor Diretor: Quem assistiu no cinema o melhor filme da franquia Star Wars sabe que Gareth Edwards se redimiu daquela bomba que foi "Godzilla" e entregou um trabalho coeso como há muito não se via em "Rogue One". Não somente pelas emocionantes cenas de ação como também pela excelente direção de atores - e isso é ponto pacífico entre público e crítica.
Gareth Edward dirigiu "Rogue One" e foi completamente esnobado (Divulgação)
Mas todos sabemos que a Academia tem uma implicância com ficção científica que não seja ~"cabeça" - e uma implicância específica com Star Wars desde que o Episódio IV foi indicado a Melhor Filme - e Edwards, infelizmente, pode ter sido preterido por nomes que nem faziam muito sentido estarem na premiação esse ano.

>>> Melhor Maquiagem e Penteado: Muito se falou nas redes sociais do Oscar pelo trabalho feito em "Esquadrão Suicida", que não era merecido pois o filme é um lixo, não há nada de relevante nele, que não deveria concorrer a nenhum prêmio e todo o "mimimi" próprio do calor do momento. Mas a verdade é que os concorrentes não eram nada fortes. Por mais que gostemos de "Star Trek - Sem Fronteiras" - o mais cotado a levar o prêmio -, temos de admitir que a maquiagem utilizada no filme era fortemente embasada em próteses, algo bem próximo do que era feito nas séries de TV baseadas no legado de Gene Rodenberry. E - vamos combinar? - o filme alemão "Um Homem Chamado Ove" não fez nada de vultoso nesse quesito para merecer a indicação.
O trabalho de maquiagem e penteado de "A Lenda de Tarzan" merecia a indicação (Divulgação)
Mas por que diabos "A Lenda de Tarzan" não foi indicado? Pinturas e penteados tribais críveis, machucados e cicatrizes que pareciam reais. Não é de se espantar que o azarão ganhe quando não há competidores à altura...

>>> Melhor Figurino: Não é curioso que o único filme de natureza fantástica que concorreu ao prêmio tenha sido justamente o que ganhou? E mais curioso que era um figurino baseado na moda dos anos 1920, nas tradições maçônicas e no visual de muito o que já se viu por aí em outros lugares - até mesmo entre os competidores do mesmo prêmio. Mesmo que não fosse o favorito, "Animais Fantástico e Onde Habitam" ganhou mas talvez fosse diferente se tivesse concorrido com "Warcraft - O Primeiro Encontro entre Dois Mundos".
As belas armaduras de "Warcraft" poderiam, facilmente,
estar entre os concorrentes de Melhor Figurino (Divulgação)
O visual criado para o filme, além de bacana, transportava o espectador àquele novo universo de forma crível, algo raro desde "O Senhor dos Anéis". O trabalho realizado em cada armadura, cada vestido, cada roupa confeccionada, poderia ter sido reconhecido e a concorrência teria sido menos desleal. Mas o filme foi esnobado e isso pode ter se refletido na decisão da Academia...

Melhor Fotografia: Esqueça, por um momento, que você é fã de filmes baseados em histórias em quadrinhos. E lembre que, para um filme te emocionar, primeiro ele precisa te fazer crer no impossível ou no curriqueiro. Dito isto, nada contra "La La Land" ter ganho a premiação mas é estranho não ver "Manchester à Beira-Mar" dentre os concorrentes - uma das melhores coisa desse filme é justamente sua esmerada fotografia. E, claro, "Batman V Superman" não poderia deixar de ser citado nesse quesito...
"Manchester à Beira-Mar" tem um belo trabalho de composição fotográfica (Divulgação)
Enquanto que o trabalho de Jody Lee Lipes leva cada espectador à monotonia e desespero daquela complicada trama  de "Manchester à Beira-Mar", o desenvolvimento visual de "Batman V Superman" - de Larry Fong - criou ângulos que mimetizavam cenas de histórias em quadrinhos. E também as cores e composições pareciam ter sido copiadas de muitos gibis diferentes.
Uma das belas cenas de "Batman V Superman" (Divulgação)
Mas o filme tinha um ódio tão grande de parte do público e crítica quanto "Esquadrão Suicida" que, talvez, os votantes - possivelmente pensando na popularidade do prêmio - preferiram não mexer nesse vespeiro. Ninguém tá dizendo que precisava ganhar - até mesmo quem apostou que "Doutor Estranho" levaria o Oscar de Melhor Efeito Visual se esqueceu que "Mogli" era um concorrente fortíssimo (principalmente que o FILME INTEIRO era um efeito visual e isso deve ser levado em conta).

Bem, essas foram apenas algumas das ausências sentidas nessa que foi a edição do Oscar com menor audiência de todos os tempos. É provável que a audiência atual não se sinta representada pelos filmes que concorrem - geralmente mais adultos e sérios do que os grandes blockbusters - e nem se importem com quem ganhe ou perca. Um prêmio que fará 90 anos de idade em 2018 pode - e deve - se reinventar com indicações que façam mais sentido - Meryl Streep pela VIGÉSIMA VEZ sendo indicada ao prêmio de Melhor Atriz é, no mínimo, para se questionar - para quem haja empatia entre o público.

Kal J. Moon ainda acha que cinema é a maior diversão. Mas atualmente está bem difícil se divertir com produções que parecem estar curtindo com sua cara...