Em minha infância, recebi a visita de um primo mais abastado, em companhia de um tio meu e conversa vai, conversa vem, lá por volta das 16h, ele me disse, meio apreensivo "ligue a TV no canal 11!". Em seguida, explicou que estava passando uma nova série de humor muito boa na rede televisiva do Homem-Sorriso, sobre um garotinho que vivia numa vila... Ligamos a TV mas por conta das conversas dos adultos presentes, não deu para entender bem o que acontecia na história. Mas o primo abastado jurou "jurado jurandinho de mão junta e beijada duas vezes" que a série era boa e que eu deveria ver depois... E, quando assisti, percebi que estava diante de um "novo" clássico da TV - que já era velho mas eu (assim como milhões de brasileiros) não fazia ideia.
A importância dos personagens e situações escritas e encenadas pelo "pequeno Shakespeare" poderiam, facilmente, ser vividas por qualquer pessoa de baixa renda em países distintos - mas como tudo é tratado com leveza e bom humor, acaba se tornando mais palatável do que enveredar pelo drama de uma criança abandonada que vive da caridade de outrem e se esconde num barril de carvalho. E essa mesma "leveza" é o ingrediente principal de "Chespirito - Sem Querer Querendo" - o que é tanto seu maior acerto como também seu calcanhar de Aquiles.
O roteiro escrito por Paulina Gómez Fernández e Roberto Gómez usa espertamente do artifício de ir e voltar no tempo para mapear a vida de Bolaños, tomando por base parte de acontecimentos de sua infância, adolescência, início da vida profissional, consolidação da carreira e atribulações de seus relacionamentos amorosos. Isso faz com que a série possa visitar os momentos mais importantes mas também exige que a audiência monte seu próprio quebra-cabeças narrativo e encaixe as peças conforme são apresentadas.
(em tempo: ambos já declararam que não assistiriam o programa pois sabiam que liberdades seriam tomadas - mas Meza se contradisse quando declarou, recentemente que a criação do personagem Chapolin Colorado não estava correta, de acordo com sua própria vivência com Bolaños)
O destaque do numeroso elenco é mesmo Pablo Cruz - que vive Bolaños na idade adulta -, não somente pela impressionante semelhança física com o biografado mas pela capacidade de transitar bem entre as caracterizações de cada personagem apresentado e equilibrar bem cenas de comédia e drama. Infelizmente, outros membros do elenco tem participação em tela mas sem muita colaboração narrativa. Ele divide parte da ala dramática da série com Paulina Dávila (que interpreta Graciela, esposa de Bolaños). Provavelmente, a personagem feminina melhor desenvolvida, com fortes nuances e densidade, que compartilha, em pé de igualdade, a tela com o protagonista.
Outros nomes do elenco como Juan Lecanda (que interpreta "Marcos Barragán" - a versão da série de Villagrán) ou Bárbara López (que assume o papel de "Margarita Ruiz" - a contraparte de Florinda Meza na trama) tem alguma importância na trama mas o que o roteiro lhes entrega é apenas algo monotônico, de uma nota só. Sempre que vemos Marcos, o personagem está insatisfeito por não ser reconhecido como gênio da comédia ou reclamando por alguma pendência financeira que lhe acha devido ou tentando conseguir contrato com outro canal para um programa-solo do persoangem Quico.
Já Margarita, também age mais como uma "groupie" de Bolaños, que elogia tudo o que faz e qualquer decisão que tome, mas também exige que tome a decisão mais difícil de todas: largar a família e viver com ela - essas cenas e outras que fazem menções à vida pessoal de Bolaños e outras pessoas fazem com que a série se assemelhe bastante ao que é apresentado em novelas mexicanas. E, se por um lado, faz com que as personalidades se tornem um tanto simplistas, por outro faz com que tudo soe como uma grande fofoca - e brasileiro é movido pela fofoca diária, portanto tem grandes chances de agradar o público tupiniquim.
Já Margarita, também age mais como uma "groupie" de Bolaños, que elogia tudo o que faz e qualquer decisão que tome, mas também exige que tome a decisão mais difícil de todas: largar a família e viver com ela - essas cenas e outras que fazem menções à vida pessoal de Bolaños e outras pessoas fazem com que a série se assemelhe bastante ao que é apresentado em novelas mexicanas. E, se por um lado, faz com que as personalidades se tornem um tanto simplistas, por outro faz com que tudo soe como uma grande fofoca - e brasileiro é movido pela fofoca diária, portanto tem grandes chances de agradar o público tupiniquim.
Outros atores guardam bastante semelhança física com seus biografados como Andrea Noli (Angelines Fernández / Bruxa do 71), Miguel Islas (Don Ramón Valdés / Seu Madruga), Paola Montes De Oca (María Antonieta de las Nieves / Chiquinha) e Arturo Barba (Rubén Aguirre / Professor Girafáles), têm um ou outro momento de participação narrativa mas nada muito importante - quase como figurantes com direito a fala.
Nas categorias técnicas, o apuro do figurino criado por Liliana Arreola (da série "Narcos - México") e Brisa A. Esquer (do filme "Violentas Mariposas") é impressionante - não somente por recriar peças de cultuados programas como também de reconstituição de épocas como meados dos anos 1970. A trilha sonora composta por Camilo Froideval (da série "O Babá") passeia bem por momentos de lirismo e doçura ou por fases mais depressivas - além de ter concebido um belo tema de encerramento do programa.
"Chespirito - Sem Querer Querendo" é um programa agradável de se assistir - na maior parte do tempo -, "se faz de tonto" em relação a fatos desconfortáveis das vidas das personalidades abordadas - na maior parte do tempo - "mas agrada a quem olhar" - na maior parte do tempo. ZAZ!
Kal J. Moon se identificava com Chaves na infância mas percebeu que virou o Seu Madruga na vida adulta...
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