CRÍTICA [STREAMING] | "A Noite Sempre Chega", por Marlo George

A britânica Vanessa Kirby, uma das atrizes mais promissoras de Hollywood — com papéis em sucessos como "Quarteto Fantástico" e "Missão: Impossível - Efeito Fallout" —, nos apresenta seu novo trabalho em "A Noite Sempre Chega", filme original Netflix dirigido por Benjamin Caron. Baseado no livro de Willy Vlautin, o longa acompanha Lynette (Kirby), uma jovem que se desdobra em vários empregos e bicos, nem sempre ortodoxos, para conseguir o valor de entrada de uma casa para sua família. No entanto, após uma decisão polêmica de sua mãe, Doreen (Jennifer Jason Leigh), que recusa a ideia de se mudar por conta de traumas do passado, Lynette precisa de U$ 25 mil da noite para o dia, o que a leva a se submeter a situações perigosas e humilhantes.

A trama, escrita por Sarah Conradt, baseada no livro de Willy Vlautin, tem como tema principal o trauma, explorando as dores e sombras de Lynette, Doreen e seu irmão Kenny (Zack Gottsagen). O desespero da protagonista é tão grande que a leva a cometer atos criminosos, revivendo seus próprios traumas a cada humilhação. Cada pessoa que ela confronta, cada humilhação que sofre, resgata memórias de um passado que a moldou. O desespero a leva a agir de forma criminosa, validando a máxima "a ocasião faz o ladrão", mas essa urgência criminosa é um sintoma, não a causa. É o peso do passado que a leva a essas escolhas extremas.

Infelizmente, o roteiro escorrega em alguns pontos, principalmente em cenas que beiram o inverossímil. Lynette se envolve em situações de alto risco com figuras marginais, mas consegue sair ilesa, com apenas alguns arranhões, algo que seria fatal na vida real. Essa falta de credibilidade enfraquece a tensão da narrativa, tornando o drama menos impactante do que poderia ser.

Apesar dos problemas do roteiro, o filme acerta em outros aspectos. Vanessa Kirby entrega uma performance intensa e expressiva, comprovando por que é um dos nomes mais requisitados da atualidade. O destaque vai também para Jennifer Jason Leigh, que surpreende com uma atuação cheia de verdade como a irresponsável Doreen. Já o ator Zack Gottsagen defende bem o personagem de Kenny, mas sua participação acaba se limitando a ser um obstáculo para Lynette. A direção de Benjamin Caron é coesa, e o filme se beneficia da excelente trilha sonora de Adam Janota Bzowski, da fotografia marcante de Damián García e da edição impecável de Yan Miles.

A obra de Caron guarda algumas semelhanças com o filme "Dois Dias, Uma Noite", estrelado por Marion Cotillard, tanto pela situação desesperadora das protagonistas quanto pela escolha de figurino. No entanto, enquanto o filme com Cotillard tem um final comovente e emocionante, "A Noite Sempre Chega" termina de forma insossa e preguiçosa, o que diminui a força de toda a jornada. Em suma, o filme é uma experiência intensa, mas que não atinge seu potencial máximo devido a um roteiro problemático, que não desenvolve bem as situações e se contenta com uma conclusão anticlimática.

Marlo George assistiu, escreveu e já se viu em situações extremas

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