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CRÍTICA [STREAMING] | "Red Sonja", por Marlo George

Uma nova era para a "Espada-Diaba" chegou com um prenúncio sombrio. Em 15 de agosto de 2025, Red Sonja, a icônica guerreira do universo de Conan, fez sua estreia nos cinemas de forma discreta e, dias depois, já estava disponível nas plataformas digitais. Esse lançamento atípico, 40 anos após Guerreiros de Fogo (estrelado por Brigitte Nielsen e Arnold Schwarzenegger), já sinalizava o que viria a ser um fiasco monumental.


O longa dirigido por M.J. Bassett é apenas a ponta do iceberg de uma produção caótica e cheia de reviravoltas. A longa e conturbada jornada para trazer a guerreira de volta às telas resultou em um filme visivelmente prejudicado, cujas falhas são tão profundas quanto as origens de seu próprio desenvolvimento. Para entender o resultado final, é preciso mergulhar na saga por trás das câmeras.


A Nova, Longa e Conturbada Saga da Espada-Diaba

A primeira tentativa de trazer a guerreira ruiva de volta às telonas foi anunciada em 2008, quando o diretor Robert Rodriguez revelou, na San Diego Comic-Con, que faria um filme com sua então namorada, a atriz Rose McGowan, no papel principal. No entanto, o projeto não avançou, e os fãs ficaram apenas com algumas imagens conceituais do que poderia ter sido. Anos depois, em 2015, a produtora Millennium Films anunciou que Christopher Cosmos estava desenvolvendo um novo roteiro para o filme, reiniciando o projeto do zero. A essa altura, não havia atores ou diretores envolvidos, e o sonho de ver McGowan como Sonja se esvaiu de vez.

Em maio de 2021, o projeto ganhou um novo fôlego com o anúncio de que a atriz Hannah John-Kamen (conhecida por seu papel como a vilã Fantasma em "Homem-Formiga e a Vespa") seria a protagonista. O filme teria roteiro e direção de Joel Soloway, que, em um comunicado oficial, elogiou as habilidades da atriz, sua sensibilidade e sua força, afirmando que ela era a escolha perfeita para o papel. Tasha Huo, showrunner da série animada de Tomb Raider da Netflix, foi confirmada como co-roteirista. Ainda em junho do mesmo ano, a atriz Jaimie Alexander, a Lady Sif de "Thor", publicou uma foto do roteiro de "Red Sonja" em seu Instagram, alimentando rumores de que ela teria um papel importante na produção, mas essa informação nunca foi oficialmente confirmada.

A produção, no entanto, continuou conturbada. Em março de 2022, veio a notícia de que tanto Hannah John-Kamen quanto o diretor Joey Soloway haviam deixado o projeto. M.J. Bassett, que já tinha experiência com a obra de Robert E. Howard por ter dirigido "Solomon Kane" (2009), foi cotado para assumir a direção, e a busca por uma nova protagonista começou. O novo perfil buscado era de uma atriz alta, que pudesse realizar suas próprias cenas de luta. Com a saída de Soloway, Tasha Huo assumiu o roteiro sozinha. Finalmente, em agosto de 2022, a busca chegou ao fim: a atriz Matilda Lutz foi anunciada como a nova Red Sonja.


Reescrita e Descaracterização: Uma Nova Sonja, Esvaziada

Matilda Lutz revelou, em uma entrevista concedida durante a SXSW 2024, que o filme traria uma nova perspectiva para a personagem, distanciando-se do material original. Segundo ela, a adaptação seria "completamente diferente" e menos focada no olhar masculino, em contraste com a versão de 1985 e os quadrinhos de Roy Thomas e Barry Windsor-Smith. A atriz confirmou que o icônico biquíni de metal estaria presente, mas de uma forma menos reveladora e com um propósito diferente na história. E, de fato, o filme que acaba de ser disponibilizado digitalmente ao público difere radicalmente do material de origem, deturpando a história, personagens e quase tudo que se conhece da guerreira de Hyrkania.


A roteirista Tasha Huo optou por subverter as origens de Sonja, sacrificando a rica complexidade da personagem dos quadrinhos. A camponesa órfã da Era Hiboriana, que fez um juramento de castidade à deusa Scathach em troca de extraordinárias habilidades de combate e magia após sofrer abusos físicos e sexuais, é reduzida a uma busca genérica por seu povo. Para piorar, o voto de celibato é ridicularmente transferido para o personagem masculino Osin, o que esvazia a profundidade da protagonista.

O resultado é uma Sonja que não se parece com nenhuma de suas encarnações anteriores. Ela não é a nobre espadachim do século XVI de Robert E. Howard, nem a heroína do filme "Guerreiros de Fogo". A personagem se tornou uma completa desconhecida, uma criação que apenas lembra, mas que não se conecta a nenhuma das versões que os fãs conhecem e amam.


Além de reescrever a personagem, o roteiro também subverte a própria mitologia de Conan, criada por Howard e, posteriormente, expandida pelos quadrinhos da Marvel Comics, referenciando o herói como "Rei da Ciméria", quando, na verdade, os cimérios, de acordo com o Cânone, são povos tribais. Conan foi rei da Aquilônia.

A narrativa linear, com poucos flashbacks, é uma oportunidade perdida de explorar a trágica juventude de Sonja de forma mais criativa, talvez com narrações, como vimos em Conan: O Bárbaro, que contassem sobre as experiências violentas da guerreira.

Ao tentar criar uma Red Sonja "completamente diferente", a roteirista jogou fora tudo o que a tornou um ícone. O distanciamento do material original e a reescrita de sua mitologia não resultaram em uma nova perspectiva, mas sim em uma deturpação completa da personagem. O filme falha em respeitar tanto a profundidade da Sonja dos quadrinhos quanto a autenticidade da "Espada-Diaba" criada por Howard, entregando ao público uma história genérica e sem alma que, ironicamente, acaba reforçando a dependência de um olhar masculino para a sua própria existência. No final, a nova Red Sonja se torna a prova de que nem toda modernização é sinônimo de melhoria.


Atuações: Brilho Isolado em um Mar de Frustração

Matilda Lutz se entrega de corpo e alma à protagonista Sonja, mas nem mesmo seu esforço e comprometimento conseguem salvar um roteiro tão fraco. Apesar de sua interpretação ser o ponto alto do filme, ela não é suficiente para elevar o resultado final.


Em um contraste decepcionante, Robert Sheehan entrega uma performance caricata como o vilão Draygan. Seu trabalho, longe de ser ameaçador, resulta em um personagem infantil e frágil. Sheehan não consegue imprimir a autoridade necessária para convencer como um líder que impõe respeito sobre seus súditos, tornando o antagonista insípido.

Wallis Day, conhecida por seus papéis em produções da DC, tenta extrair o máximo de sua personagem, Annisia, mas a falta de química com Sheehan prejudica a dupla. A interação entre eles parece forçada, resultando em um par amoroso genérico e sem graça.


Outro ponto que desaponta é a atuação de Luca Pasqualino no papel de Osin. O personagem, uma figura importante nos quadrinhos, é subaproveitado pelo roteiro. A versão do filme parece emasculada e não faz jus à sua contraparte original, ficando apagada na tela.

Em papéis coadjuvantes, Rhona Mitra e Veronica Ferres, como Petra e Asherah, respectivamente, cumprem bem seus papéis e entregam atuações sólidas, mas que, infelizmente, não são suficientes para salvar o filme da irrelevância.


Um Fim Pífio para uma Jornada Conturbada

A produção, com um orçamento visivelmente limitado, poderia ter se inspirado na estética dos clássicos dos anos 80, Conan: O Bárbaro e Conan: O Destruidor, que usavam figurinos rústicos de couro e tecidos baratos de forma convincente. No entanto, o novo filme traz figurinos com aparência moderna, desenhados por Alison McCosh (de X-Men Origens: Wolverine), com costuras feitas à máquina e a inclusão de um shortinho de lycra sob a armadura de Sonja para evitar a exposição da atriz. A única peça que se salva é o icônico biquíni de metal, citado acima por Lutz, que, no entanto, aparece muito pouco e serve apenas para incrementar o discurso político progressista do filme.

A maquiagem do filme, embora em alguns momentos tente criar uma estética fantástica, acaba falhando na sua execução. Vários atores, especialmente aqueles com próteses mais elaboradas, parecem visivelmente desconfortáveis e limitados em sua atuação. Essa falta de naturalidade, que deveria servir para enriquecer o mundo da "Espada-Diaba", ironicamente prejudica a imersão, deixando a impressão de que o elenco está lutando mais contra as próteses do que com os próprios oponentes em cena.


A direção de arte de Red Sonja, tocada por Emil Gigov (Mente Criminosa) e Ivan Ranghelov (Conan: O Bárbaro, a versão de 2011), também merece críticas. A ambientação, que deveria evocar um mundo de fantasia épica, falha em sua execução, com cenários e adereços cenográficos que transmitem uma pobreza visual notável. As armas, cruciais para um filme do gênero, são um exemplo gritante desse problema: em vez de parecerem ferramentas de guerra brutais, os artefatos de combate se assemelham a réplicas de plástico de uma fábrica de brinquedos baratos, minando qualquer senso de perigo ou realismo nas sequências de luta.

"Red Sonja" peca em efeitos visuais e práticos, além das coreografias de luta, que deixam a desejar. O único ponto positivo é a trilha sonora de Sonya Belousova e Giona Ostinelli, que é sublime. As canções hiborianas compostas para o filme são lindas, genuínas e belamente interpretadas. Tão singelas que o "momento musical" do filme é, quiçá, uma das melhores partes da atração. Realmente emocionante.

A falta de criatividade da diretora M.J. Bassett resulta em um filme que pouco faz jus ao legado de Robert E. Howard ou dos quadrinhos da heroína. Bassett desperdiçou a oportunidade de usar a criatividade para contornar problemas de orçamento, buscando soluções práticas ou mais baratas.

Além de falhar em honrar o legado de Howard, o filme também perde a oportunidade de prestar um tributo digno a Guerreiros de Fogo, de 1985. Embora o original seja frequentemente criticado, ele tinha um charme inegável. Esta nova versão, com suas "modernidades" e falta de alma, não consegue replicar essa essência, reforçando a crença dos fãs de que ainda não houve uma adaptação à altura das obras de Howard desde 1982.



Marlo George assistiu, escreveu e acha que tanga de metal assa a virilha. NUNCA MAIS!

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