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CRÍTICA [STREAMING] | "Wandinha" (Temporada 2), por Kal J. Moon

Com direção e produção executiva do cultuado cineasta Tim Burton - com a dupla Al Gough & Miles Millar atuando como cocriadores e showrunners -, estrelado por nomes como Jenna Ortega, Catherine Zeta-Jones, Luis Guzmán, Isaac Ordonez, Emma Myers, Gwendoline Christie, Hunter Doohan, Joy Sunday e Luyanda Unati Lewis-Nyawo, que dão boas vindas a nomes como Steve Buscemi, Billie Piper, Evie Templeton, Owen Painter e Noah Taylor, além de contar com participações especiais de nomes como Christopher Lloyd, Haley Joel Osment, Thandiwe Newton, Joanna Lumley, Frances O’Connor, Heather Matarazzo, Fred Armisen, Joonas SuotamoLady Gaga, a segunda temporada da série "Wandinha" se estabelece como um bom entretenimento juvenil - ainda que sofra bastante de influências de outro bem conhecido produto midiático da cultura POP.


Copie como um artista
"O que aconteceria se a saga de Harry Potter fosse estrelada por Hermione Granger em vez de 'o menino que sobreviveu'?". Essa, talvez, seja a pergunta que pululou a mente de quem não curte - ou apenas tolera - a criação máxima de J.K. Rowling. E talvez esse tenha sido o ponto de partida criativo para a sala de roteiro da segunda temporada da série "Wandinha", dadas as inegáveis semelhanças entre o spin-off de "A Família Addams" e as desventuras do cultuado bruxinho.

Na trama da segunda temporada, Wandinha recebe na escola um novo membro da família Addams: seu irmão mais novo, Pugsley (ou "Feioso"), que inicia sua própria jornada na Escola Nunca Mais - e já arranja confusão ao investigar uma lenda do local. Seus pais, Morticia e Gomez Addams, também terão uma presença maior no campus e contarão com a ajuda do misterioso novo diretor. Além disso, Mortícia terá de lidar com a visita de seu maior pesadelo: Hester "Vovó" Frump, mais conhecida como sua própria mãe. E, claro, Tyler - o crush-monstro de Wandinha - está de volta. Mas mais alguém está de olho na filha dos Addams, que sabe mais sobre a vida dela do que ela própria gostaria... E, pra piorar, Wandinha tem uma visão em que sua colega de quarto morre e a culpa recai sobre a única filha da família Addams. Agora, tem que fazer de tudo para impedir isso de acontecer. Mas, enquanto investiga, perde seus poderes premonitórios... E agora?!


Com uma primeira temporada beirando a perfeição - uma vez que, convenhamos, não existe produto audiovisual perfeito -, a expectativa por uma nova aventura da filha do casal Addams era, no mínimo, que fosse tão boa quanto o que foi apresentado anteriormente. E, se na primeira temporada, a apresentação fosse um tanto mais simples - ainda que um tanto mais rebuscada do que a grande maioria dos produtos audiovisuais voltados para o público mais jovens (em idade física ou mental) -, agora o que se vê é uma trama bem mais elabora e com diversos elementos que, para os menos atentos, pode até confundir ou desviar o foco.

Não que essa investida seja, necessariamente, "ruim" ou que afaste o público. Porém, se na primeira temporada, a inspiração era, claramente, no legado literário de Edgar Allan Poe (1809-1849), o que se apresenta nesta segunda temporada é visual, textual e conceitualmente baseado no que J.K. Rowling criou para a saga literária de Harry Potter - e seus derivados. Diversos personagens, situações e ideia parece ter sido executada seguido bem de perto o que uma das inglesas mais ricas do mundo já executou desde o final dos anos 1990 - mas, enquanto que lá havia um verniz mais "clássico" em matéria de entretenimento infanto-juvenil, aqui há um quê de modernidade que espelha o tempo em que a obra audiovisual foi escrita e encenada. E, vale lembrar, "A Família Addams" surgiu como uma criação do cartunista Charles Addams (1912-1988) pela primeira vez em 1938 tiras de quadrinhos de jornal - então, quem influenciou quem? Pois é.

Entretanto, mesmo com as diversas comparações - como, por exemplo, a personagem Agnes Demille (inicalmente uma bully que se torna a maior fã de Wandinha Addams, tornando-se uma aliada nas investigações na Escola Nunca Mais e até chegando ao ponto de emular o visual de nossa heroína que detesta sorrir), que é, conceitualmente, uma cópia de Colin Creevey (um fã de Harry Potter que sempre tirava fotografias do bruxinho em Hogwarts por conta de sua fama e, sempre que possível, aparecia para fazer milhões de perguntas curiosas - e que se tornou um aliado, com o passar do tempo, nas investigações do "trio de ouro") ou chamarem os alunos da Escola Nunca Mais de "excluídos" (por conta de seus poderes especiais) e pessoas normais de "padrão" (da mesma forma que "bruxos" e "trouxas" no universo potteriano) -, a principal diferença entre as obras é que... a maioria dos personagens tem objetivos e propostas diferentes. E essa é a sacada de mestre pois traz mais dinamismo à narrativa, sendo mais atraente ao público atual.


Wandinha (a personagem) não é uma versão feminina de Harry Potter ou Hermione - tá mais para uma filha de Sherlock Holmes com Agatha Marple (e algum parentesco entre Sr. Spock e John Smith). A licantropa Enid não se parece nem um pouco com Ron Weasley - se for para fazer paralelos, estaria mais para Rita Skeeter, com bastante glitter em cima, sendo mais uma versão "solar" de Wandinha - e nem os vilões da trama (sim, tem pelo menos uns três dessa feita) tem qualquer simetria com outro personagem da saga potteriana...

Sobre a condução da trama da segunda temporada de "Wandinha", há elementos demais para se prestar atenção - talvez uma boa enxugada na narrativa, tirando alguns trechos que, definitivamente, não levam a trama adiante, pudesse fazer a nova aventura ser tão enxuta quando a desventura anterior. Porém, se há um elogio a se fazer em relação à nova empreitada, é o aprofundamento de cada personagem - alguns mais do que outros, é verdade, mas, ainda assim, algo raro neste tipo de programa.

Veteranos em matéria de adaptações - como "Smallville" ou "Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice" -, Al Gough & Miles Millar mostram a que veio e, mesmo com a responsabilidade de ao menos igualar a experiência anterior, trazem elementos tão ou mais marcantes, fazendo com que, ao final da jornada, queira-se mais desse novo mas estranhamente familiar mundinho de fantasia e levando algo minimamente inteligente à sua audiência, apresentando escritores clássicos a toda uma nova geração e intrincados enigmas narrativos - como QUEM era Mãozinha antes de ser, bem, Mãozinha ou o que acontece quando um zumbi come cérebros o suficiente? -, fazendo com que haja algum esforço por parte do público para acompanhar a trama.


Embora o grande destaque da obra seja, mais uma vez, a entrega de Jenna Ortega - que já havia chamado a atenção por sua performance em "The Fallout - A Vida Depois") - como Wandinha por conta não somente de sua entrega com uma personagem que, em outras mãos, soaria monotemática ou até mesmo caricata, outros membros do numeroso elenco têm seu momento de brilhar, como é o caso de Evie Templeton (que participou brevemente do recente "Pinóquio", agora em seu primeiro grande papel) como a já citada perturbadora ruivinha Agnes Demille. E, perceber que seu texto nem é lá essas coisas em matéria de conteúdo, sua composição faz total diferença, transitando bem entre o quase caricatural e o minimamente bizarro.

O restante do elenco também funciona muito bem por conta, justamente, de um só nome: Tim Burton. O veterano diretor parece bem à vontade neste ecossistema feérico, em que as leis da realidade podem ser sobrepostas - ainda que não muito -, trazendo perfeito equilíbrio entre o surreal e o ordinário. Quanto às muitas participações especiais, talvez o óbvio destaque vá mesmo para Lady Gaga (do recente filme "Coringa - Delírio a Dois")- que tem até uma canção inédita num momento chave da trama -, que adequa bem sua performance àquela atmosfera, abraçando-a como quem precisa de um salva-vidas em meio a uma turbulenta tempestade - além de Fred Armisen (do filme "A Batalha do Biscoito Pop-Tart"), o novo intérprete de Tio Chico, que traz a deliciosa loucura controlada do irmão Addams  mais velho e o gratificante retorno de Gwendoline Christie (da série "The Sandman"), com sua contida peculiaridade - talvez a morte de sua personagem tenha sido o maior lamento da primeira temporada.


A trilha sonora também chama bastante tenção por suas diferenciadas (e belíssimas) versões instrumentais de clássicos do rock como "Don’t Fear The Reaper" (Blue Oyster Cult), "Zombie" (The Cranberries), "Losing My Religion" (R.E.M.), "Nothing Else Matters" (Metallica) ou mesmo a versão a cappella de "Bad Moon Rising" (Creedence Clearwater Revival), entoada por parte do elenco em volta de uma fogueira, claro - dentre trechos de músicas eruditas quando Wandinha ataca de tocar cello (qual Holmes tocava violino para alinhar seus pensamentos).

Um detalhe mudou bastante em relação ao visual da transformação da personagem Enid em licantropa - algo que foi muito mal realizado na primeira temporada, aqui há um refinamento digno de nota. O mesmo não pode ser dito dos monstros hydes - que já eram ruins anteriormente e continuam dessa forma.


A segunda temporada de "Wandinha" é uma peça de entretenimento acima da média, mantém interesse, adiciona diversos elementos para aguçar a curiosidade da audiência e investe em trama multifacetada para que seu público não desvie a atenção - ainda que seja uma estratégia um tanto cansativa num primeiro momento - uma vez que o mistério da vez não é mais interessante do que a jornada em si. Definitivamente, é um produto audiovisual que merece ao menos uma conferida. A vindoura série de "Harry Potter" vai ter que conjurar um dobrado para não parecer cópia de "Wandinha" quando estrear em algum momento de 2027. A criatura, quem diria, sobrepujou o criador...




Kal J. Moon odeia puxa-saco, não gosta de zumbis e sempre desconfia de mulheres ruivas...


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