Dirigido por Paul Thomas Anderson, estrelado por Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Teyana Taylor, Chase Infiniti, Tony Goldwyn, Benicio Del Toro, Regina Hall e Alana Haim - dentre MUITOS outros -, o filme “Uma Batalha Após A Outra” bate em todo mundo para contar uma curiosa história sobre ser pai e outras missões revolucionárias...
A jornada do(s) pai(s) herói(s)
Paul Thomas Anderson é um grande observador do seu tempo e quando se trata de narrativas cinematográficas, geralmente entrega um trabalho que beira a excelência - seja pelos temas abordados, personagens idiossincráticos ou simplesmente por uma boa experiência da sétima arte. Com “Uma Batalha Após A Outra”, não podia ser diferente - ainda mais quando trata dos confusos tempos atuais...
Na trama, quando um adversário ressurge após 16 anos, um grupo de ex-revolucionários se reúne para resgatar a filha de um dos seus.
O roteiro do próprio Anderson - livremente adaptando o livro "Vineland", de Thomas Pynchon (mesmo autor que inspirou "Vício Inerente", outro filme do diretor) explora os extremos das ideologias e como ambos os lados - qualquer um deles - a implementam. Mesmo baseado num livro dos anos 1990, o texto é bem atual, com críticas tanto para o que se convencionou chamar de “esquerda radical” assim como o espectro político atualmente considerado como “extrema-direita” - e de uma forma mais equilibrada e didática que o recente “Guerra Civil”.
A direção de Anderson é o que realmente chama a atenção. Sua visão não está somente comprometida em atualizar o discurso do texto original como torná-lo “palatável” às novas gerações - é, talvez, o filme mais acessível do cineasta e, certamente, a obra com mais momentos bem humorados de sua carreira, com cenas para se gargalhar alto, dado o ridículo de cada situação abordada.
Os personagens refletem suas ideologias e também são ridicularizados à medida que a trama se desenvolve. Desde o jovem revolucionário que abandona a luta para cuidar de sua filha até o milico supremacista branco de andar desajeitado mas que tem fetiche por mulheres negras - e, olha só, até admira parte da luta do “inimigo”, qual uma contradição ambulante. Mas, independente do tom de humor do filme, não se trata de uma comédia mas, talvez, de uma elaborada sátira sociopolítica, só que mais acessível que a maioria das panfletagens políticas que vemos por aí pois faz as perguntas certas - além de explorar bem o tema da paternidade (pai é quem cria ou quem concebeu?)...
O elenco está todo funcional mas o destaque supremo é todo de Sean Penn (vencedor do Oscar por "Sobre Meninos e Lobos" e "Milk - A Voz da Igualdade" e fez uma aparição em "Licorice Pizza") - provavelmente o papel de maior entrega em toda sua carreira. Costumam dizer que um ator, quando interpreta um bom personagem, fica irreconhecível. Aqui, Penn simplesmente transformou-se noutra pessoa - e não tem nada a ver com visual, é só uma senhora aula de composição, entrega e performance.
A voz é estranha, o andar é diferente e até a postura é peculiar - além de, segundo o roteiro, ser uma contradição ambulante, pois defende o achaque aos grupos revolucionários mas se apaixonou por uma integrante (e o fato dela ser afro-americana complicam ainda mais seu status quo perante o grupo ao qual quer se juntar).
Seus diálogos travados com a personagem de Chase Infiniti são carregados de um misto de confusão, admiração e algum orgulho, pois está diante de um problema que sabe que precisa resolver mas, lá no fundo, talvez não queira - no fim das contas, seu personagem só quer ser amado, só não sabe bem como expressar (a audiência tem repulsa e um pouco de pena por ele). Certamente, terá reconhecimento nas premiações - e, talvez a aposta mais óbvia para o Oscar de Melhor Ator.
Leonardo DiCaprio (vencedor do Oscar por "O Regresso" e esteve no recente - e ótimo! - "Assassinos da Lua das Flores") está bem como o revolucionário de meia-idade que precisa voltar à guerrilha para salvar a filha - mas, por conta de abuso de substâncias ilícitas, tropeça pelo caminho e faz o que pode... Mas, em comparação ao personagem de Penn, talvez apareça menos do que devesse. Mas, quando o faz, entrega momentos genuínos de desespero e comicidade, ora textual e ora física. É uma boa composição de personagem mas um tanto ofuscada pela falta de exposição. Ainda que tenha (muita) importância na trama, é o herói relutante e tido como incapaz mas que fará todo o necessário para cumprir a missão mais importante de sua vida - salvar sua filha.
A cantora e atriz Teyana Taylor (do filme "Até a Última Gota") entrega uma personagem com poucas nuances interpretativas - é a guerrilheira "p0rra louca" que, em dado momento, precisa tomar uma decisão da qual se arrepende. Mas o faz não somente com muita energia mas também com bastante voluptuosidade. Chase Infiniti (da recente série "Acima de Qualquer Suspeita", em sua estreia no cinema) está correta como a filha do casal revolucionário - ou terrorista? - mas tem bem pouco a desenvolver em matéria de dramaturgia. Mas, mesmo assim, o faz com exatidão e astúcia, conferindo à personagem a inteligência que não provém do texto.
Benicio Del Toro, Regina Hall e Alana Haim estão lá apenas para participações especiais. Del Toro (vencedor do Oscar por "Traffic" e esteve no filme "O Esquema Fenício") se entrega à quase galhofa com seu sensei latino de artes marciais, sempre calmo e risonho, manipulando as circunstâncias para alcançar o melhor resultado - e, se não der certo, tem sempre um plano B. A cena em que é parado pela polícia para identificar se está bêbado é hilária - e demonstra que, apesar de ajudar o personagem de DiCaprio, o faz mais pelo "bem maior" do que por respeito a seu passado. Já Hall (mais conhecida a escandalosa Brenda da saga cômica "Todo Mundo em Pânico", num raro papel dramático) e Haim (que coprotagonizou "Licorice Pizza") são ferramentas importantes para levar a trama adiante mas suas cenas são bem diminutas, com uma ajuda aqui, um conselho ali e saem de cena.
A direção de fotografia de Michael Bauman (que já trabalhou com o diretor em "Licorice Pizza" e, recentemente, esteve na minissérie "Monstro - A História de Ed Gein") é perfeita no sentido de contar a história de forma criativa imageticamente falando, com boas transições e fazendo bom uso de chiaroscuro quando necessário - além de conferir aquele tom urgente de filmes da década de 1970.
A trilha sonora composta por Jonny Greenwood (indicado ao Oscar por "Trama Fantasma" - também dirigido por Anderson - e "Ataque dos Cães") é funcional, traz uma urgência necessária à trama mas não se destaca de outras composições melhores apresentadas em 2025.
E o que dizer da sensacional edição de som desse filme? Existem alguns momentos com explosões e colisões de veículos que são de pular da poltrona, tamanha a imersão da audiência. Jeremy Molod (também de "Licorice Pizza" e do recente filme "O Assassino") trabalha com uma precisão invejável para filmes do gênero - em que, geralmente, esse tipo de trabalho não se destaca - repare na cena de uma explosão numa porta.
“Uma Batalha Após A Outra” tem uma história bem contada - apesar que um corte de pelo menos uns 30 minutos fariam um bem enorme a essa narrativa, excluindo algumas repetições (como a piada alongada sobre a "burocracia" da "senha") -, momentos memoráveis, bastante humor e uma mensagem importantíssima, que procura traduzir para a maioria o que somente uma minoria acha que sabe.
Não, não é o filme do ano, como propagam por aí - povo carente feito o personagem interpretado por Sean Penn -, mas tem o que dizer e o diz em alto e bom tom (no fim das contas, é sobre amor - ou a falta dele). Que bom que os heróis mostrados nessa curiosa trama não precisam usar malha colante e nem tem super poderes...
Kal J. Moon é pai e faria tudo para salvar sua filha - do que quer que fosse...
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