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CRÍTICA [CINEMA] | "Meu Pior Vizinho", por Kal J. Moon

Dirigido por Lee Woo-chul, estrelado por nomes como Lee Ji-hoon, Han Seung-yeon, Go Gyu-pil, Jeong Ae-yeon e Im Kang-sung - dentre outros -, o filme "Meu Pior Vizinho" - que estreia em 13/11/2025 com distribuição Sato Company - traz uma visão bem idílica do romance em tempos de hiper conectividade.


Nunca te vi...
"Há um muro de concreto entre nossos lábios / Há um muro de Berlim dentro de mim", já dizia a letra de "Alívio Imediato", canção composta pelo poeta gaúcho Humberto Gessinger - e que, curiosamente, casa bem com o tema dessa curiosa adaptação coreana de uma história que poderia, facilmente, se passar em qualquer lugar do mundo.

O roteiro de Park So-hee, Kim Ho-jung e do próprio diretor livremente adapta o filme francês "Um Amor Inesperado" (de Clovis Cornillac, 2015) - texto que também foi adaptado posteriormente em "Uma Parede Entre Nós" (de Patricia Font, 2024) - e transfere todas as neuras de um improvável casal aos k-dramas tão populares e às próprias tradições da dramaturgia (e modo de vida) coreana.


Na trama, um músico sonhador se muda para um novo apartamento e, logo na primeira noite, ouve o que parece ser o choro de um fantasma do outro lado da parede. A “assombração”, porém, é na verdade sua vizinha, uma designer reclusa que trabalha de casa e conhecida por afastar moradores com o barulho de suas ferramentas e crises emocionais. Ambos iniciam uma convivência conturbada cheia de ruídos, curiosidade e, inesperadamente, algo mais.

À primeira instância, chama a atenção os exageros de todos os nomes do elenco - principalmente para quem não está acostumado com k-dramas (como este escriba), como se fossem personagens de desenhos animados - ou de uma série infanto-juvenil da Nickelodeon ou Disney Channel -, com situações que dificilmente ocorreriam na vida real, mesmo que o propósito seja a comédia. Porém, superado esse incômodo inicial, a trama se sustenta mais pela dinâmica do roteiro, com um primeiro embate - que não se justifica, como no original - para uma amizade que, invariavelmente, se transforma em cumplicidade.


É a volta do amor romântico per se, apenas uma longa conversa e divisão de frustrações que pode remeter, por exemplo, à "A Culpa É das Estrelas" (o livro de John Green, não o filme), em que os personagens passam muito tempo falando ao telefone, sem se ver pessoalmente, "numa dimensão só nossa" e, quando menos se espera, já estão apaixonados. Por este prisma, apesar do casal funcionar, não existe a presença física, o que torna o exercício de imaginação - dos personagens e do roteiro - mais interessante do ponto de vista da criatividade.

E, por se tratar de uma produção coreana, não existe beijo apaixonado aqui ou demonstrações físicas explícitas de afeto. A declaração de amor, por exemplo, acontece sem a presença da cara-metade. Por um lado, isso pode frustrar a quem estiver acostumado às batidas fórmulas das comédias românticas de Hollywood. Mas, por outro ponto de vista, há bastante espaço para desenvolvimento de personagens - tanto os protagonistas quanto coadjuvantes -, desempenhando um bom entretenimento, no final das contas. Interessante a trama não se focar somente no relacionamento dos protagonistas mas também em seus objetivos de vida, mostrando que são mais do que duas pessoas que se gostam...


O roteiro tem uns probleminhas como os personagens nem sequer cogitarem trocar mensagem de forma digital ou o problema jurídico da protagonista, que seria facilmente resolvido por sua própria advogada se tivesse a oportunidade de examinar os documentos da proposta escusa de seu ex-chefe. Além disso, não se menciona como o protagonista - que está desempregado - faz para se sustentar e pagar o aluguel do novo apartamento para o qual acabou de se mudar. Isso sem contar a profusão de personagens indo e vindo, sem realmente muito a acrescentar na trama. Nada que realmente atrapalhe o entretenimento mas...

Do elenco, a dupla de protagonistas Lee Ji-hoon & Han Seung-yeon se sai bem e garante o interesse com suas personagens. Dentre os coadjuvantes, o maior destaque - inclusive beneficiado pelas melhores falas do roteiro - é mesmo Go Gyu-pil, que interpreta bem aquele amigo fora do peso ideal, que é um tanto maltratado pelos companheiros mas não liga, entregando, de vez em quando, palavras de sabedoria. Infelizmente, Jeong Ae-yeon tem pouco tempo de tela - e bem pouco a desenvolver como a preocupada irmã da protagonista. Já Im Kang-sung mais parece vilão de série voltada para adolescentes - inclusive protagonizando um momento de escatologia que, se devidamente equalizado o timing cômico, poderia até funcionar melhor. 


Apesar de ser uma produção de custo bem limitado - poucas externas e basicamente dois cenários fixos -, a direção de fotografia de Kong Pyeong-Jae é criativa ao usar a "divisão" (física e moral) dos protagonistas em diversas sequências e até uma leve "picância" na esperta edição de Han Eon-Jae que simula uma relação carnal que, na verdade, é apenas uma justaposição de inocente momentos dos personagens. Outro destaque técnico bem importante é a edição de som, que divide bem os barulhos apresentados na parte esquerda da tela à esquerda do público - assim como à direita -, tornando a imersão da audiência completa, como se estivesse in loco, participando do filme. A trilha sonora composta por Kim Tae-hoon também é leve, adequada à proposta.

"Meu Pior Vizinho" é uma interessante adaptação que não ofende a inteligência de seu público e funciona bem como diversão escapista para dias em que não se quer pensar nos problemas cotidianos. Às vezes, é apenas de filmes mais simples como esses que o cinema precisa...




Kal J. Moon sabe exatamente como o amigo fora do peso ideal se sentia...

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