É muito difícil escrever sobre algo que amamos. Principalmente quando se trata de um amor antigo. Afinal, tendemos a parcialidade e isso não é, digamos, conveniente. Assim sendo tentarei ser o mais imparcial, dentro do possível.
Quando cheguei hoje no Top Shopping (que fica localizado na cidade de Nova Iguaçu) achei que iria encontrar o local sendo habitado, ou melhor dizendo, invadido por magos, elfos, anões entre outras criaturas mágicas. Que decepção. Haviam pouquíssimas pessoas no lugar que ali estavam para assistir à O Hobbit - Uma Jornada Inesperada, apesar da fila do cinema estar enorme. Cara, é o dia da estreia do filme do ano (começaram os excessos), primeira sessão e a galera estava comprando ingresso pra assistir ao filme Amanhecer Parte II.
Em que mundo nós estamos?
Comprei meu ingresso com antecedência e nem teria sido preciso. Na sala, assim que eu e o Andreas (vocês irão conhecê-lo em breve), sentamos na poltrona verificamos que haviam não mais que 20 pessoas pra assistir o filme. De certo modo isso foi bom, pois o assistimos sem aqueles chatos gritando bobagens, rindo em momentos inapropriados (ou melhor dizendo, em momentos sem a menor graça) ou atendendo celular.
Bem, deixemos essa parte triste de lado e vamos pro que interessa.
(Alerta de spoilers)
O filme começa com Bilbo devaneando sob o fato de não ter contado toda sua aventura para o seu sobrinho Frodo. É o dia do aniversário de Bilbo e Frodo, o mesmo dia daquela festa que vemos em A Sociedade do Anel, quando Bilbo desaparece diante de todo o Condado. Achei que foi uma maneira bem apropriada para fazer uma ligação com a "trilogia" anterior.
Se em A Sociedade do Anel, Galadriel nos conta um pouco sobre os acontecimentos que levaram à queda de Sauron e ao achado do Um Anel, neste é de Bilbo a tarefa de situar o espectador na história. Ele conta sobre a derrota dos anões e da tomada de seu reino por um dragão chamado Smaug, numa sucessão de cenas que fazem valer cada centavo do ingresso. O esplendor do reino de Erebor, a soberba da raça anã, a beleza da Cidade Lago e até mesmo o alce do Thandruil são retratados de forma consistente com o material mais antigo integrando ainda mais essa nova produção com aquela vencedora de 17 oscars.
O bando de anões excêntricos e controversos de Peter Jackson. |
Quando os anões chegam à toca de Bilbo, a famosa Bolsão, induzidos por Gandalf, é de encher os olhos de lágrimas (exagerando de novo, mas é mesmo). Está tudo tão parecido com o que está no livro que parece que as personagens saltaram das páginas para a tela. Revelo que fiquei muito preocupado quando vi as fotos dos 13 anões pela primeira vez (assim como muitos dos fãs) e achei que eles não funcionariam. Achava que o Thorin era novo demais, que o Nori era estrelado demais, que o Kili era elfo demais e só tinha ficado satisfeito com o Balin e o Glóin. Mas todo esse temor saurônico foi desfeito ao assisti-los fazendo bagunça, cantando e berrando em Bolsão. Ficou perfeito.
Após Bilbo aceitar o contrato de prestação de serviços para servir como ladrão, o bando parte em direção à Montanha Solitária. Durante a noite, Fili e Kili dão pela falta de dois dos pôneis que faziam parte da Companhia de Thorin. Os dois anões pedem que Bilbo investigue o sumiço dos animais e acaba topando com três trolls (William, Bert e Tom). A luta entre os anões, Bilbo e os trolls é eletrizante e divertidíssima. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que é impossível reparar a ação como um todo em uma única sessão de cinema. O mesmo acontece na batalha no reino do Grão-Orc.
Martin Freeman (Bilbo) e Andy Serkis (Gollum) durante as gravações de O Hobbit - Uma Jornada Inesperada. |
Radagast, o castanho de Sylvester McCoy ficou perfeito. |
Thorin Escudo de Carvalho |
Daí pra frente (não vou ficar aqui contando o filme todo, apesar do alerta de spoiler) nos é apresentado um filme coeso, dinâmico, com algumas piadinhas bem sacadas e que nos deixa com uma vontade louca que o próximo ano passe bem depressa, para podermos continuar a seguir Bilbo e os 13 anões em sua saga.
O filme é espetacular. Isso mesmo, ponto final.
Tudo está certo. O tom do filme fica variando o tempo todo, ora descontraído, ora sombrio, sem perder o timming. A adaptação tanto do livro homônimo quanto do material selecionado dos apêndices de O Senhor dos Anéis foi feita com maestria e de certo modo parece-nos que se eles tivessem optado por adaptar apenas O Hobbit poderiam ter feito um filme legal, mas do jeito como costuraram as tramas que Tolkien tão cuidadosamente nos apresentou nos apêndices que encontramos no livro O Retorno do Rei, eles aumentaram o nível da parada à quinta potência.
Só dois conselhos: Assista em IMAX 48 fps e legendado. Tive que aturar o Bilbo falando com a voz do Adam Sandler. Não ficou legal.