Acho que nem mesmo Renato Manfredini Júnior, com toda a sua mania de grandeza, poderia imaginar que a sua "Legião" se tornaria tão grande. Tenha o verdadeiro Trovador Solitário dito ou não a frase acima, o que diz o personagem baseado em sua pessoa, e vivido no cinema por Thiago Mendonça, define o que o próprio Renato, Dado, Bonfá, e por que não dizer Renato Rocha, e seus milhares de fãs, na verdade são: Uma Legião.


"Nós vamos ser uma Legião!"
A banda que eles formaram é um caso raro na música brasileira. Mesmo antes da morte de Renato Russo, em 1996, uma espécie de culto ao artista e sua banda foi fundado por alguns de seus fãs. Uma "religião nova", que tem os seus dogmas fundamentados numa filosofia que está presente em sua música.

Legião Urbana é a única banda brasileira que, além de entreter os seus fãs com suas canções, criaram um estilo de vida. O pensamento "Russoniano" é assoviado e vivido por milhares de seguidores fiéis, que mesmo após quase 18 anos de sua morte, persistem em acreditar nos ideais de um país melhor, menos retrógrado e terceiro mundista, em uma sociedade mais permissiva e receptiva às diferenças, enfim, em um mundo menos careta. Menos babaca.

Mas o filme "Somos Tão Jovens" não fala sobre Legião Urbana e sim sobre a sua gênese, sobre as sementes que germinariam o seu nascimento.

Os filhos da revolução
A chance de se errar ao se produzir uma cinebiografia é grande. Confesso que, após assistir ao trailer, fiquei muito apreensivo. Tudo naquele trailer, pra mim, estava errado. A cena inicial em inglês que terminava na banheira ficou, após ter sido editada desse jeito, bizarra. A cena do Renato dançando, ou tentando dançar punk pela casa quase me fez desistir de continuar assistindo. Fora aquela sequência de briguinhas dele com o que não fazem sentido pra quem não conhece a história. Eles erraram feio no trailer.


Hoje, após assistir ao filme, estou um tanto quanto mais aliviado, pois vi que no filme eles acertaram. Não que "Somos Tão Jovens" seja um ótimo filme, mas o longa cumpre seu propósito que era contar a história de Renato Russo, apresentando de quebra aos que não conheciam um pouco de como era a cena punk de Brasília do final dos anos 70 e início dos 80. Cena esta que já havia sido tema de um documentário chamado "Rock Brasilia", de Vladimir Carvalho.

"Somos Tão Jovens" cobre o período entre 1976 e 1982, desde que Renato descobre que quer ser um rockstar, até ele conseguir formar uma banda que pudesse realmente liderar. Obvio que entre uma coisa e outra o artista iria encarar algumas dificuldades e, a principal delas se chama "Aborto Elétrico". O Aborto era uma banda que Renato montou com Fê Lemos, vivido por Bruno Torres, e um punk sul africano chamado Petrus, interpretado por Sérgio Dalcia. No começo Renato achava que tinha conseguido montar a banda de sua vida, porém, por motivos particulares Petrus teve que voltar para a Africa do Sul, tornando-se esta a primeira perda, musicalmente falando, de Renato Russo. Depois disso o irmã de Fê, Flávio Lemos, entrou pra banda, mas animosidade entre Renato e Fê, assim como a atração que o cantor tinha por Flávio, acabariam por destruir a banda.


No meio de tudo isso havia Ana, vivida pela atriz Laila Zaid, que é uma personagem construída à partir de fragmentos de várias mulheres que passaram pela vida de Renato Russo ao longo de sua adolescência e juventude. Renato e Aninha vivem um amor platônico. Uma relação que é um dos pés do tripé emocional de Renato Russo, que se completa com o seu amor pela música e pela sua família. A reconciliação de Renato e Aninha, após um certo tempo brigados, descamba na cena mais bonita do filme inteiro. É emocionante.

Emocionante também foram todas as cenas de Thiago MendonçaSandra Corveloni, que interpreta a mãe do cantor, Dona Carminha. Há química entre os dois atores e isso só agrega valor ao filme. Marcos Breda também estava bem e encena um dos momentos mais tensos do filme, quando Renato Jr. cobra menos apatia por parte de seu pai (Breda) e mais reação, contra tudo o que está errado no País. O desfecho da cena é terno e mostra que por trás de um potencial "jovem revoltado" havia, na verdade, um menino de família.


Uma coisa que me chamou a atenção é o respeito com que o filme tratou a figura do Renato Russo. Em momento nenhum o diretor Antonio Carlos da Fontoura apelou para dois aspectos da personalidade do cantor da Legião Urbana que são conhecidos de todos: Sua homossexualidade e abuso de álcool e de substancias tóxicas. Não que estas coisas não estejam lá, elas estão. Mas são tratadas de forma sutil, natural e não, como poderia acabar acontecendo caso este filme tivesse caído nas mãos erradas, de forma apelativa, ou pior, sensacionalista.

Mas nem tudo são flores em "Somos Tão Jovens". Acho que o roteiro poderia ter tido uma atenção melhor e o excesso de referências à músicas e letras de sucessos conhecidos da Legião irrita um pouco. Edu Moraes, que interpreta o famoso Herbert Vianna, forçou tanto o sotaque "Herbertiano" que a sua atuação ficou caricata ao ponte de, durante a sessão, todo mundo (menos eu) cair na gargalhada. Não sei se estavam rindo de deboche ou se acharam engraçado mesmo.

E veja que assisti ao filme em uma cabine de imprensa, restrita aos profissionais da área que em geral se comportam de maneira um tanto quanto sisuda nas sessões. No mais, "Somos Tão Jovens" é um filme legal. Se quiser ir assistir pode ir sem medo. Rock On!



Marlo George nunca curtiu Legião Urbana e nem mesmo o cinema nacional. Mas é um homem justo.


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