Capa por  Yuko Shimizu
(Ed. Panini Comics)
Resumo bobo da história: Tommy Taylor é o personagem principal de uma série de literatura fantástica que virou um fenômeno cultural. Fãs se reúnem em convenções para celebrar essa história mágica e renovar as esperanças de que seu autor desaparecido, Wilson Taylor, algum dia volte para escrever a derradeira aventura. Mas Wilson deixou outra herança além de Tommy: Tom Taylor, seu filho agora abandonado e que serviu como inspiração para o personagem. Vererado por ter sido a inspiração para o garoto-mago, Tom frequenta os encontros de fãs como uma lenda literária viva. Mas sua história está prestes a cruzar os limiares da ficção! Estranhos paralelos mortíferos entre a vida de Tom e Tommy o arrastam para um estranho submundo literário no qual o poder de uma narrativa é tão forte quanto o de um feitiço!







Trecho:
 

"Eu me sinto como se... Como se alguém tivesse me assaltado e levado minha vida embora! Ainda mais com esse bando de loucos! De que covil veio essa gente? Tudo não passa de uma história!" (Tom Taylor)

Roteiro: Mike Carey
Arte: Peter Gross
Capas por Yuko Shimizu
Editora Panini Comics | R$ 18,90 | 148 págs. | Vertigo
(Desaconselhável para menores de 18 anos)


Resenha: Sério mesmo que os anos 1980 voltaram? Neil Gaiman e alguns outros escritores fizeram história ao se esforçarem para contar uma história em quadrinhos de forma relevante na metade da década de 1980, conquistando uma legião de fãs. Muitos deles bem xiitas, como os de Alan Moore e, principalmente, de Neil Gaiman, que não aceitam que seus ídolos cometeram muitos erros ao longo dos anos, com muitos roteiros equivocados e levados muito mais a sério do que eles realmente eram ou representavam.

O autor Mike Carey deve ter sido pressionado pela DC Comics a criar um novo produto a la Sandman, como o que era escrito por Gaiman, para trazer de volta o público saudoso que ia compulsivamente às livrarias comprar novos encadernados de sua obra literária em quadrinhos predileta, ainda que ela não fosse nada além de algo escrito com um pouco mais de esforço do que as demais. E já estão aclamando este "O Inescrito" ("The Unwriten", no original) como possível sucessor das histórias do Mestre dos Sonhos e cia, algo que duvido.

As belíssimas ilustrações
de capa por Shimizu
Imagine um mundo onde o equivalente a Harry Potter tivesse uma série de livros e o autor, tal qual J.R.R. Tolkien e J.D. Salinger, fosse um recluso e tivesse sumido, literalmente, deixando seu filho cuidando dos negócios. Este filho, supostamente, tem o mesmo nome do famoso personagem que criou e tudo virou um tremendo negócio, com convenções especializadas nos temas do livro, merchandising e tudo o mais. Este mesmo filho, apesar de cansado de tudo, posa para fotos, autografa livros, faz palestras e apresenta trailers de filmes porque o dinheiro é o bastante para suplantar suas vontades.

Mas, e se, um dia, ele descobre que não tem em comum apenas o nome do personagem que seu pai criou? E se tudo o que sabia sobre sua infância fosse uma grande mentira? E se tudo o que seu pai escreveu nos livros do garoto-bruxo fossem algo mais do que literatura barata para entreter meio mundo?



É disso que esta história em quadrinhos trata. Como em muitos filmes de M. Night Shyamalan, o fantástico visitando um mundo extremamente real. E só. Mike Carey ficou mais conhecido por ter escrito muitas histórias de John Constantine mas, principalmente, de Lúcifer, ou melhor, Estrela-da-Manhã, ex-senhor do inferno, saído diretamente - vejam só! - como um "spin off" de Sandman. Há quem defenda seu texto burocrático e sua prosódia "adequada" como algo que acrescente ou substitua o que Gaiman escreveu. A verdade é que os textos de Carey são meros genéricos literários. Nem sempre causam o mesmo efeito que o original mas as pessoas compram mesmo assim...

A arte correta de Gross
E o que chama a atenção nesta sua criação completamente "original" (sei...) é que vemos claramente que Carey não faz a menor ideia de como terminar essa história. Talvez tenha aprendido com os roteiristas do seriado Lost ou seja uma deficiência latente, vai saber... Acompanhamos toda a história do protagonista mais sem graça de todas as histórias em quadrinhos de todos os tempos com personagens caricatos que deveriam ser realistas, afinal, para nos depararmos com um fim de arco dos mais clichês, pronto para catar alguns níqueis a mais dos incautos que acharão se tratar de algo novo e, quem sabe, criativo.

Não caiam nessa cilada. Mesmo que o preço seja convidativo, o único fator que vale a pena, no fim das contas, é a soberba arte das capas originais feitas por Yuko Shimizu, completamente esforçadas no que se refere a design e que compreendeu tudo do que se trata cada capítulo. Quem dera se Peter Gross, o artista das páginas internas, fosse um décimo do que ele é. Embora Gross tenha um layout e um timing preciso, ele faz somente o básico. Mas se o roteiro não ajuda, talvez não seja totalemente sua culpa, afinal.

Em uma palavra: decepcionante.

Kal J. Moon gostaria de ler alguns capítulos a frente de sua vida para evitar gastar dinheiro em quadrinhos cada vez mais mal escritos...