Será que estamos menos receptivos à violência explícita visualmente falando? Passou muito tempo para que essa continuação fosse realizada? Acredito que o público esteja melhor preparado para este tipo de filme desde que O Senhor dos Anéis ganhou os cinemas e seriados como Roma, Spartacus e Game of Thrones chegaram as telinhas.
300 - A Ascensão do Império, dirigido pelo novato Noam Murro (que foi diretor de fotografia no filme anterior), também baseado numa história em quadrinhos escrita por Frank Miller (ainda não publicada), dá sequência ao que aconteceu aos 300 de Esparta e prossegue com uma inusitada batalha naval, comandada por Artemisia (interpretada por Eva Green), aliada de Xerxes (novamente interpretado pelo brasileiro Rodrigo Santoro, confira AQUI nossa entrevista com o ator onde ele fala sobre o filme), contra as investidas do exército regido pelo comandante Temístocles (o insosso).
Não espere muita fidelidade histórica, apesar de vermos algumas passagens levemente inspiradas no que consta nos livros escolares.
Mas o que realmente chama a atenção é justamente a tecnologia 3D, transmitindo profundidade logo no início da trama, de forma não-invasiva e, em muitos casos, com um tom poético, coisa rara em filmes que se utilizam deste tipo de artifício para aumentar a arrecadação na bilheteria. Com isso, a violência visual chega quase ao nível de "gore", levando o espectador a "sentir" determinadas cenas de forma ainda mais intensa...
Generals Gathered in Their Masses... |
Curioso também vermos o que aconteceu antes em outros locais que não foram mostrados no primeiro filme, que acabaram adicionando informações interessantes para quem quer ver o outro lado da história.
Curiosamente, chama a atenção também o fato da trama ser justamente o embate entre duas mulheres fortes e que comandam seus exércitos com dignidade! A Artemísia de Eva Green tem pulso de ferro e vontades inquestionáveis. Sexy e enérgica, mostra a que veio sem muito esforco... Por outro lado, a rainha viúva de Esparta (interpretada por Lena Headley, do seriado Game of Thrones), que narra a história dessa vez - a exemplo do primeiro filme -, começa relutante mas adquire confiança suficiente para liderar uma esquadra inteira por aquilo que acredita ser o mais correto a se fazer...
"A trama parece ter sido deixada de lado em prol de termos tudo contado de forma visual, como nas piores histórias em quadrinhos"
Infelizmente, esse novo capítulo da saga decepciona em alguns aspectos fundamentais como o desenvolvimento do personagem Xerxes. Quando soubemos que o novo filme seria baseado em sua origem, acreditamos piamente que Rodrigo Santoro teria maior destaque e, conseqüentemente, seria melhor aproveitado. Ledo engano. Xerxes até aparece durante toda a película mas nem sua origem muito menos sua permanência tem qualquer relevância na trama.
Just Like Witches at Black Masses. |
E falando em trama, esta parece ter sido deixada de lado em prol de termos tudo contado de forma visual, como nas piores histórias em quadrinhos... Além de não termos um personagem masculino carismático o suficiente para dividir a atenção, a história tem contornos simplórios a ponto de não ser surpresa alguma chegarmos aquele final.
Pode até ser que este novo 300 não tenha a mesma importância para Noam Murro que o anterior teve para Zack Snyder - até porque parece outro filme dirigido por Snyder, sem qualquer traço autoral ou personalidade - mas tem seu espaço garantido como diversão descompromissada. Afinal, nem todo filme tem a necessidade de ser uma obra prima. E, no fim das contas, entreter ainda importa...
Kal J. Moon ainda não entendeu por que havia a necessidade de levar cavalos ao mar...
Avaliação : Bom
Direção: Noam Murro
Roteiro: Zack Snyder e Kurt Johnstad (com base na HQ Xerxes, de Frank Miller)
Elenco: Sullivan Stapleton, Eva Green, Lena Headey, Hans Matheson, David Wenham, Rodrigo Santoro, Igal Naor, Callan Mulvey, Jack O'Connell, Andrew Tiernan
Distribuição: Warner Bros. Pictures