Existe uma febre em torno do nome George R.R. Martin. Sem
dúvidas. Sua série mais famosa no Brasil - "A guerra dos Tronos" -
vende tal qual água no deserto, e não apenas livros, jogos de cartas, tabuleiro
e quadrinhos surfam essa onda. Óbvio que a força televisiva acarretou isso.
Afinal, um seriado bacana em um canal sério como a HBO não é coisa a ser
ignorada.
Ainda bem que existe essa febre. Ainda bem que além de ser
em torno da obra principal, também é em torno do autor e do próprio gênero em
si. Além de diversos títulos de Martin nas livrarias, temos diversos títulos de
fantasia em geral sendo lançados pelas diversas editoras que finalmente
decidiram se aventurar pelo nicho.
Mas vamos voltar a Martin. Essa resenha é um pouco tardia,
eu sei. Não serve como novidade, pois vai falar do primeiro livro da série
Cartas Selvagens - quando o segundo já foi lançado há algum tempo - também não
vai trazer novidades sobre a série em si. A esse ponto, o bom leitor com
certeza já sabe que "Cartas Selvagens" foi baseado em um universo de
RPG de Super-heróis jogado por Martin e seus amigos. Não sabia? Pois é, é isso
mesmo. Martin é um NERD jogador de RPG e milionário. (jogadores de RPG PODEM
se tornar milionários com o RPG, viu,
mãe?) "Mas então por que diabos eu vou perder meu tempo lendo mais essa
matéria?"
Por que sim.
Por que vai ser a mesma sensação que eu tive ao ler o
"Cartas Selvagens". Mais do mesmo, e ao mesmo tempo, coisa nova.
"O quê?"
Os leitores de quadrinhos de longa data vão me entender. Só
pra gente se localizar, a série Cartas Selvagens relata o planeta Terra
atingido por um vírus alienígena após a Segunda Guerra mundial que é capaz de
transformar os infectados dando a eles super-poderes ou alterações físicas. Uma
terminologia de cartas de baralho encaixa como uma luva para o cenário, e dá a
ele o certo charme especial.
O primeiro livro apresenta vários contos que cobrem desde a
década de 50 até meados de 80, e explica as bases do cenário para os próximos
livros. E a leitura deste primeiro livro tem a sensação de leitura de uma
enciclopédia de universo de super-heróis. São diversos personagens, em diversas
situações, inclusive históricas. Acompanhar essas situações desenrolarem-se
através das décadas cria uma nostalgia artificial muito parecida com a de uma
certa série "Marvels" de Kurt Busiek e Alex Ross. Ou de Astro City,
também de Busiek. A intenção não é acusar um ou outro de plágio, e sim apontar
o tipo de leitura (que aliás, me vários personagens e não se aprofundando (nem
desgastando) em nenhum. Isso é genial.
Além disso, elementos de outras séries que também fizeram
sucesso e história no ramo dos quadrinhos se encontram aqui. Você gosta dos
X-men e do modo como eles lutam pela causa mutante? Pois bem, os curingas (como
são chamados aqueles que ficam deformados pelo vírus) vão as ruas exigir seus
direitos, em passeatas na década de 70 junto com muitas outras da história real
americana. Você leitor das antigas se recorda quando a Sociedade da Justiça foi
afastada de atividade e da vida pública pela caça as bruxas anticomunista de
Carter? Os Quatro Ases também sofrem perseguição similar...Quem são os Quatro
Ases?
Leia o livro e saberá...
Leia o livro e saberá...
Além disso, o primeiro livro "estende o tapete"
para outra coisa comum no mundo das histórias de super-heróis (principalmente
nas últimas décadas) os Grandes Eventos Crossovers.
"Cartas Selvagens - O inicio de tudo" é o livro
mais "solto" da série, exatamente por esses elementos. Os próximos
vão assumir uma estrutura característica da série, o "Mosaico" no
qual uma história maior em comum serve de pano de fundo para os contos do
livro. E para quem ainda não leu o segundo livro, basta dizer que coisas
terríveis do espaço sideral estão a caminho da Terra...
Este primeiro livro da série é uma escolha acertada tanto
para os fãs de quadrinhos de super heróis quanto para os fãs de Martin, mesmo
que ele tenha escrito apenas pequenas partes do livro, a série foi a
responsável por tirá-lo do buraco e permitir que mais tarde fosse criado
Westeros.
Se você, andarilho pálido das vielas da Internet, ainda não
leu Cartas Selvagens, corra atrás do tempo perdido e adquira logo o livro. Ou
melhor, pegue logo os dois! A editora Leya agradece, e ficção fantástica
também!
Jorge Caffé leu, escreveu a resenha do Cartas Selvagens e se lembrou dos tempos de ativista Curinga!
Jorge Caffé leu, escreveu a resenha do Cartas Selvagens e se lembrou dos tempos de ativista Curinga!