A revista tem um mix interessante de diversos personagens
da britânica 2000AD, berço de nomes de peso dos quadrinhos mundiais, como Alan
Moore e John Wagner.
Willian Vance, Artista de XIII e Pedro Bouça, que traduziu a obra para o português, quando publicada pela Panini. |
Nessa primeira parte da entrevista, Pedro Bouça fala das
novidades programadas para o Bom Juiz, possibilidades de lançamentos futuros e
uma comparação entre o mercado brasileiro e europeu.
Poltrona POP-Como é trabalhar com quadrinhos? Ainda mais
com personagens de peso como Juiz Dredd e Slaíne?
Pedro Bouça - Eu já traduzi quadrinhos antes. É um trabalho
bem mais agradável que o meu habitual (analista de sistemas), mas não deixa de
ser um trabalho. Há um certo orgulho em conseguir fazer uma publicação do Juiz
Dredd, um grande o personagem que nunca tinha dado certo no Brasil, emplacar,
mas não podemos repousar nos nossos méritos passados. Cada número é mais uma
batalha para conquistar os leitores!
Karl Urban, o Éomer de Senhor dos Anéis, e do seriado da Warner Almost
Human, como o Dredd
|
POP-Quais as previsões para materiais inéditos da 2000AD?
P.B - Bastante coisa. Vale dizer que eu mantenho como ponto de honra só publicar material inédito no Brasil na revista. Tem mais de 35 anos de 2000 AD na Inglaterra e a gente não vai republicar o pouco material que já saiu no Brasil! Obviamente para encadernados há maior flexibilidade... Posso adiantar que vai sair um especial com uma série INTEIRA da 2000 AD criada por Mark Millar e Chris Weston, Canon Law. É o material não-Dredd mais significativo do Millar no Reino Unido. Também vamos publicar um encadernado inédito do Dredd chamado Mandroide. Escrito, como sempre, pelo criador do personagem John Wagner e desenhado por Kev Walker e Carl Critchlow, que os leitores habituais da revista já conhecem. Pessoal de talento! Na altura da eleição, vamos lançar o especial Democracia do Dredd, com uma história bastante significativa do personagem e que se aplica perfeitamente ao momento que o Brasil está vivendo. Essa eu espero que chame bastante atenção! Esse é um dos méritos de se trabalhar com o material inglês. Quando foi a última vez que Marvel e DC falaram de eleições? Lembro do Frank Miller no Demolidor, mas há anos que o material americano tem fugido de temas polêmicos...
POP- Muitos títulos interessantes com certeza. Os quadrinhos ingleses realmente são mais contundentes que os comics americanos. O público costuma reagir melhor as edições fechadas, como encadernados ou livros, ou as séries continuas?
P.B - Difícil
dizer, até porque não tenho acesso aos números de vendas. Uma série contínua
ajuda a fidelizar o leitor, mas os especiais individuais podem vender mais no
sentido de que o leitor pode se sentir motivado a comprar AQUELE material em
especial por ser de um autor ou personagem de que gosta.
POP-A revista Juiz Dredd Magazine tem publicado histórias
clássicas e modernas ao mesmo tempo. Isso não confundiria a cronologia do Juiz
Dredd, por exemplo?
P.B. - Procuramos
identificar com cuidado quais histórias são clássicas e quais são modernas.
Atualmente todas as histórias têm sido identificadas e datadas. E também,
convenhamos, o Dredd não tem uma cronologia tão rigorosa assim. Eu diria que
70% das histórias podem ser publicadas a qualquer momento. Temos usado isso a
nosso favor. A publicação de clássicos tem sido feita precisamente para situar
detalhes importantes da história do personagem que se refletem no material
moderno. São 35 anos de material. Não daria para publicar na ordem, até porque
o material mais antigo é bastante datado. Mas a gente tem tido cuidado de
selecionar material que não seja tem grande necessidade de cronologia e de
situar bem o pouco material que tem!
Juiz Dredd Magazine #1 - A revista já vale a pena desde a edição de estreia! |
P.B. - Os crossovers com personagens da DC a gente
não pode publicar porque tudo da DC está nas mãos da Panini. Poderíamos pensar
nos cinematográficos (Aliens e Predador), mas não há planos no momento.
POP - Além de "A balada de Halo Jones" existe
alguma possibilidade de republicação aqui no Brasil de outros materiais da
2000AD que já foram lançados aqui, como por exemplo "Zenith", de
Grant Morrinson?
P.B. - Sim, mas
aos poucos. A Rebellion está prestes a republicar o Zenith lá fora, o que já
ajuda a publicar uma nova edição brasileira!
POP- Qual é a sua visão profissional do mercado de
quadrinhos brasileiro?
P.B. - O mercado
brasileiro está em rápida expansão, mas ainda é prejudicado por diversos
fatores. O mais grave, a meu ver, é a mentalidade "italiana" de todos
os envolvidos. Eu explico. Na Itália, na contramão dos outros grandes mercados
de quadrinhos, a banca ainda concentra 90% dos lançamentos e há uma política de
fazer edições baratas e ordinárias para manter os custos baixos a qualquer
preço. Até porque o público se recusa a pagar caro por um "gibi". Se
os leitores não valorizam a qualidade do material, como esperam que ele seja
respeitado? Isso tem mantido o material europeu, como a 2000 AD, que foi FEITO
para ser publicado em formato maior e papel decente (e tem direitos mais caros,
porque os artistas ou são donos do material ou recebem royalties decentes por
ele), longe do público brasileiro. Estamos tentando reverter isso, mas é um
trabalho para muitos anos.
POP - E quais seriam as diferenças entre o mercado
brasileiro e o português de banda Desenhada?
P.B. - A principal diferença é que o brasileiro está
prosperando, enquanto o português está meio morto. Mas ainda assim, há dez
vezes mais material europeu sendo publicado em Portugal do que no Brasil!
Curioso ver como um mercado moribundo como o lusitano pode lançar um Lucky Luke
ou Spirou (HQs franco-belgas tradicionais) e no Brasil NENHUM editor está a fim
de publicar!
POP - Me recordo
de ter visto há algum tempo atrás uma coleção em BD que era publicada em um
jornal se não me engano. Isso populariza os quadrinhos. Não seria uma boa hora
para as editoras pensarem em algo assim, uma vez que cresce o número de filmes
baseados em histórias em quadrinhos, não só de super heróis?
P.B. - As editoras
já pensaram nisso há MUITO tempo! Entendo que a Panini, que foi a pioneira na
publicação dessas coleções de jornal na Europa, ofereceu a mesma a todos os
jornais de grande porte do país. Todos eles recusaram. Aí fica complicado, né?
A Salvat agora está publicando coleções sem jornal. Temos isso na Europa
também. Eu mesmo estou comprando uma de 70 (!) volumes de quadrinhos de Star
Wars aqui em Portugal! Os resultados parecem ser bons. Talvez com isso os donos
dos jornais, que vêm suas vendas cair vertiginosamente graças à Internet, criem
vergonha na cara e decidam fazer uma coleção de quadrinhos. É só quererem. A
Panini tem uma pronta! Mesmo a Mythos pode fazer fácil uma do Tex ou do Dredd.
É só os jornais quererem, mas não temos como obrigá-los a isso...
POP-Depois do próprio Juiz Dredd, que teve dois filmes
produzidos, o segundo personagem mais conhecido aqui no Brasil da 2000AD é o
bárbaro Slaíne. O público pode esperar alguma coisa especial sobre este
personagem também?
P.B. - O Sláine a
gente decidiu publicar desde o começo, o que causou um certo estranhamento
inicial dos leitores, que possivelmente esperavam um Simon Bisley e encontraram
uma série em P&B com arte algo primitiva. Mas esse material é de qualidade
e tem ganhado os leitores aos poucos. Mais um ou dois anos, quando os leitores
terão a chance de ver o trabalho de artistas como Glenn Fabry (no seu primeiro
trabalho regular em quadrinhos), e eu estou certo de que o celta estará
rivalizando com Dredd em popularidade e terá chance de ter os seus próprios
especiais e similares. Até lá, continua como parte da revista. Também há planos
de quando for o momento de publicar a história O Deus Guerreiro, que já saiu no
Brasil, a gente lançar direto em encadernado. Mas ainda é cedo para pensar
nisso.
POP-Sei que ainda é cedo para isso, mas existe algum
pensamento para o mercado expandido da franquia do Juiz Dredd? Há alguns anos
foi lançado um jogo de miniaturas com regras gratuitas e existe muito material
como camisetas e outros itens. A Mythos pensa em algo assim para algum de seus
personagens? Conan, Hellboy ou o próprio Juiz?
P.B. - A Mythos
trabalha só com quadrinhos. Da mesma forma que ela não publica merchandising,
digamos, do Tex, eu penso que não o fará com o Dredd. Mas aí são decisões que
estão bem além da minha alçada...
POP - Pedro, tem
mais alguma coisa que você queira falar sobre a revista? Algo que seja postado
como jabá?
P.B. - Enfim,
gostaria que o pessoal que ainda não compra a revista desse uma chance para
ela. É aquela revista grande e esquisita que os jornaleiros botam junto das de
games! É cara mas vale a pena! Os maiores nomes dos quadrinhos ingleses (e uns
caras que vocês não conhecem porque eram bons demais para o pessoal de lá
deixar que eles fossem para os EUA...) todos os meses nas bancas!