Cinema é, antes de tudo, entretenimento. Se esta regra for "desrespeitada", temos um produto defeituoso. Há quem diga que o cinema feito no Brasil não tem identidade, que tenta basear-se em fórmulas já consagradas do que é feito em produtos norte-americanos, uma vez que somos grandes consumidores do que é produzido lá fora

Não temos de achar este fato um "defeito" exclusivo do nosso cinema, uma vez que o mundo inteiro segue a mesma cartilha... Se houver esmero na realização e cumprir a função de entreter, o esforço será reconhecido por público e crítica, mais cedo ou mais tarde. O problema é que raramente isso ocorre.


Mundo cão
A tentativa de executar um thriller nacional - carioca, eu diria - é válida e tem tudo para dar certo, desde que a história seja bem construída, a direção de atores esteja satisfatória e que o filme em questão seja conduzido rumo ao entretenimento, acima de qualquer tipo de denúncia ou conscientização. Do contrário, leremos manchetes de jornal pois demora menos tempo...

Infelizmente, "O Lobo Atrás da Porta", escrito e dirigido pelo estreante Fernando Coimbra, carrega muitos defeitos de produção, que vão desde a fotografia saturada em excesso, cansativa e baseada em hiper closes, até um roteiro sem surpresa alguma, tornando a exibição enfadonha e quase angustiante.


Obviamente, não trata-se duma super produção do gênero, apesar do elenco não ter desconhecidos. A maior indignação dá-se com a personagem de Leandra Leal (O Homem que Copiava), que interpreta Rosa, amante do fiscal de ônibus Bernardo (Milhem Cortaz, dos dois Tropa de Elite), acusada de sequestrar a filha dele passionalmente pelo término de seu relacionamento. Não sabemos o que ela faz durante o dia, mesmo que sempre pareça ir a algum lugar pois constantemente podemos vê-la andando de trem, embora não fique claro seu destino.

'Carrega muitos defeitos de produção...'
Vemos o desespero da mãe da criança (Fabiula Nascimento, de Estômago), pois pegaram sua filha se passando por ela ao telefone. Vemos o esforço do delegado encarregado do caso (o convincente Juliano Cazarré, de novelas como Avenida Brasil), que tenta ouvir todos os lados da história para descobrir a verdade - talvez o primeiro delegado do cinema brasileiro que não precisa bater na mesa ou berrar para conseguir o que precisa.


O andamento da narrativa, em flashback a partir de dois pontos de vista, é lento, longo e com várias partes completamente desnecessárias. Um segundo tratamento na edição fazia-se necessário justamente para aparar as arestas e tornar o resultado mais fluido.

O filme tem alguns lampejos de criatividade, como o já citado delegado e a personagem de Thalita Carauta (SOS Mulheres ao Mar) que mesmo beirando a caricatura, é totalmente crível.


Talvez a ideia deste longa não seja tão atraente justamente por ter uma história corriqueira, apresentada de uma maneira nada interessante. A impressão que temos é que tentou-se contar essa trama simplória de forma ousada visualmente antes de se aprender como realmente se faz isso...




 Kal J. Moon assistiu, escreveu e aprendeu que uma mulher traída é capaz de tudo...



Lançamento: 29 de maio de 2014
Título: O Lobo Atrás da Porta
Diretor: Fernando Coimbra
Elenco: Thalita Carauta, Leandra Leal, Fabiula Nascimento, Juliano Cazarré, Milhem Cortaz
Origem: Brasil
Idioma: Português
Classificação: 16 anos

Sinopse: Numa delegacia, um homem (Milhem Cortaz), sua mulher (Fabíula Nascimento) e a amante dele (Leandra Leal) são interrogados. Arrancados pacientemente pelo detetive (Juliano Cazarré), um após o outro, seus depoimentos vão tecendo uma trama de amor passional, obsessão e mentiras que levará a um final completamente inesperado.