Toda década tem seu referencial em termos culturais. Na musica, na televisão, cinema e literatura. Nos quadrinhos, não poderia ser diferente. A década de 80 viu a humanização dos heróis, com obras como "O cavaleiro das Trevas" ou "Watchmen". A década de 90 viu o crescente da violência sem sentido e a valorização do traço sem história: "A Morte de Super-homem" "A queda do Morcego" e o "Massacre Marvel".
O inicio dos anos 2000 trouxe uma ideia de renovação e atualização ao ramo dos quadrinhos. Ao mesmo tempo, o cinema de super-heróis parecia se recuperar de alguns danos por muitos considerados permanentes (filmes como "Spawn"e "Batman & Robin" para dar alguns exemplos...).
Uma nova leva de filmes baseados em quadrinhos de super heróis se iniciou com "Blade" e seguiu até chegarem os primeiros filmes de X-MEN e Homem Aranha. Tais obras não apenas revitalizaram a linha de filmes de super-heróis, como começaram a trazer a atenção do público leigo aos quadrinhos. Mas ainda havia um obstáculo: Quase meio século de cronologia e acontecimentos separavam o público novato dos personagens vistos no cinema.
As grande editoras, Marvel e DC tiveram cada uma forma diferente de lidar com a situação. A Marvel lançou com muito sucesso o Universo Ultimate, dando uma repaginada em seus personagens e tentando aproxima-los do novo século. Os principais títulos foram exatamente Homem Aranha e X-MEN. O título mutante, inclusive, mesmo não sendo uma versão do filme, muito se assemelhava a proposta do longa metragem, inclusive ao trazer os uniformes negros dos X-MEN.
Mas foi apenas dois anos depois do lançamento deste Universo que a grande obra dos quadrinhos daquela década seria criada. E sem saber, toda a trilha dos quadrinhos e dos filmes da Marvel seguiriam os caminhos criados por ela...
Mark Millar já vinha fazendo um trabalho memorável a frente dos Ultimate X-MEN, apresentando sagas cheias de ação. Quando lhe foi oferecido um novo título ultimate, ele decidiu recriar os Maiores heróis da Terra, os Vingadores.
A genialidade de Millar pode muito bem ter sido ocasional, ou até mesmo, golpe de sorte. Explico: hoje em dia, muitas séries de quadrinhos são escritas apenas para chamar atenção de estúdios que possam adapta-las para series ou filmes. Não que isso seja ruim, mas é um pouco desgastante. Muitas vezes, para tornar uma história possível de ser adaptada, muitos elementos fantásticos que só funcionariam nas paginas das revistas são esquecidos ou postos de lado. O mais recente exemplo disso é o ciborgue assassino Deathlok, que teve o visual alterado para ficar igualzinho a sua contra parte no seriado "Marvel's Agents of Shield". Mas com "The Ultimates" as coisas foram diferentes. Primeiro, por se tratar de uma realidade diferente da convencional, as mudanças não eram mudanças, elas na verdade eram fatos comuns desde o inicio dos tempos. Logo, era plausível um Nick Fury negro e com a cara de Samuel L. Jackson.
Millar não tinha a intenção de ver sua obra adaptada para as telonas. Muito pelo contrário: seu gibi já era uma mega produção cinematográfica nos quadrinhos! A narrativa da história é toda cinematográfica, mas sem a intenção de ser adaptada. Alguns dos personagens realmente se parecem com atores, não por que ele já estava fazendo o casting futuro de um filme, mas porque ele imagina a história como um filme com tais atores em determinados papeis. Só identificou o Samuel L. Jackson?
Pois preste atenção no Shintauri que se revela para o doutor Pym e não me diga se ele não é a cara do Rumpelstilskin?
Claro que citar apenas o escritor é injusto ao se ovacionar uma obra em quadrinhos. No caso de "Supremos", Bryan Hitch alcançou seu auge ao casar seu traço mais realista e pé no chão com as idéias de Millar. O intenção de tornar as cenas mais reais possíveis, e os uniformes mais próximos dos guarda roupas de cinema só poderia ser alcançada por um artista com traço pé no chão, consistente e esmerado. Achou boa a idéia do Nick Fury com a cara do Samuel L.Jackson? Pois ela partiu de Bryan Hitch, e não de Millar.
Essa adaptação contrária, hoje cada vez mais comum, foi o inicio de tudo. Muitos outros escritores, renomados inclusive, seguiram essa esteira. O personagem principal da série "The Boys" de Gath Ennis (publicada no Brasil pela Devir) tem a cara de Simon Pegg, ator mais conhecido pelo seu papel como Scotty, do novo Star Trek. Essa caracterização assumida é inclusive citada pelo ator no prefácio da edição brasileira.
O número de adaptações cinematográficas tem estimulado cada vez mais isso. Outro exemplo de quadrinho escrito para ser convertido em filme é o "Cowboy vs. Aliens". 300, de Frank Miller, também foi criado originalmente para ser publicado em versão Widescreen, e o próprio projeto de sua continuação, primeiro em quadrinhos para depois ir para o cinema é outro exemplo, desta vez mais bem sucedido.
Mas o que torna "Os Supremos" tão importante e significativo, não é essa conversão planejada para os cinemas, e sim a despretensão de parecer um filme nos quadrinhos sem ter a intenção de ser adaptado. Além disso, foi a primeira obra a ter essa ideia, pensar em personagens com rostos de atores, do mesmo modo que um roteirista pensa em personagens adequados aos atores que irão interpreta-los. Além disso, a verossimilhança em "Os Supremos" é maior e mais cinematográfica do que quadrinesca. Nos gibis, vilões destroem as cidades o tempo todo. Conflitos super humanos devastam carros e prédios, espalhando destroços por todos os lados, e na edição seguinte, tudo parece estar normal. Millar porém toma muito cuidado nas cenas mais extravagantes, exatamente por considera-las relevantes para a continuidade. No final do primeiro arco, O Hulk surta em Nova Iorque e os Supremos devem para-lo. Na edição seguinte, lá estão os heróis envolvidos com o controle de danos, com a Defesa Civil. As vitimas da fúria do gigante esmeralda finalmente possuem um rosto comum.
Certa vez li em um Wizard antiga o motivo pelo o qual algumas obras, mesmo que grandiosas, nunca se tornariam clássicos. O motivo pelo qual grandes escritores nunca seriam geniais. Entre os clássicos: Watchmen, O Cavaleiro das Trevas, A morte da Gwen Stacy. Os gênios, Alan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman, Stan Lee.... os grandes autores: Stracksinsky, Busiek. Bons nomes, mas que repaginaram obras elementos antigos, e não criaram nada novo. Essa edição é anterior ao universo Ultimate, e portanto não credita Mark Millar. Entretanto, no hall desses gênios, Millar com certeza será incluído. Stan Lee criou uma tendência nos quadrinhos: heróis humanos e com problemas. Frank Miller e Alan Moore criaram os heróis sombrios e o questionamento de como seria o Mundo com heróis de verdade. Mark Millar e Brian Hitch criaram a tendência de se pensar quadrinhos como cinema, o que infelizmente está sendo confundido com quadrinhos PARA cinema. Assim como os heróis sombrios tiveram seu desgaste no inicio da década de 2000, os quadrinhos para adaptação também devem encontrar sua extinção. Mesmo parecendo longe ainda, esperamos ansiosos pelo dia em que quadrinhos serão apenas quadrinhos.
Certa vez li em um Wizard antiga o motivo pelo o qual algumas obras, mesmo que grandiosas, nunca se tornariam clássicos. O motivo pelo qual grandes escritores nunca seriam geniais. Entre os clássicos: Watchmen, O Cavaleiro das Trevas, A morte da Gwen Stacy. Os gênios, Alan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman, Stan Lee.... os grandes autores: Stracksinsky, Busiek. Bons nomes, mas que repaginaram obras elementos antigos, e não criaram nada novo. Essa edição é anterior ao universo Ultimate, e portanto não credita Mark Millar. Entretanto, no hall desses gênios, Millar com certeza será incluído. Stan Lee criou uma tendência nos quadrinhos: heróis humanos e com problemas. Frank Miller e Alan Moore criaram os heróis sombrios e o questionamento de como seria o Mundo com heróis de verdade. Mark Millar e Brian Hitch criaram a tendência de se pensar quadrinhos como cinema, o que infelizmente está sendo confundido com quadrinhos PARA cinema. Assim como os heróis sombrios tiveram seu desgaste no inicio da década de 2000, os quadrinhos para adaptação também devem encontrar sua extinção. Mesmo parecendo longe ainda, esperamos ansiosos pelo dia em que quadrinhos serão apenas quadrinhos.
Jorge Caffé adora quadrinhos, adora filmes, mas detesta quadrinhos plásticos...