O gênero "terror", no cinema, tem lá suas regras. Subvertê-las em nome de uma suposta liberdade criativa é um ato arriscado, que pode comprometer o resultado, a ponto de manchar o nome do responsável neste mercado cada vez mais fechado que é o do entretenimento audiovisual.

Afinal de contas, um bom filme de terror é aquele que, após a sessão, deixa o espectador "encucado", com a impressão de que algo estranho acontecerá se apagar as luzes e deitar para dormir. Estão aí Mama e Invocação do Mal que não me deixam mentir...

E este é o principal problema de A Face do Mal, dirigido por Mac Carter - advindo de "Secret Origens", um documentário sobre a DC Comics! - e escrito pelo novato Andrew Barrer.

Uma casa velha e muitas tragédias

Temos aqui mais uma história de casa mal-assombrada. Janet Morello (personagem interpretada pela atriz Jacki Weaver, que concorreu ao Oscar como a mãe compreensiva de O Lado Bom da Vida) teve seus três filhos mortos, um a um, durante um incidente numa casa, o que tornou-a praticamente impossível de vendê-la durante muito tempo. Até que uma nova família  (os Ashers) se arrisca a comprá-la, a despeito de todas as "histórias" que contam.


Curiosamente, também temos uma família com três filhos. Claro que o espectador está preparado para que a tragédia se repita. A questão é quão original será a forma de fazer isso - e quão eficiente também.
Evan - defendido aqui pelo ator Harrison Gilbertson, que esteve recentemente no filme Need for Speed - é estabelecido, numa das falas de Alan, pai da família - o ator Brian Wimmer, de O Jardim do Mal -, como o filho rebelde e que passar esse tempo numa civilização a quilômetros de distância de qualquer criatura vivente o manterá longe de encrencas. Mas quando vemos Evan com um figurino digno de um dos integrantes da boyband New Kids on the Block e atitude mansa, quase zen, não dá pra levar essa declaração muito a sério...

'O elenco mais perdido que o roteirista...'

Quando Evan encontra Sam - a jovem atriz Liana Liberato, que fez participações em muitos seriados de TV como CSI Miami, Arquivo Morto, Filhos da Anarquia, [H]ouse etc - chorando na floresta, sabemos que algo está muito errado nesta trama. Quando Evan leva Sam para sua nova casa, sem ao menos conhecê-la bem e sem segundas intenções, vemos que o roteirista deve ter resolvido criar esta história em menos de vinte e quatro horas, tamanho o absurdo da cena. Mas quando vemos o mesmo Evan tendo visões, querendo sair do local, por sentir que algo muito ruim acontecerá mas Sam insiste que ele deve ficar e fazer contato com o sobrenatural, é o suficiente para esperar apenas por sustos gratuitos advindos de qualquer lugar, mesmo que isso não faça muito sentido, como se o espectador estivesse num trem-fantasma.

Nada de novo no front

Apesar de um início interessante, onde é mostrada uma máquina de comunicação com os mortos, acionada por manivelas e válvulas, assistir tudo o que vem após essa cena, num ritmo claudicante, penoso e enfadonho, mexendo na tradição dos filmes clássicos de terror só para colocar sua marca no gênero - ou por ser mais barato de produzir, vai saber? - frustra mais do que se soubéssemos o fim da história desde o começo.

É possível que este filme seja apenas um veículo para lançar o nome da atriz Liana Liberato a um futuro estrelato, uma vez que ela estará nas adaptações de bestsellers da literatura como Se Eu Ficar (de Gayle Forman) e O Melhor de Mim (de Nicholas Sparks). Possivelmente, a ideia é mostrar que ela pode segurar um filme como protagonista.


Mas se a ideia foi essa, foi uma péssima maneira de tentar convencer qualquer um de que isso é possível, uma vez que o elenco tá mais perdido que o roteirista, a direção de fotografia praticamente inexiste, trilha sonora irritante - se é que podemos chamar um cello tocando duas notas repetitivamente de trilha sonora... -, uma família que nada mais é que um adorno e uma revelação "surpresa" que é mais incrível do que fantasmas assombrando uma casa, fazem deste mais um daqueles filmes que teriam uma saída fácil na promoção das videolocadoras...

Infelizmente, a única coisa boa do filme é sua data de estreia no Brasil, próximo de uma sexta-feira 13. Essa sim foi uma ótima ideia pois será o único filme do gênero em cartaz.


Kal J Moon ainda não se conforma com o terrível spoiler dado pelo cartaz nacional...



Título: A Face do Mal (2014)
Data de Lançamento: 12/06/2014
Duração: 85 min. 
Gênero: Horror
Direção: Mac Carter
Elenco: Liana Liberato, Harrison Gilbertson, Danielle Chuchran, Jacki Weaver

Sinopse: Evan (Harrison Gilbertson) e sua família mudam-se para uma antiga casa sem saber dos terríveis acontecimentos do lugar. Logo após a chegada Evan começa a experimentar atividades paranormais e pede ajuda de sua vizinha Sam (Liana Liberato) para descobrir o que está acontecendo. Como a proximidade dos adolescentes eles começam a se apaixonar, só que não sabem que a cada minuto que passa suas vidas correm um risco enorme.