"Interestelar" é um dos filmes mais esperados do ano, e não é à toa. É o primeiro filme dirigido por Christopher Nolan desde a conclusão da trilogia Batman e o primeiro protagonizado por Matthew McConaughey desde que este ganhou o Oscar de Melhor Ator por "Clube de Compras Dallas". Com tal apelo, de duas das figuras mais badaladas de Hollywood no momento, não foi sem expectativa que adentrei a sala gelada do cinema. Dizem que a expectativa é a mãe da decepção, mas não foi dessa vez que a máxima se cumpriu.

A versão de fim de mundo Nolaniana, com intempéries climáticas e, principalmente, miséria é uma das mais bem resolvidas da história do cinema. A trama acontece em um futuro não muito distante, no qual o governo se esforça para alienar a população sobre sua história passada e atual condição, ao mesmo tempo que busca uma solução para salvá-la do ocaso, mesmo que para isso seja necessário recorrer a um plano B. Esta medida, apesar de evitar a extinção da humanidade, pode ter um custo muito alto.

É neste mundo caótico que conhecemos Cooper (Matthew McConaughey), um ex-piloto da NASA, viúvo, que vive como fazendeiro com seus dois filhos e o sogro Donald (John Lithgow). Tentando suportar o estilo de vida apocalíptico de seu tempo, Cooper vive com um pé no presente, cuidando de seus filhos Tom e Murph, e com o outro no passado, onde foram enterradas sua carreira e sua mulher. Entre uma coisa e outra, Cooper se vê repentinamente envolvido em uma missão que pode definir o destino dos seres humanos. Complexo, o personagem foi entregue ao ator certo. McConaughey está em alta, no melhor momento de sua carreira, com êxito não só no cinema, mas também na TV com a série "True Detective". Ele defende bem o papel.


Outra figura importante em "Interestelar" é sua filha Murph. Ela é uma peça fundamental na trama de Nolan. A personagem é muito bem construída, especialmente pelo fato de termos a oportunidade de vê-la amadurecer durante o longa, o que nos é proporcionado pela pelos acontecimentos que envolvem a teoria da relatividade. Quando a conhecemos ela é uma menininha esperta que se vê, novamente, tendo de enfrentar a perda de um ente querido. Sua mãe já havia falecido na época em que seu pai decide ir para o espaço em uma viagem que possivelmente não terá retorno. Depois a reencontramos adulta, revoltada e inconsistente. Ao mesmo tempo em que se rebela contra a decisão de Cooper e o execra por anos à fio, busca concluir a equação que pode fazer com que ele retorne ao seu mundo. Logicamente, tamanho furacão de emoções promove o conhecimento e quando nos despedimos da personagem encontramos uma Murph sábia, completa.

Murph é interpretada por três atrizes, Mackenzie Foy (Invocação do Mal, Ernest e Célestine, Saga Crepúsculo), Jessica Chastain (Mama, A Hora Mais Escura) e Ellen Burstyn (O Exorcista, Réquiem Para um Sonho), que, respectivamente, representam as três fases do amadurecimento da personagem. Todas estão muito bem no filme, mas Chastain destaca-se por viver o pior período da vida de Murph. As cenas nas quais a personagem manda mensagens para seu pai através de uma câmera de baixa resolução são soberbas, emocionantes.


Anne Hathaway, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo musical "Os Miseráveis", vive a Doutora Amelia Brand, membro da equipe de astronautas que acompanha Cooper até o espaço. Ela é filha de Brand, um professor que trabalha para a NASA, que é vivido pelo ótimo Michael Caine. Hathaway é uma estrela e não é surpresa que sua interpretação esteja acima da média, mas o roteiro apresenta sua personagem de modo muito superficial e isso afetou sua performance. Caine, que levou pra casa o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por "Regras da Vida" e "Hannah e Suas Irmãs", está mais uma vez em um filme de Nolan em um papel de destaque. Sua personagem carrega um segredo que se revelado poderia destruir a esperança de sua equipe e, sendo assim, ela decide guardá-lo para si, mesmo que isso lhe proporcione uma vida sob um "via crúcis" infinita. Caine no entrega um Professor Brand crível em uma atuação zelosa tanto física quanto dramática.

Temos em "Interestellar outro ator vencedor do Oscar, porém na categoria Melhor Roteiro, Matt Damon. A participação de Damon é pequena e na mesma medida está a sua atuação. Assim como Casey Affleck, que faz Tom, o filho mais velho de Cooper, Damon está interpretando no automático, o que é, alias, uma de suas características.

Não posso deixar de citar o robô TARS, que ganhou a voz de Bill Irwin, e é um dos mais legais que vi nos últimos tempos, tão cool quanto o "paranóid android" Marvin, de "O Guia do Mochileiro das Galáxias".


No que diz respeito aos aspectos técnicos resta-nos dizer que o filme é soberbo, o que não é inesperado. A edição é bem feita, mas foi prejudicada pelo roteiro, que deixa muitas pistas e torna o filme previsível. Quanto aos efeitos especiais não posso deixar de dizer que estão impecáveis. Quase não se percebe o uso de chroma keyer. A edição de som também é espetacular. A cena em que acontece um despressurização na nave ficou excelente, dando a impressão de que a sala de cinema foi afetada pela manobra. Lógico, que isso só será sentido se você assistir o filme em uma sala IMAX decente.

Enfim, "Interestelar" é o filme mais nerd do ano, e se você curte sci-fi vai sair do cinema com um baita sorriso no rosto.


Marlo George assistiu, escreveu e, definitivamente, não quer que o mundo acaba daquele jeito...