Após dois filmes que são muito ruins, "Prometheus" e "O Conselheiro do Crime", Ridley Scott apela à Deuses e Reis para escapar da maldição que vem afetando seus últimos filmes nesta década. Parece que as divindades e a monarquia cinematográfica atenderam suas suplicas: "Êxodo: Deuses e Reis" é um filme competente tanto no que diz respeito à técnica, quanto artisticamente.

Recontando a história do profeta que guiou seu povo à liberdade, Scott nos apresenta uma produção grandiosa, que usa e abusa dos efeitos especiais em favor de um espetáculo cinematográfico. As famosas pragas que assolaram o Egito, no conto bíblico, são tão reais que temos a impressão de que algum encantador de insetos e animais foi o responsável por promover tamanha aglomeração de criaturas, por conta da animação que lhes proporcionou uma movimentação independente, impecável.

As batalhas também são de encher os olhos. Não são tão empolgantes quanto às de "O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos" devido ao fato de não haverem orcs, trolls e outros monstros fantásticos na peleja, mas a coreografia dos combatentes e situações que se apresentam durante as batalhas são interessantes. A divisão do Mar Vermelho não foi tão impressionante, mas não deixou de ser muito bem realizada.


Outro aspecto em que "Êxodo: Deuses e Reis" se destaca é na direção de arte. Tudo no filme parece estar no lugar certo neste quesito e uma indicação, ou até mesmo premiação com o Oscar de Melhor Direção de Arte não seria inesperada. O longa também pode ser reverenciado nas categorias de efeitos especiais, pelo que já citei acima, fotografia e som, que está extraordinário.

O elenco conta com astros como Christian Bale, John Turturro, Sigourney Weaver, Ben Kingsley, Aaron Paul (hypado por "Breaking Bad") e Joel Edgerton. Bale e Edgerton são os "irmãos" Moisés e Ramsés, que não foram muito bem retratados pelos dois atores. Bale exagera na tinta em diversas cenas do filme, o que deixou sua interpretação da personagem prejudicada. Não dá pra "enxergar" o profeta mítico, um dos mais importantes do cânone bíblico, na pele de Bale. Edgerton por sua vez não é muito parecido fisicamente com um egípcio e sempre tinha sua aparição e marcação nas cenas diminuída pela presença de Bale.

Enquanto Bale impõe sua presença nas cenas, Aaron Paul e Sigourney Weaver foram muito mau aproveitados, com pouco tempo de tela e de linhas no roteiro. Turturro e Kingsley estão muito bem no filme, mas isso não era inesperado, são dois dos atores que figuram na minha lista de preferidos do cinema.


O filme foi dedicado à Tony Scott, irmão de Ridley que se suicidou poucos anos atrás. Por ser uma história de irmãos, que apesar das diferenças de opinião, jamais deixaram de se amar e respeitar, foi bem proposital.

Êxodo: Deuses e Reis atualiza tecnicamente a história da Bíblia, apesar de ser uma versão bem diferente daquela que imaginaríamos. O filme agrada, entretém, emociona e tem grandes chances de alcançar indicações e premiações na temporada do ano que vem.

Ridley finalmente se redimiu... por enquanto, afinal de contas, "Prometheus 2" vem aí.


Marlo George assistiu, escreveu e curtiu muito o filme. Mais do que esperava. Daria três poltronas e meia se fosse possível. Vou ter que providenciar isso...