Nada melhor que um elenco dedicado e um diretor no auge de sua potência criativa para fazer um clássico acontecer. "Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo", reúne um elenco poderoso comandado por um dos mais competentes diretores da nova geração. Protagonizado por Steve Carell, que é muito famoso por sua carreira como comediante, "Foxcatcher", novo longa do diretor Bennett Miller, traz outros dois atores de peso, Channing Tatum e Mark Ruffalo.

Com apenas três longas no currículo, Bennett Miller já foi indicado duas vezes ao Oscar de Melhor Diretor. Fazendo um levantamento geral, os filmes que Miller dirigiu já contabilizam 16 indicações aos Academy Awards. Um currículo de fazer inveja em muita gente.

"Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo" tem em comum com os outros filmes do diretor o fato de ser baseado em fatos reais. O filme conta a história de John du Pont (Steve Carell) e dos irmãos Schultz (Channing Tatum e Mark Ruffalo), que se unem com o objetivo de vencerem as Olimpíadas de Seul e conquistar medalhas em luta greco-romana, mas que acabam se tornando os protagonistas de um conto de horror. O roteiro do filme, escrito por E. Max Frye e Dan Futterman, nos revela, conforme o longa metragem é exibido, cada um dos ingredientes que compõem a receita do desastre. "Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo" é um filme sombrio. Perturbador.


O modo como o filme foi montado tornou o desenvolvimento da narrativa arrastado. "Foxcatcher" tem pouco mais de duas horas, mas a sensação que tive foi de que tinha ficado na sala de cinema por quase quatro horas. O filme é tenso, do princípio ao fim, o que não seria um demérito, caso não fosse tão cansativo de assistir.

O que mais me chamou a atenção em "Foxcatcher" foi o desenvolvimento das personagens. Os atores estão incríveis. Nas cenas de luta fica evidente o esforço e dedicação que Tatum e Ruffalo tiveram antes das filmagens. Vendo-os lutar pude jurar que eles já praticavam luta greco-romana à décadas, mas tal intimidade com a modalidade é fruto de horas de treino junto à Mark Foran, um especialista no assunto, que foi dublê de Tatum. A forma como Tatum interpretou Mark Schultz, as caras e bocas, além dos trejeitos, mostram que o ator não é mais um mero coadjuvante de filmes para adolescentes como "Ela é o Cara", e sim um dos artistas proeminentes de sua idade.


Quem teve um ótimo ano foi Mark Ruffalo, que além de arrebentar no filme para TV "The Normal Heart", esteve no ótimo "Mesmo Se Nada Der Certo" e agora como o irmão de Mark Schultz em "Foxcatcher". O papel, que lhe rendeu sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, exigiu bastante do ator que, além de ter tido de encarar a bateria de treinos acima mencionada, teve que engordar 13 quilos para viver um atleta veterano de luta greco-romana. Os óculos que ele utilizou no filme, foram os mesmos usados pelo verdadeiro Dave Schultz, o que serviu de inspiração.


Mas a grande estrela do filme é Steve Carell. O ator acaba de entrar para o hall de comediantes que se deram bem fazendo filmes dramáticos. Miller chegou a dizer que apostou suas fichas em Carell para um papel tão complexo por saber que "comediantes tem um lado obscuro". Comedida, analítica e certeira é sua atuação, que com o suporte de sua maquiagem, que levava mais de duas horas para ser concluída, ficou divina. O ator chegou a dizer que assistiu por várias horas vídeos com o verdadeiro du Pont para pegar cada detalhe de sua personalidade, cada maneirismo, para fazê-lo da melhor maneira possível. Terminou sendo indicado ao Oscar deste ano, sua primeira indicação da carreira.

"Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo" é um filme inspirado, com ótimo trabalho dramático. Um filme que mostra que nem sempre o dinheiro compra um sonho, mas pode financiar um pesadelo.


Marlo George assistiu, escreveu e se chocou.