Brad Pitt volta a matar nazistas nos cinemas, ofício que desempenhou no filme de Quentin Tarantino "Bastardos Inglórios", porém, desta vez, em um filme que não tem nenhuma preocupação de ser reflexivo, sarcástico ou documental. Em "Corações de Ferro" temos uma obra que traz como cenário a Segunda Grande Guerra, mas não a obrigação, algumas vezes inerentes em obras do gênero, de ter uma trama emocionada e totalmente cravada com os pés no chão. O que encontramos é um filme de guerra fanfarrão, com altas doses de ação e aventura.

O filme conta a história de um grupo de veteranos da Segunda Guerra Mundial que são liderados por Don 'Wardaddy' Collier (Brad Pitt). Juntos, eles viajaram, em seu tanque de guerra carinhosamente apelidado "Fury" (Fúria, em inglês), massacrando nazistas desde a África, cruzando a Europa, até irem dar nas próprias terras germânicas, quase sem baixas. Quando um de seus companheiros é atingido e morto em batalha, o grupo acaba recebendo um novo recruta, o jovem Norman Ellison. Assim, Boyd 'Bíblia' Swan (Shia LaBeouf), Trini 'Gordo' Garcia (Michael Peña) e Grady 'Coon-Ass' Travis, membros do grupo do Sargento Wardaddy precisam lidar com a inexperiência e imaturidade de Ellison, enquanto seguem sua trilha de sangue e explosões.


David Ayer, que escreveu e dirigiu o filme, utilizou-se de métodos não muito convencionais na direção dos atores. Antes das cenas, Ayer promovia "brigas" entre o elenco para que eles entrassem no clima de animosidade necessário para as filmagens. Uma dessas brigas quase ficou séria quando o ator Scott Eastwood, que interpreta o Sargento Miles, cuspiu tabaco de mascar no tanque Fury. Brad Pitt e Shia LaBeouf acharam um abuso a atitude de Eastwood por ser um desrespeito à sua "casa". Os ânimos só se acalmaram quando Pitt e LaBeouf souberam que aquilo já estava previsto no roteiro. A tensão causada por tais "aquecimentos" pré-filmagens é sentido no longa. Todos os atores demonstram estar endurecidos, aborrecidos e tensos nas cenas.

Além disso, o envolvimento dos atores com o projeto também fica evidente, pois todos, à exceção de
um deles, nos entregam um trabalho conciso, bem consistente. Shia LaBeouf chegou ao ponto de extrair um dente, cortar o próprio rosto e não tomar banho durante todo o tempo em que duraram as filmagens, tudo isso para aparentar um soldado legítimo.

A exceção a que me referi é Logan Lerman, que apesar da juventude, já teve algumas chances de mostrar à que veio e até o momento não nos apresentou nenhum trabalho convincente. Lerman simplesmente estragou todos os momentos mais "emotivos" do filme com uma interpretação canastrona e que beira o amadorismo. É o ponto fraco do filme.


Não posso deixar de comentar o próprio tanque "Fury", que é um verdadeiro personagem do filme. O tanque protagoniza dois dos momentos mais legais de "Corações de Ferro", quando enfrenta um tanque gigantesco da SS e no final, quando os heróis enfrentam um pelotão inteiro de alemães em um desfecho que me remeteu à batalha de Leônidas e seus 300 guerreiros de Sparta.

A direção de arte e figurinistas apresentaram um retrato bem fiel da guerra histórica e vários dos uniformes e armamentos foram baseados em itens reais que estão em exposição em vários museus do mundo. A trilha sonora, do mesmo compositor de "Gravidade", Steven Price é quase impercebível, graças à excelente edição de som, mas é uma presença marcante durante todo o longa, promovendo o clima adequado para a aventura.

"Corações de Ferro" é um exemplo de que é possível fazer um filme que trata de um período nefasto e abominável como a Segunda Guerra Mundial como um mero entretenimento, descolado de discursos político-partidários ou de outras formas de manifestações engajadas. É tiro, porrada e bomba! Um filmaço, recomendadíssimo para os órfãos dos longas de guerra dos anos 80.



Marlo George assistiu, escreveu e queria que o filme baseado nos Comandos em Ação fosse igual à "Fury".