Toda obra de ficção, por mais fantasiosa que seja, precisa ser calcada na realidade sob pena de cair na irrelevância e de se tornar absurda. Quando o assunto é a ficção científica o cuidado com a pesquisa e a preocupação com detalhes precisa ser maior ainda, pois qualquer deslize no que diz respeito às leis da física e da ciência descredibilizam a obra.

"O Destino de Júpiter", novo filme dos irmãos Wachowski, que tão brilhantemente criaram o maravilhoso filme "Matrix", falha justamente na falta de cuidado na pesquisa e por abusar de todos os aspectos da ficção científica.

Andy e Lana já mostraram inconsistência com as sequências de sua obra maior. "Matrix Reloaded" e "Revolutions" são filmes dispensáveis, que em nada complementam a obra original. "Speed Racer", primeira adaptação da dupla também não convence e não passa de um espetáculo visual, que pouco se parece com o desenho animado que animava as manhãs da garotada nas décadas de 70 e 80.

Agora, com "O Destino de Júpiter", os irmãos demonstram, pateticamente, inépcia naquilo em que se propõem, novamente.


O filme tem um roteiro raso demais. Júpiter é uma moça que trabalha como faxineira, ganhando a vida lavando latrina e que vive em Chicago com a família, de origem russa, que vive tentando tirar vantagem dela. Um belo dia, enquanto está trabalhando, Júpiter vivencia uma experiência de contato extraterrestre e, de repente, é envolvida em uma perseguição espacial. Caine, um licantropo alienígena, a resgata de perseguidores vindos do espaço. Mais tarde, já à salvo, ela vem a descobrir que é geneticamente idêntica à matriarca da família mais poderosa da galáxia, os Abrasax, e que por isso, pode ser considerada a reencarnação desta pessoa, tendo direito à todas as suas posses. Assim sendo, os três filhos da matriarca dos Abrasax, que são brigados, precisam tê-la ao seu lado para reivindicar aquilo que é seu por direito, e uma dessas posses é a Terra.

Em minha opinião, em galáxia nenhuma, nem em lugar nenhum, uma Lei de sucessão desse tipo seria sancionada. E os absurdos não param por aí. Desconfiado das intenções do mandante do "rapto" de Júpiter, Caine a leva até um antigo mentor, Stinger, que vive em uma casa que mais parece uma colmeia gigante. Assim que Caine e Júpiter chegam lá, várias abelhas voam para perto da garota, mas não a picam, apesar dos vários tapões que ela desfere contra os incautos insetos. Nesse momento, Stinger se ajoelha e a trata como à uma Rainha, dizendo que as abelhas sabem reconhecer a realeza. Ora, já não basta que um cidadão que cria abelhas se chame Stinger (ferroador em inglês)? Era preciso mesmo dar às abelhas esse dom?


À partir deste ponto, vi que o filme seria uma galhofa. Foi quando caiu a ficha que não seria desta vez que os Wachowski iriam repetir o sucesso que tiveram com "Matrix".

O que se segue, é uma história sem pé, nem cabeça, com algumas cenas de batalha interessantes, acompanhadas de uma trilha sonora ensurdecedora, e vários momentos involuntariamente cômicos. Os patins voadores de Caine, o figurino espacial ridículo, alienígenas tão artificiais quanto os de filmes antigos com fantoches e o erotismo gratuito transformam "O Destino de Júpiter" em um dos filmes mais irrelevantes que já assisti.


Além do mais, o elenco traz dois atores que estão se destacando no momento e ambos foram pouco aproveitados no filme. Channing Tatum mostrou que é mais que um rapaz musculoso em "Foxcatcher: A História que Chocou Mundo", no qual realizou um trabalho digno de nota, e Eddie Redmayne é nada mais, nada menos que o ator favorito a levar a estatueta de Melhor Ator no Oscar deste ano por "A Teoria de Tudo". A incompetência é tamanha, que eles sequer aproveitaram para fanfarrar a presença de Redmayne nos materiais promocionais do filme. Daria tempo de fazer isso, pois lembre-se que "O Destino de Júpiter" seria lançado na metade de 2014, mas foi adiado porque, segundo a produção, eles queriam melhorar os efeitos visuais e outros aspectos técnicos. Não ter Eddie Redmayne no poster, sendo ele o vilão principal do filme é de uma falta de visão encabuladora.

Enfim, a história da Cinderela espacial de Andy e Lana não passa de um filme caro, sem inspiração e não passará de uma presença constrangedora na filmografia dos profissionais envolvidos.

Quanto ao destino da faxineira Júpiter, creio que seja um esquecimento misericordioso. Quanto ao destino dos Wachowski, parece que será não passar de uma dupla do estilo "One Hit Wonder".



Marlo George assistiu, escreveu e acha que o Sean Bean não morrer neste filme é um absurdo.