O diretor vencedor do Oscar por "Os Imperdoáveis"(1992) e "Menina de Ouro" (2004), Clint Eastwood, retorna aos cinemas em 2015 com mais um filme baseado em fatos reais. "Sniper Americano" conta a história extraordinária do veterano da "guerra ao terror" Chris Kyle, um sniper (atirador de elite, especializado em "neutralizar" inimigos à longa distância e com um único disparo). que "neutralizou" mais de 150 inimigos da liberdade, durante seus quatro turnos na zona de guerra.

"Sniper Americano" acabou gerando polêmica, nos EUA,  uma vez que exalta a figura de um homem que cumpriu seu dever assassinando homens, mulheres e crianças, decidindo seus destinos baseando-se apenas em seus próprios instintos e julgamentos. Observando brevemente um "suspeito", Kyle decidia se esta pessoa era um inimigo ou não, e com sua mira precisa executava sua sentença de forma sumária. Em suma, ele decidia quem iria viver ou morrer.

Por ser baseado na autobiografia do soldado americano, o roteiro fatalmente se tornou pobre, pois algumas questões importantes para o tema, como por exemplo uma eventual discussão moral das atitudes do protagonista, deixaram de ser exploradas. Pelo contrário. O que temos é, como já citei acima, uma exaltação ao "grande herói americano" que Kyle acabou se tornando, o que faz com que uma platéia estrangeira, como a nossa, tenha certa dificuldade em simpatizar com o biografado.


Como Chris Kyle temos o astro Bradley Cooper, que inicialmente iria apenas produzir o filme (Chris Pratt de Guardiões da Galáxia estava escalado para o papel), mas decidiu encarnar o veterano durante o processo de desenvolvimento do projeto. Cooper é um ator muito competente (tanto é que está sendo indicado por este papel ao Oscar de Melhor Ator, sendo esta sua terceira indicação consecutiva) e nos entrega o personagem com maestria. Pode até ser que não conquiste o prêmio, mas merece a indicação por sua dedicação, afinal, teve que se submeter à uma dieta rigorosa de 8.000 calorias e um treinamento constante de quatro horas diárias para ficar com a forma física de Kyle.

O restante do elenco não traz grandes nomes, além de Sienna Miller, portanto não há muito o que falar, uma vez que o longa não revela nenhum astro. Miller continua linda e é responsável por uma ou outra cena que tenta puxar a platéia pela emoção, mas não se destaca muito, apesar de ter sido indicada ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pela Sociedade de Críticos de Cinema de Denver.


A edição de som e mixagem são caprichadas. O clima de guerra invade a sala do cinema sempre que os soldados entram em ação. Interessante notar que os tiros e sons da batalha não são distribuídos nos canais de áudio à deriva. Todo o som acompanha cada cena de forma bem precisa, transmitindo uma sensação de imersão total ao filme. Já a edição segue à risca o catecismo da matéria, não apresentando nada de inovador e sequer saindo do comum. É apenas decente.

Quem está acostumado, como eu, a ver verdadeiras pérolas cinematográficas toda vez que encara um filme dirigido por Clint Eastwood, pode se decepcionar dessa vez. O longa tem uma visão partidária republicana tacanha, redneck e sem inspiração. Em diversos momentos me senti como se estivesse assistindo à um filme de propaganda política. Se Clint quis ou não popularizar a imagem do mártir "Chris Kyle", praticamente às vésperas das próximas eleições presidenciais americanas, no intuito de promover a agenda republicana, não posso afirmar. Mas que deu a impressão de que era exatamente isso que ele fez, isso deu.



Marlo George assistiu, escreveu e gosta de country, do "american way of life", tem um chapéu de cowboy e uma calça com skoal ring. Mas, definitivamente, não gostou de Chris Kyle.