Sabe aquela pessoa ranzinza, amarga, que ninguém gosta dela - e vice-versa -, aparentando não possuir amigos, parentes ou qualquer laço de afetividade para merecer o título de ser humano?
E se te mostrassem que esta pessoa insuportável já sorriu um dia e até já amou mas a vida - esta grande caixinha de surpresas - tratou de escrever um roteiro mais sombrio e completamente inesperado, por puro capricho?

Este é o tema principal de "Um Santo Vizinho", estrelado por Bill Murray e grande elenco.

Entrega, recompensa e insatisfação

A grande maioria das pessoas esperam rir muito quando assistem um filme estrelado pelo eterno Peter Venkman de "Os Caça-Fantasmas".

Porém, apesar de possuir momentos engraçados, este filme está BEM LONGE de ser considerado uma comédia. É um drama pesado e um tanto soturno. Mas completamente possível.


Bill Murray mostra-se em afiada forma, compondo uma personagem que se confunde com seu próprio jeito de ser - ou aquilo que achamos que Bill Murray é quando ninguém está olhando...
A antipatia inicial que Murray traz à baila logo é substituída pela compreensão e até mesmo alguma identificação.

Quando se descobre as motivações de sua personagem, entendemos por que ele age como um pústola e até o perdoamos pelos exageros pois não deve ser fácil passar pelo monte de problemas que passou e ainda estar aí para contar a história...

Melissa McCarthy SURPREENDE com o drama perfeitamente crível de sua personagem, que perdeu no jogo da vida e precisa recomeçar ao lado do filho. Uma cena em particular pode levar espectadores mais sensíveis às lágrimas. Mas - ainda mais importante - também à reflexão.

E como deixar de comentar a respeito do excelente novato Jaeden Lieberher, que brilha e até rouba a cena de muitos veteranos ao longo do filme? Ele é tão carismático que consegue emocionar a plateia apenas lendo um texto - que tem a ver com o título original do filme e comentar do que se trata seria entregar um baita spoiler.

Até mesmo o quase sempre exagerado Terence Howard está bem em cena.


Possivelmente, a "culpa" das boas performances neste filme seja por conta do roteiro e da direção de Theodore Melfi, que demonstra ter domínio de seu mister, deixando os atores e atrizes à vontade para improvisar mas não o suficiente para atrapalhar o andamento da cena em si.

Porém, apesar dos elogios, devemos salientar que "Um Santo Homem" não é um filme perfeito. Com uma clara intenção de ser indicado à prêmios e, quem sabe, ao cobiçado Oscar, temos uma trama que não se decide que tipo de história contar.

Se por um instante temos o ranzinza Murray descobrindo-se poder sorrir e até se divertir cuidando do pequeno Jaeden - com direito até mesmo a curso intensivo de como quebrar um nariz! -, em seguida somos apresentados à uma parte violenta de sua persona e, embora ferindo a si mesmo, não deixando de ferir a quem está à sua volta. Tudo para deixá-lo (ainda mais) humano? Claro! Mas o resultado soou um tanto discrepante quando o conjunto é analisado.


Naomi Watts também não foi favorecida em sua personagem, que tinha pretensões de ousadia mas que terminou numa caricatura do que se entende de prostitutas e estrangeiras. Pena.
Mas não tem como finalizar sem mencionar a excelente trilha sonora, com medalhões esquecidos do rock e country, que é até um personagem da trama, de tão icônica.

Se o roteirista e diretor tivesse escolhido apenas o caminho do drama, "Um Santo Vizinho" seria um daqueles filmes dignos de concorrer - com prováveis chances de ganhar - o Oscar. Não é o caso. Mas está longe de ser um filme ruim, em comparação à atual safra do cinema contemporâneo, cada vez mais sofrível.


Kal J. Moon não gosta de pessoas. E as pessoas também não gostam dele. Então, tudo certo...