O sonho americano, a fábula estadunidense de que qualquer pessoa pode alcançar o sucesso, seja lá qual for o seu objetivo, apenas com seu próprio esforço, já foi tema de várias produções cinematográficas ao longo dos anos. Porém, nenhuma destas é mais emblemática que "Scarface", de Martin Scorsese, que retrata a ascensão rápida e queda brusca de Tony Montana (Al Pacino), um imigrante, foragido de Cuba que não mede esforços para conseguir aquilo que quer na Terra do Tio Sam.

Abel Morales, outro imigrante da ficção e protagonista do filme "O Ano Mais Violento", tem muitos pontos em comum com Montana, com exceção de um: Ao contrário do personagem de Al Pacino, Morales, que é interpretado pelo guatemalteca Oscar Isaacs, é extremamente honesto e ético. Além disso, é exigente e espera que aqueles que trabalham para ele também tenham as mesmas atitudes. O que é na prática, convenhamos, quase impossível.

Dono de uma companhia que distribui combustíveis, Morales tenta expandir seus negócios enquanto lida com especuladores imobiliários, desvio de dinheiro, agiotas gananciosos, roubo de carga e com acusações sobre aspectos inidôneos de seus negócios que estão sendo movidas por um promotor dedicado à seu ofício, chamado Lawrence (David Oyelowo). É neste cenário que o empresário e sua mulher (Jessica Chastain) precisam resolver seus problemas financeiros e pessoais, antes que o mundo desabe sobre suas vidas.


Escrito e dirigido por J.C. Chandor"O Ano Mais Violento" é o terceiro filme do diretor americano que chamou a atenção ao ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original por "Margin Call - O Dia Antes do Fim" (2011) e pela direção de "Até o Fim", filme esplendido que foi injustiçado pela Academia em 2013, quando só recebeu uma indicação ao Oscar, para Robert Redford.

Inspirador e com o mérito de ser ao mesmo tempo sombrio, o filme é um testemunho de como a vida de um imigrante em um país estrangeiro, em especial os EUA, pode ser próspera, ou esperançosa, porém instável. Em Abel temos um homem bem sucedido, que está se equilibrando, passo à passo, sob o fio de uma navalha, enquanto em Julian, um motorista de caminhão vivido por Elyes Gabel, somos apresentados à outra realidade: A do imigrante que busca uma oportunidade, mas que não está maduro o suficiente para dar o primeiro passo.

Em ambos os casos, um passo errado e tudo pode ser posto à perder.


Com um elenco entrosado e uma trilha sonora que mantém a tensão durante os 125 minutos de projeção, "O Ano Mais Violento" é uma ótima oportunidade pra quem quer fugir dos blockbusters que irão estrear nesse feriadão. Só não se engane com o título, o filme não tem cenas de violência extrema. O nome do filme é uma referência ao ano de 1981 que é considerado o ano mais violento de todos os tempos de Nova Iorque, época e local onde se passa o longa.

Mais do que recomendado, é obrigatório.



Marlo George assistiu, escreveu, e se lembra vagamente de 1981, mas se recordará com carinho desse filme no futuro.