Joss Whedon e a Marvel Studios estão de volta aos cinemas com "Vingadores: Era de Ultron", sequência do filme mais aclamado de 2012. O longa faz parte do Universo Cinematográfico Marvel (UCM), a franquia mais criativa da história do entretenimento, enraizando-se no cinema e na TV com propriedade por ter como semente o cânone dos quadrinhos.

Minha expectativa estava nas alturas, mas o resultado acabou me deixando dividido.

Após ter sido bombardeado com farto material de divulgação, a impressão que tive era de que já tinha visto aquilo que estava rolando na telona. Afinal de contas, o roteiro simplesmente replica a fórmula utilizada no primeiro filme dos "Maiores Heróis de Terra" e isso (aliado ao fato de já ter assistido todos os trailers e clipes, de ter visto todos os stills e pôsteres) me causou uma sensação de déjà-vu.

Justificando isso, tiro como exemplo a armadura "Hulkbuster". Se apenas tivéssemos vislumbres desta nos trailers e imagens de divulgação, a surpresa e impacto do primeiro aparecimento da armadura (que está deslumbrante) seria muito maior do que foi pra mim.

Além disso, já me cansei dos protagonistas do filme. Rever o Homem de Ferro, Thor, Capitão América e, até mesmo o coadjuvante Nick Fury, fazendo as mesmas coisas de sempre me deu uma sensação de reprise que não sentia desde os áureos tempos em que assistia Sessão da Tarde da Rede Globo. Não vejo a hora de assistir os desdobramentos fatais previstos para os próximos filmes da franquia, que, pode ser, venham a aposentar a maioria desses heróis citados, de um jeito ou de outro.


O ponto mais negativo, na minha opinião, foi a repetição de fórmula. Assim como no primeiro filme, "Vingadores: Era de Ultron" começa com uma situação de conflito, daí os heróis se desentendem, depois se reconciliam e combatem o mal como um grupo coeso e entrosado. O vilão novamente é carismático e tem um exército maior que a vida. E no final nos despedimos dos personagens da mesma maneira que o fizemos no filme anterior, com algumas variações. Até a cena que rola depois da apresentação do staff top do filme não traz nenhuma novidade e é bem irrelevante, não se conectando de forma inteligente com os filmes que estão por vir,. Só confirma a participação, já esperada, de um vilão nos próximos filme dos Vingadores, que será inspirado no arco dos quadrinhos da Marvel "Guerra Infinita".


As soluções encontradas para desenvolver a narrativa foram de uma falta de ousadia sem precedentes na franquia UCM.

Wolfgang von Strucker, personagem de Thomas Kretschmann introduzido em "Capitão América 2: O Soldado Invernal" foi muito mal aproveitado, sendo utilizado como mera ligação entre os Vingadores, o cetro do Loki e os irmãos Maximoff. Kretschmann estava perfeito no papel, ameaçador e com boas falas, mas poderia ter sido melhor inserido na trama, até mesmo sendo usado como arquivo vivo para deter Ultron. Ficaria feliz vendo Wanda Maximoff torturando seu torturador em troca de informações.

O até então insosso Gavião Arqueiro (Jereme Renner) foi mais desenvolvido, deixando-o mais interessante. Porém, tal participação maior do herói na trama não passava de uma estratégia para se criar uma situação imprevisível no final do filme. Não vou contar qual é, mas é piegas ao extremo e um forçação de barra incrível. Piegas também, mas não imprevisível, é a cena em que o Thor entra em uma piscina natural em busca de informações irrelevantes. Fizeram isso só para que o Chris Hemsworth ficasse de peito desnudo, novamente.


As novidades são as apresentações de três novos heróis, Feiticeira Escarlate (Elisabeth Olsen), Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson) e Visão (Paul Betanny). Estes três personagens são as cerejas do bolo de "Vingadores: Era de Ultron" .São o que há de mais legal no filme, o que demonstra que a franquia precisa realmente de novidades. Gostei do fato de nenhum deles ter tido seu nome de guerra revelado. Enquanto a Feiticeira e Mercúrio são referidos apenas por suas identidades secretas ou como "os gêmeos", Visão é "batizado" por Ultron de forma bem sutil. Ficou legal.

Nos quadrinhos a Feiticeira Escarlate e o Visão são casados e isso foi aproveitado no filme. A Feiticeira apaixona-se à primeira vista em uma cena tocante e o romance dos dois deve ser desenvolvido nos filmes futuros. Futuro incerto terá o Mercúrio, que é responsável por novas piadas ao fato de ser super-rápido (outro déjà-vu). Não irei revelar o que acontece com o personagem de Aaron Taylor-Johnson, para não dar spoilers, mas é um fato que irá definir sua participação na franquia de uma vez por todas.


Curti a forma como o relacionamento entre a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Bruce Banner (Mark Ruffalo) foi explorado. Os dilemas dos dois personagens acabam se entrelaçando de modo a sugerir que eles praticamente nasceram um para o outro. Ficou muito bonito e serve à história. Não será um romance banal e terá complicações no futuro.

Outro ponto forte do filme é o vilão Ulysses Klaw, que não faz uma participação gratuita no filme. Serviu para inserir Wakanda, o país do Pantera Negra, no mapa da franquia, e ainda conta com a interpretação impressionante de Andy Serkis em uma das sequências mais legais de "Era de Ultron".

O vilão do título, a inteligência artificial Ultron, é o meu personagem favorito dentre os que debutaram neste longa. Apesar da origem óbvia e pouco inspirada, o personagem em si é robusto e tem profundidade. Plugado, ele acaba adquirindo conhecimento filosófico suficiente para chegar à conclusão de que os humanos não conhecem os conceitos de paz e harmonia de modo à aplicar estes conceitos na prática. Citando de Jesus à John Lennon e também Walt Disney, Ultron justifica suas ações em sua própria falta de humanidade. Para ele o que é humano (demasiadamente humano) é falho e uma nova ordem deve ser implantada. O destino do personagem no longa disfarça, acredito, aquilo que o título sugere. Afinal, se estamos diante da "Era de Ultron", esta não será, possivelmente, restrita à alguns dias. Pode ser que o vilão retorne ou deixe "rastros" nos próximos filmes do UCM.


No que diz respeito aos aspectos técnicos do filme, resta dizer que é um filme da Marvel Studios e que eles sabem o que fazem. Visualmente é lindo, com figurinos convincentes e direção de arte impecável. Os efeitos especiais estão um passo à frente do que se vê atualmente no cinema, o que resultou na melhor encarnação digital do Hulk de todos os tempos. Neste sentido o filme esbanja competência.

A trilha sonora de Danny Elfman tem identidade própria apesar ser baseada na original, do compositor Alan Silvestre.

Concluo que, inferior ao primeiro filme dos "Vingadores", "A Era de Ultron" não é um filme nem de todo ruim, pois tem lances bacanas, mas também não é lá essas coisas por conta da repetição de fórmula e sensação de déjà-vu, comentadas acima. Não passa de um filme bom, que entretêm, mas que não figurará entre os meus preferidos do gênero, por não inovar e tentar se sustentar no "mais do mesmo" ou no antigo ditado "em time que está ganhando não se mexe". Faltou ousadia.




Marlo George assistiu, escreveu e não curtiu ter tido tão pouco tempo pra escrever a crítica. Bola fora Disney, a cabine do Rio poderia ter sido promovida simultaneamente com a de Sampa e não no dia da pré-estreia.


Outros críticos:

Para Kal J. Moon o filme ganhou duas estrelas "A piada não funciona duas vezes (...) é a grande decepção do ano".