Dentre as regras não divulgadas sobre o ofício dos escritores, duas sempre chamaram atenção de quem é novato no assunto:

1) Não subestime seu público pois ele é mais inteligente do que aparenta;
2) Não crie expectativa que não possa ser atendida ou superada.

Se isso é uma verdade, não se tem como comprovar.

Mas é contra essas "regras" que o filme "Para o que Der e Vier" - estrelado por Owen Wilson, Zach Galifianakis, Amy Poehler e grande elenco - parece tentar subverter o tempo todo.

Cinema versus TV

Quando se fala em expectativa que precisa ser superada, basta imaginar que um filme estrelado por Owen Wilson e Zach Galifianakis seja, a princípio, uma comédia rasgada, daquelas de desopilar o fígado de tanto rir, com situações impróprias para menores, envolvendo substâncias químicas ilícitas e coisas do gênero, certo?


Mas "Para o que Der e Vier" é um pesado drama sobre Ben Baker (Galifianakis), um homem com 
comportamento infantil, que vive no sofá de um amigo praticamente todo
o tempo.  Seu amigo, Steve Dallas (Wilson), é um repórter do tempo com relativo sucesso, mas que vive uma vida superficial.

Quando Ben recebe a notícia da morte de seu pai, Steve o ajuda a voltar para casa, onde os dois se reencontram com a irmã bem-sucedida, Terri (Poehler), e a madrasta hippie, Angela (Laura
Ramsey) - que tem a mesma idade deles. A leitura do testamento faz com que Ben repense a vida, o que não necessariamente inclui o apoio da nova ”família"...

Nada contra astros reconhecidos pela comédia se aventurarem em papeis mais dramáticos de quando em vez. Estão aí Jim Carrey e Robin Williams para provar que funciona.

(Quer dizer, funciona quando bem executado, claro...)

Só que a trama escrita e dirigida por Matthew Weiner - sim, ele mesmo, o criador do cultuado seriado "Mad Men" - tem em seu maior erro tentar emular uma profundidade inexistente. E acaba se apegando aos erros advindos da linguagem televisiva, onde existe um espaço maior para desenvolver o drama de um personagem por capítulos a fio, deixando muito do sub-texto para que fique subentendido.

Mas a linguagem cinematográfica depende de outros recursos para que uma história funcione... E menos tempo também.

Curiosamente, o filme mostra algum humor - às vezes, até involuntariamente - com o propósito de humanizar ainda mais aqueles personagens doentios. Mas nada funciona.

E a impressão que se tem é que todos em cena não fazem ideia do que diabos estão fazendo ali - o que pode muito bem ser verdade...

Estranho mesmo é a mensagem "positivista" vinda de dois dos mais controversos comediantes da atualidade.

Resumindo: Um grande desperdício de tempo, dinheiro e talento.



Kal J. Moon nunca pensou que fosse receber uma lição de moral vinda de Owen Wilson e Zach Galifianakis... Tremenda piada de mau gosto!