Filmes nacionais, quase que em sua maioria, me desagradam. As comédias não funcionam por pecarem pelo excesso no conteúdo das piadas, Os dramas são enfadonhos ao ponto de causar sonolência e os infantis envelheceram tristemente.

Mas de vez em quando surge algo legal, original e que merece nossa atenção.

"Muitos Homens Num Só" é o primeiro longa de ficção da diretora Mini Kerti e esta já começa com o pé direito. Conhecida no ramo publicitário, Kerti já dirigiu alguns documentários e programas de TV, entre eles, dois episódios da série "Preamar" da HBO. Tendo em vista seu currículo, foi prazeroso testemunhar seu desprendimento do formato televisivo à favor de uma visão cinematográfica da história baseada nas crônicas de João do Rio.

"Bom gosto" é o adjetivo que pode definir o trabalho de Kerti neste filme.

O cuidado ao escolher a paleta de cores ideal, que deu um ar nostálgico, e porque não dizer fotográfico, às cenas complementam a direção de fotografia (impecável) de Flávio Zangrandi. Assistir o filme é como passear por uma galeria de fotos, em movimento, da época do Rio antigo.


Destaque também à ousadia empregada na edição de um filme cheio de nuances como "Muitos Homens Num Só". Por causa da história complexa, qualquer erro na edição poderia comprometer o entendimento da história que Leandro Assis e Nina Crintzs, que assinam o roteiro, queriam contar. Isso não acontece e o filme tem uma trama fluente, apesar de seu texto rebuscado.

O elenco é de primeira categoria e conta com a internacional Alice Braga (Elysium) e Vladmir Brichta (Tapas & Beijos) como protagonistas. Eles encarnam o "casal" Artur e Eva. Ele, um bandido com uma história triste pra contar e muito charme. Ela uma mulher alienada pelo marido e ávida por novas experiências. Juntos perambulam pelos lugares mais chiques e malditos do Rio de Janeiro, vivendo o amor, que sempre buscaram, mas consideravam perdido. Braga e Brichta demonstram muita química em cena e seria ótimo vê-los juntos novamente em projetos futuros.

Completam o elenco Pedro Brício, que interpreta o marido afetado e almofadinha de Eva e a impagável dupla Silvio Guindane e Caio Blat, como o jornalista Barreto e o precursor da Identificação datiloscópica Félix Pacheco. Os dois são os responsáveis pelos momentos mais cômicos do longa.

Com um pé no cinema noir e trama bem sacada, "Muitos Homens Num Só" é, e de longe, o melhor filme nacional que assisti nos últimos anos.



Marlo George assistiu, escreveu e viajou com Artur e Eva pra uma época em que os bandidos e os amores eram mais românticos.