Quando Brad Bird desistiu de dirigir "Star Wars: O Despertar da Força", achei que ele tinha cometido o maior erro de sua carreira. Por que um diretor do cacife de Bird, que atingiu o reconhecimento com "Os Incríveis" de 2004, iria declinar de deixar sua marca e seu nome em uma franquia tão poderosa quanto Star Wars?

Segundo o próprio Bird, ele não poderia conciliar a tarefa de dirigir os dois filmes, e sob o pretexto de que não poderia deixar escapar a chance de dirigir um filme tão original quanto "Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível", deu preferência à este projeto.

Confesso que, quando soube dessa história, como já disse, achei que ele tinha errado. Mas agora, após ver o que ele fez em "Tomorrowland", tenho de concordar que foi a opção certa.


Isto porque "Tomorrowland" é um filme de ficção-científica que foi feito para crianças, mas que não subestima a inteligência infantil. Trata-se de uma produção criada para as crianças de hoje em dia, habituadas com tecnologia e com tramas mais elaboradas que aquelas dos contos de fadas.

Sem exagerar nos clichês, Brad Bird entregou um longa que tem assinatura própria, apesar de ser um produto "genuíno" da Walt Disney Pictures. Temos heróis e vilões, bem definidos e sem tons de cinza, que perambulam entre o mundo real e o "fantástico". Nada poderia ser mais Disney que isso, só que o toque de mestre de Bird, aliada à sensibilidade do roteiro, fez com que tudo ficasse original. Arrisco até dizer que se não fosse a pegada infantil no tom do filme e se a trilha sonora fosse menos tradicionalmente sci-fi e mais tensa, "Tomorrowland" seria um filme para audiências maduras.

O roteiro excelente e assinado por BirdDamon Lindelof (Além da Escuridão: Star Trek) é baseado na história que ambos escreveram com Jeff Jensen. "Tomorrowland" tinha potencial de ser um filme para adultos, mas ao invés de entregar o óbvio, eles decidiram entregar o que era preciso. Um filme esperto, com ótimas sacadas e trama que apesar de simples, não é banal. Pra ser mais justo, a simplicidade da história que é narrada pelos personagens Frank e Casey é o elemento mais importante do roteiro, pois enriquece-o de forma inesperada, uma vez que estamos diante de uma grande história, que precisava ser contada do modo como foi contada.

O que Bird e Lindelof fizeram só encontra paralelos em filmes como "Matrix" e "Blad Runner". É de explodir sua mente.

Digo que fui assistir o filme com certo cinismo, mas acabei sendo arrebatado pela trama singela e pelo modo como os personagens são motivados a fazer o que devem fazer. Todas as ações são alicerçadas em filosofias que estimulam a perseverança e a vontade de sobreviver em um mundo prestes a ter seu fim inaugurado por uma invenção que deveria ser usada para prever a evolução intelectual da humanidade e não seu ocaso.


O elenco do filme é bem interessante, por ser uma salada exótica. Temos o caricato e canastrão George Clooney antagonizando com o cult Hugh Laurie e a dupla divide cenas impagáveis (não tem preço assistir Clooney e Laurie caindo na porrada). A estrelinha do momento, Britt Robertson, também está lá protagonizando o filme, e muito bem diga-se de passagem. Mas o grande destaque é a novata Raffey Cassidy, que interpreta uma das personagens mais legais da sci-fi dos últimos anos.

A direção de fotografia, do vencedor do Oscar Claudio Miranda, não escapa de seu padrão e é impecável.

Um filme que transpira referências do Mundo Encantado de Walt Disney.

Quem já teve a oportunidade de visitar os parques da Disney, em especial o complexo que fica em Orlando, Flórida, irá reconhecer muitos dos itens cenográficos, figurinos e até mesmo armas que aparecem em "Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível". A própria ideia de uma cidade em que a tecnologia poderia avançar sem interferências de grandes corporações ou do poder econômico (que corrompe e macula o progresso no mundo real) é baseado no conceito do EPCOT Center (Experimental Prototype City Of Tomorrow, ou Protótipo Experimental da Cidade do Amanhã).

O filme começa com a tradicional vinheta da Disney, porém, no lugar do castelo da Cinderella está a futurista construção que fica no coração de Tomorrowland e quem passa voando e marcando um semi-círculo no céu é um foguete ao invés da Tinker Bell. Além disso, Frank Walker (personagem de George Clooney e Thomas Robinson) visita no filme o mesmo evento no qual Walt Disney em pessoa introduziu o "Carrossel do Progresso", em 1964.

As referências são tantas que se eu tivesse que citar cada uma delas esta crítica ficaria enorme. Elas são mais explícitas, e aparecem em maior número em uma loja de souvenires e memorabilia de filmes de ficção científica. Nela podemos ver personagens e itens de filmes como Star Wars, Os Incríveis, Toy Story, entre outros.



Marlo George assistiu, escreveu e a única coisa que aconteceu quando ele tocou em um pin, que encontrou por acaso, foi furar o dedo.