Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades.
A máxima acima, que já serviu de conselho para um famoso herói da
Marvel Comics, não poderia ser aplicada à
Jessica Jones . No caso dela, seus super-poderes trouxeram apenas mais problemas para sua vida conturbada.
Jessica Campbell Jones é uma investigadora particular alcoólatra, que tira seu sustento expondo, para quem lhe paga, os podres de terceiros. Serviço sujo? Sim, porém honesto. Por ser superpoderosa procura se expor pouco, agindo com cautela pela cidade Nova York, mas tudo muda quando ela esbarra com um homem muito peculiar. Um sujeito que pode controlar mentes chamado
Kilgrave.
Com roteiro fraco, diálogos desinteressantes e história muito diferente da
graphic novel "
Alias", de
Brian Michael Bends e
Michael Gaydos, as aventuras da heroína
Safira dos gibis é contada na TV como uma história de gato e rato. E como em todas as histórias desse tipo o final é previsível. Além disso a trama é arrastada, e contém alguns
fillers que não contribuem muito com a narrativa e só servem para distrair o espectador enquanto estica a duração dos episódios.
Porém, colocando isso de lado, a série mais acerta do que erra. Afinal a única coisa que salva este roteiro da danação total é o desenvolvimento e apresentação de personagens, que foram bem feitos.
Krysten Ritter e
David Tennant vivem a anti-heroína e o vilão de
Marvel´s Jessica Jones. Ambos,
Jones e
Kilgrave, são pessoas chatas, inexpressivas, enfadonhas e pouco interessantes. Uma é ébria, anti-social e tem poucos escrúpulos. Enquanto o outro é um sujeito com tendências fascistas, egoísta e que controla mentes. Nas peles de atores errados, tais personagens colocariam ainda mais em risco o projeto, mas a dupla conseguiu caminhar no fio da navalha que separa o minimalismo do exagerado, e conseguiram entregar um trabalho correto, representando muito bem as duas personas.
Naturalmente estranhos, o "casal" tem química em cena, e isso foi fundamental para me fazer esquecer o script capenga.
Somos finalmente apresentados ao herói
Luke Cage, que veio crescendo em popularidade entre os fãs de quadrinhos nos últimos anos, sendo interpretado por
Mike Colter, que se mostrou perfeito para o papel. Acaba sendo impossível pensar em alguém melhor que ele para viver o "casca grossa".
Outro ponto positivo foi
Rachael Taylor que interpreta
Trish Walker, a melhor amiga de
Jessica. A atriz convence como celebridade fútil que quer ser levada à sério após ter tido uma infância dosada à base de deslumbre e abuso físico. Nos quadrinhos
Trish (ou
Patsy) é a
Gata do Inferno, heroína que chegou a integrar o super-grupo
Vingadores.
Trish é a segunda participação de
Taylor em uma produção baseada na
Marvel. A primeira foi no horroroso filme
O Homem-Coisa: A Natureza do Medo.
Vários personagens conhecidos dos quadrinhos desfilam pela série, porém muito diferentes de suas versões originais . Como por exemplo
Malcolm Drake e
Dorothy Walker, interpretados por
Eka Darville e
Rebecca De Mornay, respectivamente.
De Mornay é uma estrela e não tem uma participação muito grande na trama, mas
Darville é um ator promissor que merece sua atenção. Interpretou um personagem difícil, que tem uma epifania no meio da história, mudando de rumo, e mandou muito bem. Tem futuro esse garoto.
Carrie-Anne Moss, a
Trinity de
Matrix, retorna à TV em um papel fundamental ao enredo e volta a ter os holofotes voltados para si, após alguns anos de ostracismo injusto, visto que é uma grande atriz. Como é baseada em um advogado de super-heróis da
Marvel Comics, pode ser que seja aproveitada em outras séries e até mesmo no cinema futuramente.
Do elenco principal só
Will Traval não deu conta do recado. Ele é
Will Simpson, personagem que não existe nos quadrinhos, mas que alguns apostam ser inspirado em
Nuke, que é relacionado ao
Wolverine, nos gibis.
Traval teve uma performance, digamos, meio que no automático, e não impressionou. Soou amador em alguns momentos.
Rosario Dawson reprisa seu papel de
Demolidor, criando um elo entre as duas séries da
Netflix. Ela estará também em
Marvel´s Luke Cage.
Marvel´s Jessica Jones só desagrada por ser baseada em um gibi muito bem escrito pelo mesmo individuo que serviu como consultor na série.
Brian Michael Bends tinha a obrigação de ter enxugado mais o roteiro, tendo em vista um elenco tão bom e um
hype favorável. Se ignorar o roteiro, vale a pena assistir pelas performances e pelos
easter eggs.
Marlo George assistiu, escreveu e achou muito, muito interessante saber que Trish Walker curte uniformes de super-heróis...