O filme que eu queria assistir... há muito tempo.

Minha relação com Star Wars é bem antiga. Tão antiga que data de uma época em que nem nos referíamos à Saga por este nome. "Guerra Nas Estrelas", era assim que eu chamava um de meus filmes favoritos da infância, e de sempre. Tive a felicidade de assistir a trilogia clássica no cinema ao lado de meu pai, que me usava como desculpa para ir curtir um cineminha, mas pra dizer a verdade só me lembro mesmo do último filme, "O Retorno de Jedi". Uma lembrança muito viva. Lembro-me do cheiro de pipoca no ar, da agonia da espera para o filme começar, dos trailers, mas principalmente da conclusão épica das aventuras de Luke Skywalker e seus aliados.

Ontem, finalmente estreou nos cinemas "Star Wars: O Despertar da Força", filme de J.J. Abrams que tem a tarefa árdua de reascender o interesse dos fãs da Saga criada por George Lucas pelos novos longas que estão por vir.

Desta vez fui ao cinema com meu filho, que inclusive me acompanhou também em "O Ataque dos Clones", quando tinha apenas quatro anos, mantendo a tradição familiar.


"O Despertar da Força" deve cumprir com folga a tarefa a que me referi acima, pois trata-se de um filme que traz tudo aquilo que os antigos fãs, como eu, queriam ver na telona e novos elementos com potencial para cativar uma nova geração de aficionados pelo conto de fadas espacial que conta as aventuras da Família Skywalker.

Que este filme seria uma homenagem rasgada à obra de Lucas nós já sabíamos, afinal Abrams fez o mesmo em "Star Trek", respeitando alguns aspectos obrigatórios da obra original, como as transições de cena, por exemplo, porém imprimindo sua marca pessoal. O zelo e o cuidado para deixar tudo em seu devido lugar é incrível, destacando o trabalho competente da direção de arte e figurino.

O roteiro simplório (como não poderia deixar de ser), porém bem escrito, possibilitou um filme coeso e "sem barrigas". Com ação do início ao fim, "O Despertar da Força" tem uma narrativa tão frenética, emocionante e dinâmica, que os 135 minutos de duração passam voando, com a velocidade de um Tie Fighter (pilotado por Poe Dameron).

Outro ponto forte foi o elenco (que reuniu atores da trilogia clássica aos novatos que foram apresentados neste novo longa) foi muito bem formado. A trinca sagrada Harrison Ford, Mark Hammil e Carrie Fisher, que estrelaram os filmes originais que todos (ou quase todos) amamos fazem mais do que participações especiais. Eles não estão no longa de Abrams como meros easter-eggs, suas personagens tem relevância na trama. Mais um toque mágico com a marca Abrams, que também aproveitou Leonard Nimoy em "Star Trek", dando-lhe uma função vital na história, ao mesmo tempo em que presenteava os trekkers com o retorno de seu ídolo máximo.

A presença de Peter Mayhew (Chewbacca), Anthony Daniels (C3-PO) e Kenny Baker (que foi consultor do filme quando o assunto era R2-D2) também foi imprescindível para dar credibilidade aos seus respectivos personagens. Foi lindo vê-los na telona, com os mesmos trejeitos dos filmes originais. Além, é claro, de ouvir a voz marcante de Daniels. Adorei!

Não posso deixar também de citar Max von Sydow, de "O Exorcista", que fez uma participação especialíssima no início do filme.

Os novatos também estão espetaculares uma vez que são o que há de melhor em sua geração. Oscar Isaac, o mais velho do grupo, vive Poe Dameron, piloto que protege um importante segredo. Seu personagem aparece pouco no filme e deve ser mais aprofundado no futuro. Isaac é um ator muito bom, com duas indicações ao Globo de Ouro e uma participação marcante em "Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum", filme indicado ao Oscar que também trazia no elenco Adam Driver, que interpreta o novo vilão mascarado, Kylo Ren, personagem difícil por suas várias facetas. Ora demonstrando enorme poder por seu domínio da Força, ora deixando clara certa fraqueza, extravasada por sua raiva inata, Ren poderia ter se tornado caricato, mas isso não aconteceu por ter caído sob os cuidados de Driver, que é talentoso.


Um ator que já vem chamando minha atenção faz tempos é Domhnall Gleeson. Desde seu trabalho com Richard Curtis em "Questão de Tempo", de 2013, Gleeson vem ocupando uma vaga no seleto grupo de "meus atores jovens preferidos". Em "O Despertar da Força" ele é General Hux, um homem perigoso, que ainda não demonstrou sua verdadeira  ameaça. É dele uma das cenas mais importantes, e temíveis do filme, que faz uma alusão descarada ao regime nazista.

John Boyega e seu Finn também é cativante. O ator é pouco conhecido, mas mesmo assim se mostrou muito à vontade ao lado do grande Harrison Ford. Não posso falar muito de Finn sem entregar um spoiler tremendo sobre a origem de seu nome. A química entre ele e a protagonista Daisy Ridley, que interpreta Rey, uma catadora de lixo que acaba se tornando uma heroína relutante, é forte e mostra que esta dupla de novos heróis irá funcionar muito bem nos próximos filmes da Saga.

Mas a graça desse elenco não é humana: BB-8, o novo droid preferido da galera, tem mais personalidade e carisma que muito ator/atriz humano e "robótico" por aí.

Satisfeitíssimo, não posso deixar de reconhecer que, não obstante a originalidade de "Guerra Nas Estrelas", o hype de "O Império Contra-Ataca" e meu carinho por "O Retorno de Jedi", "O Despertar da Força" é, SIM, O MELHOR FILME JÁ FEITO DESTA SAGA.

Foi muito bom, na verdade foi um privilégio, poder testemunhá-lo no cinema.

Desta vez com meu filho.



Marlo George assistiu, escreveu e ficou chateado com o fato de não ter rolado cabine de imprensa no Rio de Janeiro.