Hollywood tem se mantido há um bom par de décadas - ou até mais, se apurarmos a fundo - de filmes oriundos de franquias pré-estabelecidas, baseadas em produtos derivados de livros, histórias em quadrinhos, games ou mesmo outros filmes.

Nada errado com isso. É uma prática muito bem aceita pelo público e garante a sobrevivência do meio. Mas, de vez em quando, temos uma invariável - e agradável! - surpresa ao nos depararmos com um sopro de criatividade envolvendo personagens amados por grande parcela da audiência, indicando novos - e interessantes - rumos à dramaticidade cinematográfica.

Que bom que este também é o caso de "Creed - Nascido para Lutar", estrelado por Michael B. Jordan e Sylvester Stallone e dirigido por Ryan Coogler.

Atitude, sabedoria e velhos conhecidos...

Quem imaginaria que um filme baseado numa franquia iniciada há quase quarenta anos traria o reconhecimento da crítica à personagem clássica defendida por Stallone, rendendo-lhe prêmios e até chances reais de ganhar um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante?

Quem diria que um jovem ator, vindo de um dos maiores - e injustos! - fracassos de 2015 (Quarteto Fantástico, claro) poderia provar que era possível criar novo interesse a um personagem completamente desconhecido - e que seria, originalmente, sobre o NETO de Apollo Creed, lembram? - a ponto de gerar sua própria franquia?

E quem diria que tudo isso só ocorreu por causa de um diretor com pouca experiência mas muita determinação para contar uma história que poderia ter acontecido com um conhecido nosso - ou até mesmo conosco...

Na trama de "Creed", Adonis Johnson (Jordan) nunca conheceu seu famoso pai, o campeão mundial peso-pesado Apollo Creed, que morreu antes dele nascer. Ainda assim, o boxe está em seu sangue e Adonis vai à Philadelphia, local da lendária luta de Apollo Creed contra Rocky Balboa. Adonis encontra Rocky (Stallone) e pede para que ele seja seu treinador. Apesar de sua insistência em se afastar do mundo das lutas por bons motivos, Rocky enxerga em Adonis a força e a determinação que ele conheceu em Apollo - seu feroz rival que acabou se tornando um de seus melhores amigos. Rocky treina o jovem lutador, mesmo que para isso o antigo campeão tenha que desafiar um oponente mais mortal do que qualquer um que ele já tenha enfrentado no ringue.

Pela sinopse, podemos até pensar que já vimos esse filme antes. E vimos mesmo! Mas a nova perspectiva, ainda mais ordinária que em "Rocky Balboa", traz uma lufada de frescor e um novo ponto de vista, garantindo entretenimento, humor e até mesmo momentos de reflexão a diversas gerações de espectadores.


A trama enxuta e corrida mostra preocupação em agradar as novas audiências mas sem perder de vista quem já conhece os elementos da "saga". Para este público específico, existem diversos pequenos momentos que parecem dizer "não esqueci de você, vem que vai ser bacana!".
Mas talvez nada disso seria possível se não fosse o elenco principal. O destaque, claro, vai para Stallone, entregando uma poderosa performance, capaz de nos fazer rir e se emocionar, como se fosse um ente querido que não vemos a tempos. Porém, Jordan não deixa o pique cair e nem se deixa intimidar, construindo corretamente algo que pode tornar-se grande um dia.,.

E se estamos numa benvinda época de mulheres fortes na cultura pop em geral, o que dizer do trabalho de Phylicia Rashad e Tessa Thompson, mãe adotiva de Adonis Creed e sua namorada?

Phylicia Rashad (de Flores de Aço) mostra de onde Adonis se inspirou para lutar pelo que quer, numa atuação honesta e que chama a atenção nas poucas cenas em que dá o ar de sua graça. E Tessa Thompson (de Selma - A Luta pela Liberdade) preenche a tela com sua beleza, além de mostrar que não é apenas um rostinho bonito, entregando uma personagem cheia de atitude, rica e absolutamente crível. Vê-la na telona é ter a certeza de um amanhã melhor.

Coogler entrega um filme intenso, que não se cansa ou se entrega ao melodrama barato - em mãos erradas, poderia facilmente acontecer - mas que constrói corretamente seu desenlace, sem pressa porém com urgência, como manda os novos tempos.,

Cativante, envolvente e com um elenco afiado, "Creed" prova que, talvez, a crise de criatividade em Hollywood não tenha atingido a todos, afinal. Que bom. A platéia agradece...



Kal J. Moon ficou imaginando se Clubber Lang teve filhos. Possivelmente, lutariam MMA...