Quer saber de uma coisa? Eu detesto Mogli: O Menino Lobo!

O problema não é a produção em si, reconheço-a como um clássico do gênero, e sim o fato de que meu filho mais velho assistia a animação, produzida pela Disney e dirigida por Wolfgang Reitherman em 1967, todo santo dia. Como ele sempre requisitava a companhia de quem estivesse dando bobeira pela casa, assisti com ele o filme umas 200 vezes. Conheço cada música e célula de animação da produção. Reverberam e ficaram impressas na minha memória.

De vez em quando me pego cantarolando, ou assobiando, "necessário, somente o necessário" até hoje...

O livro de Rudyard Kipling, The Jungle Book publicado em 1894, que narra as aventuras de Mowgli, um jovem indiano que é criado por lobos, já foi adaptada para o cinema algumas vezes, sendo as mais memoráveis as versões live-action de Zoltan Korda (1942), Stephen Sommers (1994) e Nick Marck (1998). Porém, a animação de Reitherman é indiscutivelmente a melhor versão do livro, e chegou a ter uma sequência que é técnica e artisticamente muito inferior que o original.


Agora, Jon Favreau lança mais uma versão live-action dessa história com Mogli: O Menino Lobo, que conta com elenco estelar.

Para personificar os amados personagens, popularizados pelo desenho da Disney, foram escalados atores e atrizes também amados pelo público. Bill Murray vive Baloo, o urso meio hippie que é um dos mais marcantes habitantes daquele universo. Ben Kingsley tem o tom de voz ideal para dar credibilidade à minha personagem favorita, Bagheera, a pantera negra com ar de intelectual e ferocidade de um super-herói protetor. O grande Idris Elba interpreta Shere Khan, o tigre malvado e ameaçador. Elba está realmente amedrontador e o papel lhe caiu como uma luva.

Lupita Nyong'o (Raksha), Scarlett Johansson (Kaa) e Christopher Walken (Rei Louie) completam o dream team da produção. Porém, não posso deixar de me render ao talento do pequeno Neel Sethi, que entregou um Mowgli real, crível. Apesar da tenra idade, falta de experiência e pelo apoio da direção, Sethi é talentoso, sendo possível ver nele um ator, algo raro em garotos de sua idade. Seu potencial vai além de seu nível de fofura. O garoto manda bem.

Na versão brasileira Baloo e Bagherah são dublados por Marcos Palmeira e Dan Stulbach. Julia Lemmertz é Raksha, a mãe-loba de Mowgli, enquanto a serpente Kaa será dublada por Alinne Moraes. Já Shere Khan e Rei Louie são Thiago Lacerda e Tiago Abravanel, respectivamente. Não assisti a versão dublada, deste modo, não posso comentá-la.


Jon Favreau, à exemplo do que fez com Homem de Ferro, foi bem sucedido ao dirigir um filme que tinha tudo pra dar errado. Bastava uma escorregadela minimalista ou exagerada e o filme poderia se tornar um fiasco. Confira os riscos:

1) O protagonista é um menino e isto é sempre, sempre, arriscado. Favreau apostou em um menino cru, que só tinha um curta na carreira, que se inicia de fato em Mogli: O Menino Lobo, dispensando estrelinhas Disney das séries de TV ou de adolescentes para viver o Menino Lobo. Acertou;

2) O original é recheado de canções. O diretor deixou quase todas de lado, pontuando o o longa com uma trilha sonora digna de filmes de ação. Acertadíssimo;

3) E falando em filmes de ação, Favreau fez de Mogli: O Menino Lobo um filme de ação non-stop. O ritmo é alucinante, com poucas pausas para o espectador respirar. Mais do que acertar, ele foi genial neste ponto.

Lógico que o roteiro de Justin Marks ajuda - e muito - nesta dinâmica. Recontando a história e cheio de referências, Mogli: O Menino Lobo encantará os adultos que já conhecem a história e será atraente também para a garotada, que após assistir esta nova versão pode vir a se interessar pela animação de 67.

Sem nenhum ponto negativo, o novo filme de Jon Favreau é um encanto.



Marlo George assistiu, escreveu e acha que o extraordinário é que é demais...