Nunca na História deste planeta houve tanto interesse na investigação do cartel de entorpecentes liderado por Pablo Escobar. São livros, seriados - um tão longo quanto uma novela! - e, claro, filmes.
E eis que chega aos cinemas "Conexão Escobar"- filme estrelado pelo indicado ao Oscar de Melhor Ator Bryan Cranston, com direção de Brad Furman - para elucidar o outro lado da história: o lado da Lei. Ou quase isso...
Duas faces do mesmo centavo
Um aviso importante: este não é um filme de ação ininterrupta, vertiginosa e com tiradas hilárias para descontrair a tensão. É um filme feito ~"à moda antiga", como se tivesse saído do ano em que começa a narrativa nas telonas: 1983.
Porém, essa é uma história real sobre como o agente federal Robert Mazur (Cranston) consegue se infiltrar no maior cartel de drogas colombiano usando a identidade de Bob Musella, um empresário especializado em lavagem de dinheiro. Mazur torna-se amigo de Roberto (Benjamin Bratt, do seriado "Lei & Ordem") - homem de confiança de Pablo Escobar - e inicia seu grande plano.
Qualquer deslize pode comprometer não só sua segurança como a de seus familiares.
Mas tudo o que é relatado na trama é exposto de forma a situar o espectador e fazê-lo seguir uma linha de raciocínio. Como nos melhores filmes policiais, o espectador não tem sua inteligência menosprezada. E, por isso mesmo, requer bastante atenção para acompanhar cada detalhe revelado e montar o quebra-cabeça da forma correta.
E tudo é mostrado - ainda que com um certo pudor em alguns trechos, mas completamente realista e devidamente contextualizado em outros - sem exageros mas colocando os dedos certos na ferida.
Exatamente como seria se o filme fosse feito naquela época.
E isso é mérito de vários fatores.
O roteiro escrito pela estreante Ellen Sue Brown - baseado no livro do próprio Robert Mazur - nos mostra uma faceta das autoridades que já foi vista de diversas formas mas, talvez, sem tamanho carisma e identificação que esta obra lhes confere.
O que nos leva a citar o afiado elenco, com destaque para Bryan Cranston (de "Trumbo") e, espantosamente, para John Leguizamo (do recente "Kick-Ass 2" e que finalmente deixou de ser o "latino legal" para honrar suas raízes hispânicas brindando-nos com um personagem de contornos mais críveis). O resto do elenco não decepciona mas não mostra nada de muito surpreendente.
Dito isso, não poderíamos deixar de fora a direção de Brad Furman (de "Aposta Máxima"). Sem precisar contextualizar a época além de alguns excessos no figurino ou extravagâncias de consumo, Furman conduz a história num crescendo que só não é melhor por já sabermos o que acontecerá ao final.
A trilha sonora recheada de hits quase obscuros da "década perdida", indo de Rush, passando por Leonard Cohen e abusando de sintetizadores cansa um pouco em alguns momentos, é verdade. Mas chegar ao final dessa história ao som de uma canção nada óbvia da banda The Who é fechar essa trama com chave de ouro, acenar ao público e saber a hora de fechar as cortinas. Como se dissesse que é apenas mais um dia de trabalho e que a vida segue adiante...
"Conexão Escobar" é um filme que conta os bastidores de uma história cabeluda mas que ninguém tinha coragem de sequer mencionar pois seria mexer num vespeiro ainda maior.
Ok. Os tempos são outros e a audiência atual talvez não tenha paciência para acompanhar essa saga no cinema - embora devesse, uma vez que "Conexão Escobar" tem uma das melhores edições de som vistas recentemente, fazendo o espectador voltar a "temer" ouvir estampidos de tiro em filmes.
Tudo bem. Esse filme não foi feito para eles. Foi feito para aqueles que não gostam de ser subestimados e que desejam um pouco mais das coisas como eram antes. Ainda bem.
Kal J. Moon saiu do cinema, colocou sua jaqueta de couro vermelho e entrou em seu carro, um Mustang GTO (claro!)...