Vez por outra surgem umas surpresas que trazem uma lufada de ar fresco e renovado a nossa lista de programas a serem assistidos. Estamos passando por uma era de valorização da "cultura nerd" inquestionável. Filmes e seriados sobre quadrinhos, livros e games abarrotam as listas de programas favoritos da audiência. Isso se tornou tão frequente que, o que era o fora do comum há uns poucos dez anos atrás agora é o comum, e vice e versa.

     Sem mais delongas e ladainhas, qual meu objetivo com isso tudo? Stranger Things. Simples. Essa é a resposta. Seriado produzido pelo serviço de Streaming NETFLIX e disponibilizado completo no último dia 15, foi logo aclamada pelo público nerd por suas referencias tanto a cultura nerd, quanto a década de 80 como corrente cultural. Músicas, emulações de outros filmes e a própria estrutura da história em si: um grupo de crianças envolvidos em um mistério intrigante. Logo surgiram as listas das principais referencias da série, as citações, músicas, quadrinhos, elementos comuns da década de 80, como a fonte e a trilha de abertura. A nostalgia assaltou a maioria dos assinantes da NETFLIX.
     

Justo? Claro. Realmente foi nostálgico assistir aos 8 episódios. Empolgou ver o entendimento que os personagens tinham do D&D. Cada Easter Egg descoberto uma vitória.

Mas Stranger Things não é só isso. Além disso tudo, a série trás uma opção diferente e competente para um meio abarrotado de super heróis, reinos medievais incestuosos e mortos caminhantes.

Enquanto muitas produções se prendem ao seguro e criam sub versões de elementos já consagrados do Universo NERD, buscando uma garantia mínima de audiência e retorno financeiro certo, o canal de streaming ousou e acertou ao criar uma história em camadas de suspense e aventura, com a inocência das crianças protagonistas convivendo com o drama adulto da negação da perda e a busca policial pela verdade.

     A relação com a audiência é construída não sobre o ideal de ser maior que os outros, de ter super poderes, ser nobre, ou sobrevivente especialista. Ela é construída exatamente na já citada inocência infantil que todos já tivemos, e nas aventuras que todos já viveram (ou imaginam que viveram) quando crianças. Pronto, você está enfeitiçado e nem sequer percebeu.

     Quem não viveu a década de 80, quem não gosta da década de 80, quem nunca assistiu a leva de filmes a qual o seriado é ligado por referências e quem nunca jogou D&D também vai gostar de Stranger Things. A obra é competente, com boas atuações (inclusive das crianças) e sólida direção.

Quando perceber, já estará no quarto episódio, ansioso para o final.


Jorge Caffé assistiu toda a série em um único dia chuvoso em uma casa de praia, com ventos uivando a noite.