Dirigido por David Frankel e com um elenco com nomes de peso como Will Smith, Edward Norton, Kate Winslet, Michael Peña, Keira Knightley, Helen Mirren, Naomie Harris e Jacob Latimore, o filme "Beleza Oculta" é uma quase-fábula que fala sobre um importante tema nos dias atuais: como lidar com a depressão pós-luto?
Um elenco estelar num filme nem tanto...
(Divulgação)

O óbvio cinema de auto-ajuda

Desde muito tempo, Hollywood separou e classificou seus filmes entre gêneros. Claro que, além de uma necessidade organizacional, foi uma decisão puramente comercial. Mas dentro do gênero 'drama' existe uma sub-categoria muito em voga de uns tempos pra cá que poderia muito bem ser classificada como ~'cinema de auto-ajuda', aquele tipo de filme que expõe os personagens a uma situação-limite de tragédia ou tristeza onde tem de enxergar a beleza da vida, sempre com uma moral retumbante ao final.

O maior exemplo de filmes com este tema em comum talvez seja o já clássico "A Felicidade Não se Compra", dirigido por Frank Capra e sempre lembrado nos Estados Unidos na época natalina - no Brasil, podemos colocar "Deus é Brasileiro", dirigido por Cacá Diegues e baseado no livro do saudoso João Ubaldo Ribeiro, como exemplo nacional.

E eis que chega aos cinemas "Beleza Oculta", um filme cuja história se passa próximo do feriado do Natal e que traz até uma mensagem bacana, mas se perde em meio de tanta obviedade do roteiro que até prejudica a apreciação. Na trama, um bem-sucedido executivo da publicidade (Will Smith) de Nova York perde sua filha de forma trágica e se isola de tudo. Por conta disso, sua empresa corre o risco de perder seus clientes mais importantes. Seus amigos e companheiros de trabalho tentam reverter a situação mas ele resolve escrever cartas para o Amor, Tempo e Morte. Até que esses três ~'seres' resolvem visitá-lo. Será mesmo?
Amor (Keira Knightley), Tempo (Jacob Latimore) e Morte (Helen Mirren). Ou será que não?
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O principal problema desse filme é o roteiro escrito por Allan Loeb (de "Quebrando a Banca"). Apesar de sustentar uma boa ideia - mesmo que meio manjada (Charles Dickens que o diga!) -, é simplista ao extremo, tenta entregar uma surpresa que, infelizmente, é descoberta em poucos minutos de exibição. E mesmo sendo um assunto sério, a impressão que se tem é de que este é aquele tipo de filme feito para passar numa sessão de sábado na TV aberta, após a novela, durante uma noite de feriado, com toda a família reunida, constituída de pessoas de menor instrução e, por isso mesmo, sem muitos desafios criativos para não prejudicar a compreensão. Só que menosprezar a inteligência do espectador é o maior dos erros de quem conta uma história...

Daí, o diretor David Frankel (de filmes díspares como "Marley & Eu" e "O Diabo Veste Prada") não tem muito o que fazer a não ser o melhor possível - o que não é muita coisa nesse caso. Não há muitos desafios dramáticos a serem impostos aos personagens. E a escalação é um tanto confusa quando vemos Edward Norton canastrão num papel que alterna mal momentos cômicos e dramáticos. Ou Michael Peña entregando algo bem dramático corretamente mas que não será muito bem lembrado pelo conjunto do filme em si.
Edward Norton, Kate Winslet e Michael Peña vendo a besteira que fizeram...
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Curiosamente, Will Smith nem decepciona. A participação de seu personagem é quase coadjuvante, uma vez que a trama se move a seu redor. Porém, é o tipo de projeto escolhido para tentar concorrer a prêmios, coisa que Smith persegue obstinadamente desde sua primeira indicação ao Oscar. E dessa vez, mesmo que fazendo algo decente em termos de atuação, não chega nem perto. O restante do elenco se vira como pode. Todos estão ~'okay', exatamente como um filme desse naipe pede.

Óbvio, moralista, ingênuo. Existem muitos predicados com que "Beleza Oculta" possa ser classificado. Mas "bom" certamente não é um deles...


Para Kal J. Moon, Will Smith tem 'orelhas de abano' de tanto puxão que recebe por conta de seus filmes ruins...