O roteirista Douglas MCT - de livros como a saga "Necrópolis" ou "O Coletor de Almas" - dedicou-se, por muitos anos, na preparação do mangá "Hansel & Gretel". E embora 2016 tenha sido um ano considerado ruim em diversos aspectos, certamente não o foi para os quadrinhos nacionais e aqui está mais um exemplo disso. Com desenhos de Rafi de Sousa, arte-final da dupla Fred Hildebrand & Michel Costa, o leitor tem em mãos um belo exemplar do gênero.
Capa oficial de "Hansel & Gretel"
(Arte: Rafi de Sousa - Cores: Tabby Chan / Divulgação)



Muito além da 'versão brasileira'

A crítica especializada discute bastante a respeito do assim chamado 'mangá nacional', que não deveria ser chamado assim - uma vez que muitos títulos estrangeiros não se utilizam desse termo mas sim de 'história em quadrinhos' -, que não faz sentido trabalhar com este tipo de linguagem 'quadrinhística' no Brasil pois ~"não tem muita aceitação" (oi?) e toda aquela fala preconceituosa de quem não entende tanto assim do assunto e quer causar polêmica.

E, após ler o primeiro volume de "Hansel & Gretel" - subtitulado "Sombra e Vapor" e que você pode comprar clicando AQUI ou no site oficial da Editora New POP -, pode-se dizer que, se não fossem os nomes dos autores envolvidos no projeto, este mangá passaria facilmente por algo publicado no Japão. Não só pelo visual como pela qualidade da edição como um todo.
Hansel e Gretel chegam ao bar 'Roda Dentada'
(Divulgação)

A começar pelo roteiro de Douglas MCT - que nos falou um pouco AQUI sobre o projeto -, onde se conta uma história que - imagino - só foi parar nas páginas das histórias em quadrinhos por conta do Brasil ainda não ter uma consolidada indústria de animação. E isso não é, de maneira alguma, dito de forma depreciativa pois, como todos sabem, desenhos animados, há bastante tempo, é visto como algo bem comercial, servindo apenas como 'mais uma' das franquias relacionadas a um produto.

Na trama, um casal de gêmeos, atormentados por um passado sombrio, segue numa jornada em busca do pai em uma metrópole cheia de perigos e outros personagens cativantes. Em Echtra, eles recebem a proteção de um gato de botas, conhecem uma menina de capuz vermelho e são caçados por um habilidoso mercenário. Enquanto isso, um flautista comanda zumbis pela cidade e um garoto perturbado usa os poderes da escuridão para encontrar a Flauta de Pan. Os irmãos, porém, não são tão normais quanto alguns desses personagens acreditavam.
Elementos de terror também fazem parte do universo de "Hansel & Gretel"
(Divulgação)
Voltando à "Hansel & Gretel": o que foi feito em termos narrativos se aproxima do que é feito de mais comercial em termos de quadrinhos e animação. Mesmo que prestigie e tome por base a clássica história de 'João & Maria' - dentre outros contos de fada criados pelos irmãos Grimm -, mistura tudo numa saga onde até conceitos steampunk podem ser vistos, sem pudor, sem rodeios, sem vergonha de contar essa história.

O que surpreende em "Hansel & Gretel" é que o demorado tempo de produção valeu realmente a pena. Graficamente falando, a edição deste primeiro volume acerta no tipo de papel escolhido - que privilegia a arte -, uma arte de capa que chama a atenção, extras mostrando o processo da produção, esboços de alguns personagens e todos os dilemas envolvendo o projeto. E sejamos sinceros: mais de 170 páginas num produto como esse não é algo concedido a qualquer autor, ok? Nem mesmo o preço praticado pela editora é proibitivo como acontecem em muitos casos.
Alguns personagens do mangá 'Hansel & Gretel' reunidos!
(Divulgação)



 A arte de Rafi de Sousa bebe e serve-se positivamente de toda a tradição dos mangás shonen - e a história colabora para isso. Temos personagens e situações com claras influências de Full Metal Alchemist, Yuyu Hakusho, Naruto, Hunter x Hunter, Rurouni Kenshin, Final Fantasy, dentre outros - além de participações especiais de vários personagens desses e outros animes para os aficionados. Porém, nada é cópia em "Hansel & Gretel". Não existem cenas gratuitas, a ação corre à favor da trama, os (muitos) personagens tem algo a dizer, tudo num ritmo alucinado, sem botar o pé no freio - e isso tudo sem virar o "samba do otaku doido".
Ação alucinada para ninguém botar defeito!
(Divulgação)

Mesmo assim, esse ainda é o começo da história. O leitor terminará de ler o exemplar na ânsia de continuar a saga dos irmãos, descobrir todos os mistérios e, quem sabe o que o futuro os reserva? Ainda assim, é um bom começo. "Hansel & Gretel" mostra que dá pra ser feito se houver boa vontade, uma ideia bem organizada e disposição para contar o que ninguém teve coragem. Que bom!


Kal J. Moon encontrou a Flauta de Pan mas não tem aptidão musical. Trágico!