Clássico dos animes ganha versão live-action à prova de polêmicas
Ghost in the Shell surgiu como um mangá (as famosas histórias em quadrinhos japonesas) pelas mãos e mente de Masamune Shirow. Publicada no Japão entre maio de 1989 e novembro de 1990, a série original, que teve ainda duas sequências lançadas nos anos 90, fez tanto sucesso que rompeu fronteiras e foi publicada por editoras mundo afora. A arte impressionante, dinâmica e icônica de Shirow, que até hoje influencia artistas tanto dos mangás quanto dos comics, é a grande responsável pelo sucesso da publicação, que ― como costumeiramente acontece na terra do sol nascente ― acabou sendo adaptada para o cinema, em uma animação assinada por Mamoro Oshii.
O filme animado de Oshii, exibido no Brasil com o título O Fantasma do Futuro, tinha uma trama densa, intimista e questionadora. Bem diferente das divertidas aventuras fanfarronas, divertidas e eróticas dos mangás. Oshii optou por uma abordagem com aplicabilidade mais psicológica. A androide Motoko Kusanagi, também conhecida como "Major", protagonista da história, aparecia no anime de 1995 muito mais preocupada em entender sua função e lugar no mundo do que sua versão nos quadrinhos.
A nova trama mescla elementos dos já citados mangá e animação, pois as piadinhas e erotismo do gibi estão representadas em pelo menos duas cenas do filme, e as questões asimovianas que a personagem principal levanta na animação também servem de fonte ao novo roteiro. Porém, trata-se de uma nova história e até mesmo as cenas que parecem ter relação com o mangá e o anime foram utilizadas com um argumento totalmente diferente.
Deixando de lado a nudez e o papo cabeça, o roteiro escrito por Jamie Moss, William Wheeler e Ehren Kruger evitou apelações e cenas de longos devaneios sobre a vida, o universo e tudo mais. Recheado de ação e de cenas eletrizantes, A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell é um filme dinâmico e muito fluído, daqueles que não cansa o expectador. Por outro lado, apesar de não ter deixado a trama inconsistente, essa opção de não abordar o drama psicológico da androide da maneira como deveria tornou o filme menos interessante.
Outro ponto positivo do filme é o trabalho cenográfico. O mundo concebido é incrível o suficiente para ser um personagem à parte. A região metropolitana, onde se situa o Setor 9, é imensa e surreal. Rico e exuberante, o centro da cidade, tecnológica ao extremo, exibe tudo que há de bom e ruim, de belo e feio em qualquer capital do mundo. Mas, como no mundo real, em volta da riqueza ficam os bairros pobres, enlameados e abandonados, mostrando que aquela sociedade que tanto se preocupa em avançar no que diz respeito ao aperfeiçoamento humano, pouco se lixa para como os humanos estão vivendo. Uma pena que esse aspecto daquele universo não foi explorado.
A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell recebeu algumas críticas quando do anuncio de Scarlett Johansson como a protagonista do filme. Quem leu ou assistiu as produções anteriores sabem que a personagem principal é nipônica e isso acabou resultando em acusações de "americanização" da história. A trama resolveu isso de maneira bem inteligente e o filme acabou sendo "blindado", tornando infundadas qualquer argumentação nesse sentido.
Com um visual ao melhor estilo de Luc Besson e ação à melhor explosão de Michael Bay, A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell é imperdível para fãs e curiosos.