Novo filme da franquia 'Alien' prepara o terreno para a sequência final da nova trilogia de Ridley Scott, mesclando suspense, terror e inteligência

Reza a lenda que Ridley Scott, diretor de Alien, o Oitavo Passageiro (filme que deu origem à franquia 'Alien' e que foi lançado em 1979), se recusou à assistir o terceiro filme da série, Alien³, dirigido por David Fincher, na época de seu lançamento, em 1992. Quando finalmente decidiu assisti-lo, décadas mais tarde, detestou tanto o longa metragem que decidiu escrever uma nova trilogia que contasse a origem das nefastas criaturas e que fosse mais digna do filme original. 

O primeiro filme dessa nova trilogia foi lançado em 2012: Prometheus

Ocorre que, Prometheus foi muito mal recebido pelos fãs da saga 'Alien', especialmente por não ter mostrado a tal origem dos alienígenas. O filme virou chacota na internet. Frases como "Prometheus mas não cumpriu" e outras derivativas circularam pelas redes sociais. Particularmente acho Prometheus um filme inteligente e que talvez tenha sido injustiçado por não ter sido bem compreendido.

Agora, em 2017, Scott lança a segunda parte da aventura, Alien: Covenant. Assisti o filme na cabine de imprensa promovida pela 20th Century Fox, no Rio de Janeiro, e direi aqui o mesmo que respondi para uma colega jornalista que estava saindo da sessão e me perguntou o que achei do filme: ADOREI!

Alien: Covenant tem o mérito de juntar quase todas as pontas soltas do roteiro de Prometheus. O que ficou pra trás e não foi resolvido neste novo filme da franquia, certamente será desenvolvido no filme derradeiro, ainda sem previsão de lançamento. Assim, espero. Espero ainda que a injusta má reputação do filme anterior não desestimule o público à ir ao cinema conferir a sequência.

Baseado nos personagens criados por Dan O'Bannon, e Ronald Shusett, Alien: Covenant tem roteiro escrito por John Logan e Dante Harper e história da dupla Jack Paglen e Michael Green. Arrojada, a trama mescla com excelência o suspense e o terror. Flerta com filosofia, arte (clássica e cultura pop), contextualização histórica e tecnológica. O filme é tão bem escrito que, apesar de tudo que precisava ser explicado ao público para dar consistência à história, o ritmo é frenético. Além disso é há muita tensão e em alguns momentos é quase impossível não prender a respiração.

A direção de arte é magnífica, valendo ressaltar que é herança de Jean Giraud, o artista conhecido também como Moëbius, que foi o responsável pela concepção artística do filme de 1979. Realizada por uma comissão de artistas, supervisionados por Ian Gracie, tem chances de receber várias indicações e, quem sabe, prêmios na próxima temporada de premiações, dado o cuidado com que cada elemento que aparece na telona recebeu da equipe. Os figurinos, cenários e adereços tem identidade visual bastante original e transmitem muita fidelidade. Impecável.

A única coisa que me incomoda é a interface dos softwares utilizados pela tripulação da nave. Assim como em Prometheus, todos os programas e monitores da Covenant são muito atuais. Como a história de Prometheus e Covenant se passam anos antes dos acontecimentos de Alien: O Oitavo Passageiro, filme no qual a tripulação usava monitores de fósforo verde, fica difícil suspender a descrença ao ver monitores de LED (ou LCD) e Ipads sendo utilizados pelos personagens. É a única bola fora.

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Os efeitos especiais e visuais são de ponta. Tudo é muito bonito e bem feito. As criaturas, baseadas no design de H. R. Giger, estão mais reais e apavorantes que nunca. A nave, que dá nome ao subtítulo do filme, também é impressionante.

Jed Kurzel compôs a trilha sonora, que traz alguns elementos da trilha original, composta pelo falecido e genial Jerry Goldsmith, e dá um tom bem sinistro ao longa-metragem.

A nova tripulação é formada, no grosso, por atores desconhecidos do grande público. Dentre os mais famosos temos Katherine Waterston, protagonista do filme e que ficou mais popular após seu importante papel em Animais Fantásticos e Onde Habitam, do ano passado. Ele encarna Daniels, uma mulher forte e que precisa encarar um dos maiores desafios de sua vida justamente em seu momento mais difícil. O problema é que Waterson é pouco carismática e isso compromete seu trabalho.

Billy Crudup, que mandou muito bem como o Dr. Manhattan de Watchmen, é outro rosto conhecido e interpreta o Capitão da nave Covenant. Seu personagem, Oram, é outro que está passando por um momento ruim e precisa tomar uma decisão que pode afetar o futuro de todos que estão à bordo, tripulantes e passageiros. Mais um bom trabalho de Crudup que estará em mais dois filmes baseados no Universo DC, como o pai de Barry Allen em Liga da Justiça e no novo filme do Flash.

O alívio cômico vem de Danny McBride e seu personagem Tennessee. Redneck, fã de John Denver e meio bronco, parece à primeira vista ser um esteriótipo do caipira americano, mas Tee (como seus colegas de Covenant o chamam) é um personagem bem desenvolvido, com um background interessante e acaba sendo um dos mais memoráveis da tripulação. McBride é um comediante mais conhecido nos EUA, com pouca visibilidade no Brasil. Trabalhou como coadjuvante em alguns filmes com James Franco, que faz uma participação especial em Alien: Covenant.

E pra finalizar, preciso novamente me render aos encantos e talento de um dos maiores atores de minha geração: Michael Fassbender. Astro de Prometheus, onde deu um show, retorna em Coventant em dose dupla, vivendo os androides David e Walter. Seu trabalho é, como sempre, primoroso. MF é muito disciplinado em seu ofício e entrega dois personagens que ao mesmo tempo são muito parecidos e diferente, com identidades e personalidades próprias. Eu poderia ficar aqui por laudas e laudas elogiando o mister deste fenomenal artista, mas concluo resumindo em uma palavra sua arte: Excelente.

Com um filme cerebral, aterrorizante e magnífico, Scott comprovou mais uma vez que é um dos maiores cineastas de sci-fi de todos os tempos. Que venha o terceiro filme, estou ansioso.



Marlo George assistiu, escreveu e recomenda que você assista todos os filmes da franquia 'Alien', e também 'Blade Runner: O Caçador de Androides' (outro trabalho de Scott), para uma melhor "degustação" do filme.