Um porco gigantesco é o melhor amigo de uma garotinha oriental. Juntos, vivem em uma montanha, num ambiente paradisíaco com o avô da menina, um avarento, porém amável velhinho. Um belo dia a menina e seu porcão são envolvidos em uma aventura que os levará a descobrir um mundo novo... e  perigoso. Seria mais um longa do Estúdio Ghibli?

Não! É o novo filme original da Netflix, Okja.

Pois é, nos primeiros vinte minutos tive a impressão de estar assistindo mais uma obra de Hayao Myiazaki, pois todos os elementos fantásticos e curriqueiros de sua obra, como Meu Amigo Totoro ou Ponyo, estão lá. Mas Okja, conforme o streaming vai carregando, se revela um filme denúncia sobre a exploração dos animais de um modo geral. Especialmente no modo como são abatidos para o consumo humano. O protesto é apresentado de modo alegórico em um filme com trama rica e bem escrita.

A direção ficou por conta do diretor autoral Joon-ho Bong, que ficou famoso uns anos atrás por Expresso do Amanhã, de 2013. O coreano levou quatro anos para lançar um novo trabalho e nos presenteou com um filme bem conduzido. A temática, que à primeira vista pode parecer reacionária e piegas, é apresentada de maneira terna, sob o olhar da pequena Mija, interpretada pela desconhecida Seo-Hyun-Ahn, de 14 anos.

A menina brilha em um filme cheio de estrelas consagradas como Tilda Swinton, Giancarlo Esposito, Jake Gyllenhaal e, um dos meus atores jovens favoritos, Paul Dano. Esposito e Dano foram adições positivas ao elenco, já Gyllenhaal exagerou demais na tinta se tornando caricato além do que devia. Perdeu o tom. Swinton, novamente maravilhosa, interpretou divinamente as gêmeas Nancy e Lucy Mirando, duas faces da mesma maldade, a, muitas vezes, cruel industria alimentícia.


Lilly Collins tem pouco tempo de tela e sua personagem é tão genérica que passa despercebida.

Os fãs de The Walking Dead e Harry Potter poderão matar as saudades de Glenn Rhee e da Murta-Que-Geme. Steven Yeun e Shirley Henderson participam do filme como um terrorista de final de semana e uma secretária executiva puxa-saco, respectivamente. Papéis bacanas, caíram como uma luva para atores.

Okja custou 50 milhões de dólares, orçamento alto para um produto voltado para streaming, mas a produção é tão bem cuidada que tive a impressão de que o filme tinha custado mais caro. A direção de fotografia é brilhante e os efeitos especiais que deram vida à porcona Okja merece indicações e prêmios futuros, flagrante o esmero em fazer a criatura ganhar vida na telinha. O desenho de Okja também é magnífico e deu ao animal uma certa "humanidade". Lembrou César de Planeta dos Macacos: A Origem.

Assista, eu recomendo. Pode acabar se tornando seu filme preferido dessa temporada.

DETALHE! A CENA PÓS CRÉDITO É MUITO MANEIRA!



Marlo George assistiu, escreveu e já se aliou à FLA (ou ALF, como achar melhor...).