Dirigido por Laís Bodansky e estrelado por Maria Ribeiro, "Como Nossos Pais" mostra a difícil tarefa que é ser mulher nos dias de hoje.


Álbum de recortes
Os tempos modernos trouxeram, junto com todos os avanços tecnológicos, a discussão pelos direitos das mulheres de forma incisiva e completamente justificável. Por que, afinal de contas, homens têm salários maiores que as mulheres, mesmo executando a mesma função? Por que cozinhar e cuidar dos filhos ainda é visto como tarefas exclusivamente femininas?

Essas perguntas não são respondidas em "Como Nossos Pais" mas estão lá, como parte de um verdadeiro álbum de recortes da vida de Rosa (Maria Ribeiro), em busca de identidade após saber, num tumultuado almoço de família, que é fruto de uma relação extraconjugal de sua mãe (Clarisse Abujamra) durante uma viagem de estudos. Assim, direto, "na lata", dito em meio aos parentes, filhas, netas e netos, maridos, sem a menor cerimônia.

O que seria, em mãos inábeis, um amontoado de clichês dignos de novelas mexicanas - nada contra mas cinema requer algo mais elaborado -, transforma-se num subtexto rico em detalhes muito interessantes a respeito do que é estar no íntimo de uma mulher brasileira moderna. Tudo é muito bem desenvolvido pelo roteiro da própria diretora Laís Bodansky em conjunto com Luis Bolognesi, que resolvem TODAS as situações e agruras de Rosa e cia através de afiados e pontuais diálogos, algo que finalmente tem se tornado recorrente no cinema feito no Brasil após filmes como "Que Horas Ela Volta?" e "Aquarius".

E não, não é uma história proselitista em prol do feminismo. É um simulacro da vida real, com situações e respostas reais a eventos completamente plausíveis. O que acabou gerando um interessante desafio ao trio de ~"protagonistas" interpretadas por Maria Ribeiro, Clarisse Abujamra Paulo Vilhena, num exercício de rompimentos de limites muito aprazível à audiência.

Maria Ribeiro despe-se de qualquer tipo de vaidade e compõe sua personagem com a garra de quem reconhece que existe uma história que precisa e merece ser contada. Cada desenlace de suas desventuras oferecem possibilidades narrativas mil, com direito à interpretação e reflexão por parte da audiência. Você SABE quando a personagem está se sentindo injustiçada, quando não está gostando do rumo da conversa, quando está se maravilhando por algo apenas com um simples olhar! E como é lindo de se ver um trabalho tão bem desenvolvido. Bodansky entrega um filme corajoso, meticuloso, muito bem planejado mas, sobretudo, honesto.

A parte técnica também é divinamente executada, com a trilha sonora original de Antonio Pinto trazendo conforto, angústia, tristeza e solidão de forma sutil e equilibrada à diversas cenas. Mas o destaque maior vai mesmo à inspirada direção de fotografia comandada por Pedro J. Márquez, com planos que iniciam em closes e desembocam no resultado, sem precisar de exposição. Ou em momentos onde foca dois personagens ao mesmo tempo em situações opostas, mostrando muito sobre suas personalidades.

A despeito do fraco elenco de apoio que, ou não tinha material suficiente para desenvolver algo melhor trabalhado ou simplesmente estava operando no automático - como a atuação praticamente robótica de Herson Capri (e olhe que a personagem dele tem suma importância na trama!) -, temos aqui um filme que poderia tranquilamente se passar em qualquer lugar do mundo mas, irremediavelmente, ainda é a descrição perfeita de muitas mulheres brasileiras, mães, profissionais, ciumentas, em dúvida sobre o casamento, querendo ~"dar certo" na vida.

Aqui está um raro exemplar na cinematografia brasileira que realmente merecia uma continuação. Que bom!




Kal J. Moon riu quando ouviu a história da Eva...