Dirigido por Alexander Payne e estrelado por Matt Damon, Christoph Waltz e Hong Chau - com participação de Kristen Wiig -, "Pequena Grande Vida" traz à baila a eterna questão: planejar um consumo sustentável é realmente necessário?


O menor dos problemas
Há mais de vinte anos que o discurso ecologista deixou de ser mal visto - ou convenientemente mal interpretado - pela sociedade para vir a ser considerado fundamental à vida moderna. E o cinema já explorou o tema com perfeição em "Wall-E", longa animado que mostrava as consequências dos governantes de um futuro planeta Terra que não se preocupou adequadamente com o que fazer com seu lixo, dentre outras coisas - mas tudo muito bem amarrado numa trama principal que explorava OUTROS elementos para, somente a partir do terceiro ato, explicar tudo o que quis dizer desde o início. "Pequena Grande Vida" - que já está em cartaz no Festival do Rio (clique AQUI para consultar a programação) mas estreia em circuito nacional somente em 2018 - segue o caminho inverso.

Na trama, Damon interpreta um morador suburbano de Omaha (EUA) que, junto com sua esposa (Kristen Wiig) sonha com uma vida melhor. Enquanto o mundo encara uma crise de superpopulação, cientistas desenvolvem uma solução radical que pode encolher os humanos a 12 centímetros de altura. As pessoas rapidamente descobrem quanto dinheiro é gasto em um mundo “menor” e, com a promessa de um estilo de vida luxuoso, inimaginável nos sonhos mais insanos, o casal decide se submeter ao controverso procedimento e embarcam numa aventura que mudará suas vidas para sempre - isso é só o começo da história mas contar mais do que isso seria um tremendo spoiler, ok?


Com um início bem interessante e promissor, o roteiro - escrito por Jim Taylor e o próprio Payne - acaba, rapidamente, descambando para o proselitismo ecológico pró-sustentabilidade de uma forma bem negativa. Diversas informações despejadas ao longo da primeira hora de exibição não acrescentam nada à trama, que, sim, tem um conceito muito bom mas terrivelmente mal desenvolvido ou aproveitado. A história é arrastada, sem muitas reviravoltas, de uma obviedade que chega a doer e diálogos irritantemente expositivos, explicando a todo momento o que está acontecendo ou a que conclusão as personagens chegaram - um corte de, pelo menos, quarenta minutos faria um bem enorme aqui.

Falando em personagens, a maioria é vazia, mal escrita, rasa, a ponto de termos um destaque positivo em todas as cenas de Hong Chau, cuja verossimilhança - mesmo beirando a caricatura - traz frescor à história, com uma sinceridade mordaz que acaba soando hilariante. Um grande desperdício de tempo para Christoph Waltz e até mesmo para Matt Damon, que não está mal se formos pensar que seu personagem não sabe direito o que está acontecendo - nem o público. Pior que nem as participações-relâmpago de Neil Patrick Harris, Laura Dern, James Van Der Beek e Joaquim de Almeida valem a pena...

Os quesitos técnicos também deixam a desejar. A trilha sonora original composta por Rolfe Kent é pontual mas praticamente inexistente. A direção de fotografia comandada por Phedon Papamichael faz o básico, com algumas boas panorâmicas, aéreas e closes mas nada marcante.

"Pequena Grande Vida" atira para todos os lados mas não acerta o alvo. Deveria ser uma sátira moderna e esperta sobre mesquinharia, solidão e luta de classes - esses temas estão lá mas apenas floreando um sermão de mais de duas horas de duração sobre poluição, camada de ozônio e sustentabilidade. Cinema pode ser um instrumento para levar poderosas mensagens adiante. Mas é, antes de tudo, entretenimento. E este filme faz de tudo, menos entreter a contento.


Kal J  Moon não precisaria encolher pois já é pequeno o suficiente, a ponto de balançar as pernas quando senta no meio-fio...