Destaque no Festival Varilux do Cinema Francês em 2017, dirigido por Olivier Peyon e estrelado por Isabelle Carré e Ramzy Bedia, "O Filho Uruguaio" é um filme francês com muito em comum com o cinema que fazemos aqui no Brasil...

Moins c'est plus
Há quem jure que para absorver a verdadeira experiência do cinema francês é necessário, antes de mais nada, estar aberto à experiências sensitivas diferenciadas pois aquele povo destila sentimentos na telona de uma forma como nenhum outro consegue. A palavra "lirismo" pode vir à mente mas deixemos isso para os teóricos. Isso não quer dizer, em hipótese alguma, que todo filme francês seja "difícil", "profundo", "meditativo" e muito menos "chato". E "O Filho Uruguaio" está aí para provar...

A trama mostra a ansiedade e expectativa da francesa Sylvie (Carré) para o encontro com o filho, sequestrado há quatro anos pelo pai. Segura do que se propõe, traça um plano para recuperar o filho que mora em Florida - cidadezinha do interior do Uruguai - e conta com o auxílio do assistente social Mehdi (Bedia) em sua jornada. O que não imaginava é que nem tudo sairia conforme planejou.

Sem muito tempo para pensar nas consequências de seus atos, Isabelle Carré entrega uma performance bem convincente como a mãe desesperada em busca do filho sequestrado - ainda que o roteiro escrito por Cécilia Rouaud ao lado do próprio Peyon (com colaboração de Carré) não entregue "aquela cena" impactante. Mesmo assim, defende bem o papel. O resto do elenco é esforçado mas, mais uma vez, o roteiro não favorece.


Algumas situações na trama - parcialmente baseada numa história real - soam um tanto absurdas. Por exemplo: o assistente social vivido por Ramzy Bedia é bem aceito pela família do menino sequestrado quando ele mente dizendo que é um turista (e isso o faz imediatamente digno de confiança?!). Em outro momento, Ele aluga uma caminhonete bem deteriorada - fugindo do combinado com Sylvie - mas nem barganha o preço (pode-se até imaginar que não havia tempo para isso porém não vemos essa especificação em suas atitudes). O roteiro vai do ponto 'A' ao ponto 'B' sem surpresas, bem previsível, mesmo em sua "solução final" - porém bem executado.

A direção de fotografia comandada por Alexis Kavyrchine alterna momentos semi-documentais, utilizando bastante "câmera na mão", tremida - para expressar a urgência de diversas situações desorientadoras - como alguns planos panorâmicos ou em um take só. Interessante como filma Carré no centro de cena, de corpo inteiro, mas sozinha, mostrando que a personagem só depende de si mesma, exacerbando seu sentimento de abandono e solidão extrema.

Falando nisso, o filme foi praticamente 100% realizado com iluminação natural e com diversas cenas externas, o que deve ter barateado a produção, um parentesco irmanado com o cinema latino-americano (se o filme estivesse dublado, passaria facilmente por algo feito no Brasil, seja pela força do tema da trama como por sua realização).

Mesmo com alguns incômodos, "O Filho Uruguaio" é um bom filme. Nada memorável, é verdade. Mas possui o mérito de ser curto, direto, não perdendo tempo com firulas e enrolações mil, já saindo na frente de muita coisa pretensiosa produzida ultimamente em Hollywood. Menos é mais, mon amis...




Certa vez, Kal J. Moon disse "I Love You" e uma garota se derreteu todinha. "I Love You" quer dizer "morena" em francês...