Em 2016 a quarta parede da Marvel foi destruída, despedaçada, completamente derrubada. Não, não foi obra do Hulk, Galactus ou qualquer outro grandalhão da Casa das Ideias, tratava-se de Deadpool, personagem criado por Rob Liefeld, que costuma interagir com o leitor nos quadrinhos e, desde de seu primeiro longa solo, também com o público do cinema.

O filme foi muito bem recebido por fãs e críticos. Nós mesmos, do Poltrona POP, nos rendemos à versão recauchutada de Deadpool, que já tinha dado as caras na telona em X-Men Origens: Wolverine, de 2009, porém numa versão muito diferente daquela que os marvetes (como se auto-denominam os fanáticos por Marvel Comics) conheciam e amavam. Ciente do potencial da personagem e acreditando no próprio taco, seu intérprete, um comediante com veia cômica até então questionável chamado Ryan Reynolds, insistiu em levar o "herói" de volta às salas de cinema. Uma jogada de mestre, afinal, Deadpool superou as expectativas da Fox e teve sua sequência anunciada três dias após sua estreia nos EUA. 

Tim Miller, que dirigiu o primeiro longa e lutou ao lado de Reynolds para que a produção saísse do papel foi confirmado na ocasião do anuncio da sequência, mas abandonou o cargo alegando "diferenças criativas" que estaria tendo com Reynolds. Em seu lugar entrou o ator, dublê e inexperiente David Leitch, que recentemente  entregou seu primeiro longa-metragem ao público, o péssimo Atômica, de 2017.

Bem, nesse ponto, a tragédia foi anunciada.


Deadpool 2 é um filme infame, mas não de um jeito legal como foi o primeiro da franquia, mas no sentido mais completo e específico do termo. Nada funciona. As piadas, que dessa vez chegam ao cúmulo de serem repetidas à exaustão, são piegas e não pontuam a ação como no filme de Miller. Como se trata de um filme do Deadpool, tais gags e anedotas são mais do que obrigatórias, mas precisam ser inteligentes. Arrancar risadas do público com referências pop atuais, escatologias e humor forçado não funcionou dessa vez.

Assim como as piadas a trama também é boboca. Aliás, em duas quebradas de parede Reynolds reclama do roteiro, e ele está corretíssimo. A dupla Rhett Reese e Paul Wernick, que escreveu o primeiro Deadpool, retornou, mas o resultado está muito aquém do que foi apresentado em 2016. Levando em consideração o fato de que nessa sequência há momentos tensos, dramáticos e temas nos quais não cabem piadas, só as de mal gosto, o tom jocoso do longa é descabido. Portanto, a dupla, e Reynolds que completa o time de roteiristas, erraram na mão feio. Poderiam ter entregue um filme engraçado, mas com momentos tocantes, porém preferiram não ousar e fazer piadinhas infantiloides. Poderiam ter criado um background maior para a personagem, e o novo supergrupo, mas decidiram seguir pelo caminho mais fácil.

Talvez estejam certos, afinal de contas, Zack Snyder seguiu o caminho tortuoso e nos ofereceu filmes adultos e dignos do título de obras-primas como O Homem de Aço (2013) e Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça (2016), e acabou sendo execrado por crítica e público.


Deadpool 2 não diverte, de certo modo até irrita, mas é bem filmado, tem cinematografia competente, som muito bem mixado e uma trilha sonora bacana. O CGI é incrível e isso pode ser melhor notado ao ver um Colossos mais crível que o apresentado no filme anterior.


Do elenco, destaco o novato Julian Dennison, garoto neozelandês que não intimidou-se ao lado dos experientes Reynolds e Josh Brolin. Este último, vale ressaltar, está incrível como Cable e acho que ninguém faria melhor. Assim como Thanos em Vingadores: Guerra Infinita, atualmente em cartaz, Brolin deixa bem claro que entendeu a essência da personagem e a encarnou com maestria, digamos, inesperada. Pena que a caneta dos roteiristas não pesou um pouco mais para tornar sua história mais densa e cativante. 

Se faltou ousadia? 

Não foi de Brolin!


Outra péssima decisão foi desperdiçar uma personagem bacana como a Negasonic Teenage Warhead, que é uma das melhores coisas do primeiro longa. Brianna Hildebrand retornou apenas para se tornar um mero estereótipo sem função clara na trama. Sua parceira em cena, Shioli Kutsuna, é simpática, mas não havia espaço para as duas nos 120 minutos do longa.

A nossa querida Morena Baccarin, que continua linda e exuberante. Não tem muito tempo de tela, mas os raros lances ternos do longa são fruto de seu trabalho sempre impecável. Também do primeiro filme, estão de volta T.J. MillerKaran Soni, que garantem os momentos realmente engraçados. 

Mas não posso fechar a conta sem falar de nosso protagonista. Raras vezes roubando as cenas, mas quase sempre interrompendo-as inconvenientemente, Ryan Reynolds exagerou na tinta e agiu meio que como o "dono da bola". Sua onipresença inibe uma maior participação de seus colegas, desperdiçando talentos ou deixando de apresentá-los de forma apropriada, afinal, temos alguns iniciantes no cast. Assim como disse acima, no caso de Brolin, Reynolds É O DEADPOOL, mas talvez tenha sido o mercenário tagarela no filme errado. Ele vive o personagem da maneira certa, mas a trama desse segundo filme e certa insistência de fazer rir à qualquer custo me cansou demais.

Como dizem por aí, parece que "já deu".

O filme traz ainda algumas participações especiais, mas deixarei isso de lado, pois seriam spoilers. Quer saber quem são? Vá ao cinema.

Tedioso e sonolento, assim poderia definir Deadpool 2. Uma pena. O primeiro até me fez gostar do personagem.



Marlo George assistiu, escreveu e não entendeu as referências.