O filme foi muito bem recebido por fãs e críticos. Nós mesmos, do Poltrona POP, nos rendemos à versão recauchutada de Deadpool, que já tinha dado as caras na telona em X-Men Origens: Wolverine, de 2009, porém numa versão muito diferente daquela que os marvetes (como se auto-denominam os fanáticos por Marvel Comics) conheciam e amavam. Ciente do potencial da personagem e acreditando no próprio taco, seu intérprete, um comediante com veia cômica até então questionável chamado Ryan Reynolds, insistiu em levar o "herói" de volta às salas de cinema. Uma jogada de mestre, afinal, Deadpool superou as expectativas da Fox e teve sua sequência anunciada três dias após sua estreia nos EUA.
Tim Miller, que dirigiu o primeiro longa e lutou ao lado de Reynolds para que a produção saísse do papel foi confirmado na ocasião do anuncio da sequência, mas abandonou o cargo alegando "diferenças criativas" que estaria tendo com Reynolds. Em seu lugar entrou o ator, dublê e inexperiente David Leitch, que recentemente entregou seu primeiro longa-metragem ao público, o péssimo Atômica, de 2017.
Bem, nesse ponto, a tragédia foi anunciada.
Deadpool 2 é um filme infame, mas não de um jeito legal como foi o primeiro da franquia, mas no sentido mais completo e específico do termo. Nada funciona. As piadas, que dessa vez chegam ao cúmulo de serem repetidas à exaustão, são piegas e não pontuam a ação como no filme de Miller. Como se trata de um filme do Deadpool, tais gags e anedotas são mais do que obrigatórias, mas precisam ser inteligentes. Arrancar risadas do público com referências pop atuais, escatologias e humor forçado não funcionou dessa vez.
Assim como as piadas a trama também é boboca. Aliás, em duas quebradas de parede Reynolds reclama do roteiro, e ele está corretíssimo. A dupla Rhett Reese e Paul Wernick, que escreveu o primeiro Deadpool, retornou, mas o resultado está muito aquém do que foi apresentado em 2016. Levando em consideração o fato de que nessa sequência há momentos tensos, dramáticos e temas nos quais não cabem piadas, só as de mal gosto, o tom jocoso do longa é descabido. Portanto, a dupla, e Reynolds que completa o time de roteiristas, erraram na mão feio. Poderiam ter entregue um filme engraçado, mas com momentos tocantes, porém preferiram não ousar e fazer piadinhas infantiloides. Poderiam ter criado um background maior para a personagem, e o novo supergrupo, mas decidiram seguir pelo caminho mais fácil.
Talvez estejam certos, afinal de contas, Zack Snyder seguiu o caminho tortuoso e nos ofereceu filmes adultos e dignos do título de obras-primas como O Homem de Aço (2013) e Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça (2016), e acabou sendo execrado por crítica e público.
Deadpool 2 não diverte, de certo modo até irrita, mas é bem filmado, tem cinematografia competente, som muito bem mixado e uma trilha sonora bacana. O CGI é incrível e isso pode ser melhor notado ao ver um Colossos mais crível que o apresentado no filme anterior.
Do elenco, destaco o novato Julian Dennison, garoto neozelandês que não intimidou-se ao lado dos experientes Reynolds e Josh Brolin. Este último, vale ressaltar, está incrível como Cable e acho que ninguém faria melhor. Assim como Thanos em Vingadores: Guerra Infinita, atualmente em cartaz, Brolin deixa bem claro que entendeu a essência da personagem e a encarnou com maestria, digamos, inesperada. Pena que a caneta dos roteiristas não pesou um pouco mais para tornar sua história mais densa e cativante.
Se faltou ousadia?
Não foi de Brolin!
Outra péssima decisão foi desperdiçar uma personagem bacana como a Negasonic Teenage Warhead, que é uma das melhores coisas do primeiro longa. Brianna Hildebrand retornou apenas para se tornar um mero estereótipo sem função clara na trama. Sua parceira em cena, Shioli Kutsuna, é simpática, mas não havia espaço para as duas nos 120 minutos do longa.
A nossa querida Morena Baccarin, que continua linda e exuberante. Não tem muito tempo de tela, mas os raros lances ternos do longa são fruto de seu trabalho sempre impecável. Também do primeiro filme, estão de volta T.J. Miller e Karan Soni, que garantem os momentos realmente engraçados.
Mas não posso fechar a conta sem falar de nosso protagonista. Raras vezes roubando as cenas, mas quase sempre interrompendo-as inconvenientemente, Ryan Reynolds exagerou na tinta e agiu meio que como o "dono da bola". Sua onipresença inibe uma maior participação de seus colegas, desperdiçando talentos ou deixando de apresentá-los de forma apropriada, afinal, temos alguns iniciantes no cast. Assim como disse acima, no caso de Brolin, Reynolds É O DEADPOOL, mas talvez tenha sido o mercenário tagarela no filme errado. Ele vive o personagem da maneira certa, mas a trama desse segundo filme e certa insistência de fazer rir à qualquer custo me cansou demais.
Como dizem por aí, parece que "já deu".
O filme traz ainda algumas participações especiais, mas deixarei isso de lado, pois seriam spoilers. Quer saber quem são? Vá ao cinema.
Tedioso e sonolento, assim poderia definir Deadpool 2. Uma pena. O primeiro até me fez gostar do personagem.
Marlo George assistiu, escreveu e não entendeu as referências.