Dirigido por Fernando León de Aranoa, estrelado por Javier Bardem, Penelope Cruz e Peter Sarsgaard, "Escobar - A Traição" tenta mostrar mais um pouco da faceta de um dos maiores traficantes de drogas da América Latina. Mas... precisava mesmo?


A controvérsia do hipopótamo
Há pelo menos cinco anos, o interesse em Pablo Escobar tem sido cada vez mais premente, seja em filmes menores como o ótimo "Conexão Escobar", em séries como "Narcos", documentários diversos, livros, minisséries e até mesmo telenovelas

O que mais impressiona neste estranho fascínio é que o "assunto" Escobar aparentemente não se esgota. Se existem livros narrados do ponto de vista do lendário traficante, existem filmes narrados do ponto de vista de quem conviveu com ele - não importa por quanto tempo -, para elucidar alguns períodos ~"perdidos" pela 'lacuna' histórica (uma vez que a História só conta a versão de quem venceu).

Com pouco mais de duas horas de exibição, "Escobar: A Traição" é menos um filme sobre Escobar e muito mais sobre como é viver sob sua influência. Na trama, a ascensão e queda do mais temido traficante do mundo, Pablo Escobar (Javier Bardem) e seu relacionamento perigoso com a jornalista - e apresentadora de TV - mais famosa da Colômbia, Virginia Vallejo (Penélope Cruz), através de um reino de terror que dividiu o país, além de breves momentos dedicados à família, passando pelos óbvios momentos de desafios aos poderes estabelecidos.


O roteiro não escapa das armadilhas de uma cinebiografia convencional, utilizando, à exaustão, o recurso da narrativa em primeira pessoa - no caso, a própria Virginia, uma vez que é baseado em seu livro "Amando Pablo, Odiando Escobar" - com textos irritantemente expositivos, explicando muito do que é mostrado em cena, sem poesia ou pelo menos inteligência, entregando muitos momentos vexatórios dramaticamente falando. Mas, curiosamente, o roteiro opta por não explorar a origem de Escobar - possivelmente o ponto comum à maioria das mídias em que sua história é adaptada.

A qualidade da interpretação do elenco é variante - mais por culpa da falta de equilíbrio do roteiro do que da direção de atores em si. Dizer que Javier Bardem está "muy bien" como Pablo Escobar é chover no molhado.Sua construção de personagem é decente e digna de respeito misturado com o temor que se tem a alguém tão poderoso. O fato de Bardem ter declarado em recente entrevista que interpretou Escobar como um hipopótamo - animal favorito de Pablo - fala muito sobre sua movimentação em cena, lenta mas furiosa, sem demonstrar corporalmente o que está pensando.


Penelope Cruz não teve tanta sorte, uma vez é praticamente obliterada em cena frente à falta de importância real na trama a partir do segundo ato, com diálogos risíveis. A forma como a personagem é escrita transformou-a em alguém fútil, sem atrativos dramáticos suficientes para criar empatia com o público - exceto, talvez, quando é ameaçada de morte, onde tem algo palpável para aplicar em cena.No fim das contas, é só um adorno.

Peter Sarsgaard é outro nome completamente desperdiçado em cena, num personagem pouco operante, em que, diga-se de passagem, qualquer ator iniciante poderia dar conta sem problemas.

A direção de fotografia comandada por Alex Catalán utiliza-se de movimentos angulosos bem interessantes para mostrar o caos que se forma lentamente.


A trilha sonora composta por Federico Jusid, embora manjada, mostra-se funcional na criação de clima e tensão crescente.

Porém, "Escobar - A Traição" está longe de ser um filme "inassistível". Tem alguns problemas, é verdade, com um ritmo claudicante, acelerando ao máximo no terço final para mostrar o ocaso de Pablo e companhia. Mas também mostra uma história bem interessante de se ver, com "absurdos" que não veríamos hoje em dia - como fechar a principal rodovia da Colômbia "apenas" para que UM AVIÃO CARGUEIRO posasse trazendo um carregamento de cocaína que seria pego em seguida pelos comandados de Escobar ou com o traficante jogando uma partida de futebol na cadeia (que ele próprio construiu) que só terminava quando o time do Escobar ganhava...

Assista e tire suas próprias conclusões.


Kal J. Moon escreveu esta crítica e nunca mais foi visto. Rezem por sua alma...