Após cancelamentos de Luke Cage e Punho de Ferro, Demolidor ganha terceira temporada que supera todas as expectativas

Hoje faz uma semana que estreou a terceira temporada de Demolidor, série da Marvel Television e ABC, distribuída pela Netflix. Com 13 episódios densos, a série segue sua trilha como uma das melhores produções originais da Netflix e entrega uma trama muito acima da média do que viemos acompanhando em termos de séries baseadas em histórias em quadrinhos. No caso de Demolidor, podemos afirmar que ela é legitimamente um produto derivado por manter o espírito do personagem que aprendemos a amar nas graphics de Frank Miller dos anos 80 (que servem indiscutivelmente de referência para esta série televisiva) e que foi criado por Bill Everett e Stan Lee em 1964.

A história inicia-se onde Os Defensores, minissérie que reuniu os heróis desta franquia como o próprio Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro, terminou. Matt Murdock, o advogado cego e habilidoso está desaparecido, dado como morto por alguns, e a vida em Hell´s Kitchen, bairro novaiorquino onde ocorrem as aventuras do Demolidor, é abalada pela velada ameaça do retorno do Rei do Crime, Wilson Fisk.


Não pretendo dar spoilers, mas posso garantir que aqueles versados nos quadrinhos ficarão bastante apreensivos com o futuro de uma das personagens por conta da aparição de um vilão clássico do Demolidor. Eu, que reli os quadrinhos do Miller recentemente, fiquei com o coração apertado durante toda a temporada. Adianto ainda que existem pelo menos duas referências aos roteiristas dos quadrinhos, a primeira é apenas visual e está na cena em que o herói invade uma lavanderia (precisa ser muito antenado pra sacar essa referência) e a outra é uma aparição mais do que especial. Quando eu vi o velhinho lá, um largo sorriso se formou na minha cara. Especialmente por ter visto seu rosto pela primeira vez nos anos 80, na revista A Espada Selvagem de Conan: Em Cores, que trazia uma matéria especial com os roteiristas e artistas daquela publicação. Revê-lo em carne e osso, inserido em um universo que ele ajudou a criar é mais do que justo.

E não, não é o Stan Lee.

Além das homenagens, o que mais me marcou nesta temporada foi o discurso anti-corrupção, mostrando que em Hell´s Kitchen não é necessário que uma organização criminosa política para corromper toda a estrutura da segurança pública e do judiciário, basta um homem. Wilson Fisk, nosso maquiavélico Rei do Crime, é o vilão mais legal de todo o Universo Cinematográfico Marvel. Sim, não tem Thanos, não tem Loki. Fisk é um vilão completo em todos os sentidos. Talvez, com mais tempo de tela que os demais, isso seja injusto, mas é a mais pura verdade.

Os outros malfeitores que invadiram os filmes, séries, minisséries e curtas que compõem este universo maravilhoso não chegam aos pés de Fisk.

O elenco da série continua afiadíssimo e os destaques são Charlie Cox, que novamente apresenta o herói protagonista de modo impecável. São três temporadas e uma minissérie e até hoje eu ainda me pergunto: "Não é possivel que esse cara não é mesmo um cego?". Seu trabalho deveria ser reconhecido pelas premiações do ramo, já está na hora.

Vincent D´Onofrio nos presenteia com mais Fisk e é certamente um dos mais talentosos atores da TV norte-americana. Seu conhecimento e domínio daquela personagem é algo fora da curva e que também merece mais reconhecimento por parte da imprensa, associações e sindicatos de dramaturgia.


Deborah Ann Woll e Elden Henson mantém o mesmo nível alto de desempenho, como Karen Page e Foggy Nelson. Porém os maiores destaques são os novatos no elenco, Jay Ali e Wilson Bethel, sobre quem não irei falar nada para não entregar spoilers de bandeja.

Um aspecto que gostaria de ressaltar é a edição de som do primeiro episódio. É de uma simplicidade e sutileza tão grandes que impressiona no resultado final. Eu fiquei embasbacado.

Por fim, ressaltar a infelicidade que foram os cancelamentos de Luke Cage e Punho de Ferro. Por regra, a Netflix sempre anunciou as segundas temporadas das séries Marvel assim que as primeiras temporadas estreavam. Isso não aconteceu agora, apesar dos ganchos e pontas soltas que restaram em ambas as produções. Luke Cage e Punho de Ferro não tiveram o anuncio de suas terceiras temporadas na ocasião do lançamento de seu último segmento na Netflix, mas sim anúncios de cancelamento cerca de um mês depois. Será que isso irá acontecer com Demolidor?

Só o tempo dirá.


Marlo George assistiu, escreveu e está apreensivo, como um diabo no telhado