Destaque no Festival do Rio 2018, dirigido por Julius Avery e estrelado por um elenco composto por bando de desconhecidos, "Operação Overlord" é um legítimo exemplar do cinema trash, cuja estética parece estar de volta à voga...

Trash deluxe

Misturar gêneros cinematográficos é o que Hollywood menos consegue com perfeição. Mas "Operação Overlord" chega bem perto. Imagine a sanguinolência de "O Resgate do Soldado Ryan" misturada com fortes doses de "A Ilha do Dr. Moreau" e uma pitada do clima dos quadrinhos do anti-heroi Hellboy... O resultado é o roteiro de "Operação Overlord", que se assume como formulaico e genérico desde sua primeira cena, sem a menor vergonha, como se fosse uma paródia dos quadrinhos da revista "Krypta".

Na trama, a história de um grupo de paraquedistas americanos que, durante uma missão na Segunda Guerra Mundial, descobre que o inimigo é muito pior do que pensava. Com um misto de terror, ação e suspense, a trama tem início apenas algumas horas antes do fatídico 'Dia D', quando uma equipe de paraquedistas americanos entra na França ocupada pelos nazistas para uma missão crucial para o sucesso da invasão. Com a tarefa de destruir um transmissor de rádio no topo de uma igreja fortificada, os soldados desesperados unem forças com um jovem do vilarejo francês para penetrar nas paredes e derrubar a torre. Mas, depois de descobrirem um laboratório nazista misterioso abaixo da igreja, os soldados em menor número ficam frente a frente com inimigos diferentes de tudo o que o mundo já viu...

Embora o roteiro de Billy Ray (ao lado de Mark L. Smith) seja óbvio do início ao fim, desde a apresentação de um herói relutante, um líder nato, um interesse romântico que se mostra bem mais que isso, um alívio cômico involuntário e um vilão caricato ao extremo, estranhamente existe um charme inerente a um elenco de atores nada conhecidos mas que seguram bem a rabuda de estrelar um filme sob a chancela de ninguém menos que J. J. Abrams - e que pode virar uma nova franquia, anotem o que digo. Infelizmente, existem algumas cenas que teimam em explicar o que o público já suspeita ou tem certeza do que acontecerá, criando uma história mais longa do que deveria.

O que mais impressiona nessa experiência é a edição de som - comandada por Christopher Bonis -, criando uma atmosfera imersiva a ponto de fazer a plateia PULAR DA POLTRONA a cada tiro e explosão. Outro achado é a inspirada trilha sonora de Jed Kurzel, emulando bem o que já foi feito em inúmeros filmes de guerra, mas ainda assim com bastante originalidade. Destaque também para o figurino criado por Anna B. Sheppard, criando uma "soberania" aos "vilões" e deixando os heróis com um aspecto de sujeira que faltou bem o clima da guerra e da dificuldade que passaram.

Já a direção de fotografia de Laurie Rose e Fabian Wagner tem alguns problemas, tentando criar uma atmosfera participativa por parte do espectador, acabou lembrando-o o tempo todo que é algo distanciado sendo filmado - só para se ter uma ideia, numa cena específica cai um tecido SOBRE A CÂMERA e é retirada rapidamente (mas dá para notar!). Entretanto, a direção geral de Julius Avery é competente o suficiente para gerar belas cenas de ação, tensão e suspense na medida certa que um filme do gênero merece.

"Operação Overlord" é um entretenimento honestíssimo, que não entrega nada além do que promete. Mesmo assim, é um filme assumidamente trash, porém feito com muito mais recursos. Ou seja: diversão garantida. Mignola e Del Toro ficariam orgulhosos...


O recurta Kal J. Moon passou vergonha no cinema de tanto que se assustou com as cenas de tiro...