Por X'hal! O que fizeram com os Titãs?

Foi com bastante irritação que recebi a notícia de que iriam produzir uma série live-action de TV baseada no supergrupo "Os Novos Titãs". O motivo de minha insatisfação é o fato de que é quase impossível criar algo à altura da obra na televisão. Tudo que envolve o universo titã tem uma escala enorme e todas as outras séries já criadas lançadas, baseadas em super-heróis (especialmente da DC Comics), falham ao reproduzir, de modo simplista, as aventuras que conhecemos — e amamos —  nos quadrinhos.

Foi assim com Arrow, The Flash, Supergirl e, principalmente, com DC Legends of Tomorrow. Basta um olhar atento para se constatar que todas as séries citadas reduzem as aventuras exageradas dos gibis em meras soap operas enfadonhas e que, muitas vezes, não conversam com as obras nas quais se originaram.


A bola da vez agora são os Titãs e sua famigerada série que inaugurou o serviço internacional de streaming da DC Comics, a DC Entertainment.

Se por um lado eu já estava chateado com a simples notícia de que a série estava em produção, por outro eu literalmente me emputeci ao ver os primeiros materiais de divulgação, cerca de seis meses atrás, durante a Comic-Con de San Diego. Tudo parecia errado: A escalação dos atores, o figurino, as ausências (cadê o Kid Flash e o Ciborgue?) e, especialmente, aquele "Fuck Batman!".

Assisti a série e ela correspondeu à minha expectativa: É uma porcaria mesmo!


Os Novos Titãs, supergrupo teen da DC que está sendo republicado, atualmente, no Brasil pela Panini Comics, na série Lendas do Universo DC: George Pérez, sempre se envolveram com supervilões espaciais, infernais, psíquicos e outras mega ameaças. Na série de TV, os heróis estão em apuros com uma sociedade secreta de minions do vilão principal, que só dá as caras no final da temporada sem muito alarde. Além do mais, tudo na trama se dá de modo apressado, sem maiores explicações ou contexto. A maneira como o supergrupo se forma e como as relações entre os membros são estabelecidas é, pra dizer o mínimo, inconsistente.

Isso sem contar de que eles simplesmente pegaram os gibis originais e jogaram fora, no intuito de criar uma história nova que é chata e em nada lembra uma HQ.

Muito se falou sobre o visual da Estelar, assim que as primeiras imagens da personagem foram divulgadas. Mas os problemas da personagem em Titãs vão além da roupa de prostituta amalucada. A atriz que interpreta a personagem, Anna Diop, é péssima e o desenvolvimento da personagem é, como de todos os outros, desleixado.


O Robin (Brenton Thwaites) na TV se parece bastante com aquele que li na revista Asa Noturna: O Alvo, de 2002, escrita por Chuck Dixon e desenhada por Scott McDaniel. A personagem funciona como um investigador de polícia (de Detroit e não de Blüdhaven, cidade vizinha de Gotham City, onde rolam as aventuras do Asa Noturna). No núcleo policial, temos ainda a personagem Amy Rohrbach, interpretada por Lindsey Gort, que também foi criada por Chuck Dixon pros quadrinhos.

A Ravena foi encarnada por Teagan Croft e causa estranheza ela ser uma personagem frágil e vulnerável, totalmente distorcida, em nada lembrando a entidade mística que nos foi apresentada nos quadrinhos de Marv Wolfman e George Pérez, nos anos 80. Nas HQ´s a Ravena é misteriosa, conhecedora de segredos importantes e o principal elo de ligação entre as personagens do supergrupo que ela ajudou a reorganizar. A adolescente birrenta e amedrontada da série destoa muito de sua versão original. O mesmo pode ser dito de Mutano (Ryan Potter), personagem mulherengo e descolado, criado por Arnold Drake, que na série se tornou um adolescente introspectivo e tímido. Nada a ver.

Vale ressaltar que o Mutano, na série de TV, só se transforma em tigre e não na infinidade de animais que é capaz de se transformar nos gibis. Pelo menos isso é uma referência à capa da primeira revista do supergrupo, publicada nos EUA em novembro de 1980. Afinal, faltam é referências à DC nesta série, apesar de sobrarem citações à Game of Thrones.


A Moça Maravilha, assim como nos gibis originais dos Teen Titans dos anos 60 (a versão de Wolfman e Pérez é uma reformulação), integra o grupo bem depois de sua formação. Conor Leslie é a responsável por dar vida à Donna Troy. Ficou bacana, convenceu.


Mas falando em convencimento, o que me convenceu mesmo e se tornou a maior surpresa de Titãs, foi a dupla Rapina e Columba, interpretados por Alan RitchsonMinka Kelly, respectivamente. O nono episódio da série, intitulado Hank and Dawn, é o melhor de toda a primeira temporada. Tocante e belamente escrito por Geoff Johns, mostra a origem das personagens com primazia. Outro episódio bem legal é o que apresenta a Patrulha do Destino, o quarto da primeira temporada.

Quando os dois melhores episódios de uma série são focados em dilemas paralelos de personagens coadjuvantes, isso indica que há algo de errado na saga principal.

Lembrando que Patrulha do Destino vem aí, com série própria, também pela DC Entertainment e possível veiculação no Brasil pela Netflix, que acaba de lançar esta primeira temporada de Titãs.

O engraçado é que, como já disse, Marv Wolfman e George Pérez lançaram mão de um supergrupo esquecido dos anos 60, o renovou e reformulou em uma nova equipe que sempre serviu como chamariz de novos leitores pra DC Comics. Nos anos 80, com Os Novos Titãs, lideraram as vendas de gibis, até mesmo no Brasil. Nos anos 2000, serviram para introduzir novos fãs através do desenho animado Teen Titans e até hoje, com a animação Os Jovens Titãs em Ação e o novo gibi, Jovens Titãs, da Panini Comics, continuam sua saga como ponto de partida para a formação de novos DCnautas. Triste vê-los se tornar atores de uma novela grotesca, com cenas de sexo e conflitos amorosos ridículos.

E assim é Titãs, que foi renovada e vai ganhar nova temporada em 2019: Chata, enfadonha e só serve pra nos lembrar que os quadrinhos são muito legais. Não assista. Vá ler.



Marlo George assistiu, escreveu e odiou ver seus personagens favoritos de infância se tornarem um fiasco televisivo