Filme que encerra o arco de três fases do Universo Cinematográfico Marvel traz trama coesa, porém com inconsistências e soluções preguiçosas


Vingadores Ultimato finalmente foi liberado para o público e encerra de forma bastante digna a primeira saga do Universo Cinematográfico Marvel (Marvel Cinematic Universe ou MCU), franquia da Marvel Studios que foi iniciada em 2008, com Homem de Ferro e conta com nada mais, nada menos que 22 filmes. O longa é uma das produções mais antecipadas do cinema, pois o vilão principal, Thanos, nos foi apresentado no sexto filme da franquia, Os Vingadores, de 2012. Desde então, o Titã Louco, como também é conhecido tal antagonista, vem fazendo aparições discretas nos filmes do MCU, ameaçando a paz da galáxia, enquanto os Vingadores lutavam contra inimigos menos poderosos.

Com tantas horas de cenas canônicas, é lógico que Vingadores Ultimato não poderia fechar todas as pontas soltas da saga. Aliás, algumas delas, como a ameaça de Mordo, por exemplo, será tratada futuramente e possivelmente no próximo filme solo do Doutor Estranho. Porém, o longa-metragem dá um ponto final em diversos dilemas dos personagens principais. O problema é que as soluções encontradas para dirimir estes dilemas foram, deveras, preguiçosas, nada imaginativas e pouco explicadas.

Para resolver o estalar de dedos de Thanos, que dizimou metade de toda a vida senciente da galáxia em Vingadores: Guerra Infinita, lançado em 2018, a dupla de roteirista Christopher Markus e Stephen McFeely, lançaram mão de um recurso narrativo que é muito comum na ficção científica e na fantasia. Recurso este que é, geralmente, explicado à demasia em obras dos gêneros, para criar a solidez necessária para que o público compre a ideia, por mais impossível que ela seja. E eu afirmo aqui que, sempre que esta solução é não é explicado ou, como no caso de Vingadores Ultimato, sequer é explicada, o resultado final é sempre inconsistente, o que compromete a nossa suspensão voluntária da descrença.

O que é um paradoxo, uma vez que os próprios heróis precisaram suspender sua descrença para aceitar e decidir aplicar esta solução.


Outro problema que notei no roteiro foi o vilão principal. Em Vingadores: Guerra Infinita nós tomamos conhecimento do plano de Thanos. Era um plano embasado na escola filosófica do utilitarismo, uma vez que ele pretendia causar uma atrocidade no presente que, em sua mente distorcida, promoveria inevitavelmente um bem maior no futuro. Aniquilando metade da população da galáxia, Thanos acreditava que aqueles que sobraram iriam procurar viver uma vida mais produtiva e isso culminaria na evolução de todos os seres e sociedades do universo. Já em Vingadores Ultimato, este vilão que tinha um propósito, uma ambição que por mais injustificável que fosse, era um propósito, larga mão deste plano primordial em nome de uma vingança boboca contra aqueles que "melaram" seus planos, neste caso, os Vingadores. Isso diminuiu o personagem, de modo que Ultimato é um filme bem menor que Guerra Infinita, justamente por causa deste pequeno detalhe.

Com fotografia exuberante, edição caprichada e montagem arrojada, Ultimato é um filme gostoso de assistir. Quase não se nota as quase 3 horas de duração. A equipe de CGI e efeitos visuais também fizeram um trabalho primoroso, que é digno de aplausos quando chegamos ao clímax do filme. O trabalho de maquiagem pode levar algumas indicações à prêmios no ano que vem, porém uma das próteses que foram utilizadas em um dos super-heróis ficou muito falsa e isso incomodou-me demais. Além disso, o Hulk não ficou nada realístico, ele realmente parecia um intruso digital enquanto interagia com os atores de carne e osso.


A trilha sonora de Alan Silvestri é um personagem à parte. No primeiro ato do filme, que é angustiante, as músicas compostas pelo maestro auxilia na imersão do público, fazendo-nos sentir como se estivéssemos presenciando os eventos que rolam na telona. Um trabalho digno de nota e que poderia ser premiado no futuro. Os temas são belos.

Dirigido por Anthony e Joe Russo, Vingadores Ultimato é um longa-metragem bem realizado. Os diretores conseguiram extrair dos atores o melhor de cada um deles, em cenas muito bonitas, interpretadas em cenários magníficos. A visão da dupla de como este filme deveria ser é tão precisa que nos faz achar que o filme é nosso também,. pois eu acredito que é sua melhor versão. uma pena que as presepadas do roteiro tenham posto tanto à perder.



Marlo George assistiu, escreveu e também chama a fantasia de querida.