Alguns anos atrás um amigo me enviou uma história em quadrinhos curiosa. Hansi, the Girl who Loved the Swastika (Hansi, a Garota que Amava a Suástica, em português) é um gibi inédito no Brasil, mas que foi lançado nos EUA pela editora Spire Christian Comics, com desenhos de Al Hartley. Contava a história de uma menina alemã que, como sugere o título, amava o nazismo até que, após a chegada dos soviéticos e a ocupação de seu vilarejo, fugiu para os EUA, onde se converteu ao cristianismo. Era um gibi ruim com uma proposta religiosa canhestra e anti-comunista, mas que ficou na minha memória muito mais pelo título, que acho bem original e ousado, do que pela história em si. Era baseado na autobiografia de Maria Anne Hirschmann.
Jojo, o protagonista do novo filme do criativo diretor Taika Waititi, é muito parecido com Hansi. Também ama a suástica, tem Hitler como um exemplo a ser seguido (chegando ao ponto de tê-lo como amigo imaginário) e é convicto de que pertence à raça superior que deve regular o mundo. Porém, apesar de toda a sua visão de mundo, ele não passa de uma criança e nesse aspecto ele me lembrou muito O Menino Maluquinho, de Ziraldo. Jojo chega até a usar uma panela em sua cabeça durante o filme. Distorcida pela ideologia nazista e lúdica pela sua idade, sua visão de como o mundo funciona é bastante interessante, especialmente ao vermos como infantil era o pensamento dos adultos da época, porque naquela época, um nação inteira foi refém de uma visão da realidade utópica e foram convencidos de que eram superiores que as outras, tendo exterminado mais de 5 milhões de judeus em campos de concentração.
Taika Waititi se aproveita da conveniente protagonização de uma criança para fazer uma crítica ácida aos nazistas e aos amantes de suásticas. Perfeito.
A trilha sonora é de Michael Giacchino (Star Trek, The Batman) e é comovente, acompanhada de versões alemãs de músicas dos Beatles e David Bowie. Além de uma sequência engraçadíssima com um cover da música I Don´t Wanna Grow Up, dos Ramones, que confirma a intenção de Waititi em tirar sarro da falta de amadurecimento dos nazistas.
A grande estrela do filme é o jovem Roman Griffin Davis, o Jojo, que foi muito bem aproveitado por Waititi. Esse é seu primeiro filme e ele já mostrou que tem futuro, tendo sido indicado para vários prêmios na temporada de premiações, como o Globo de Ouro. Destaques também para Scarlett Johansson, que viveu a mãe de Jojo, Rosie, Rebel Wilson como uma nazista atrapalhada e que rouba a cena, assim como para Sam Rockwell, que interpretou o interessantíssimo Capitão Klenzendorf, um personagem raso e profundo ao mesmo tempo.
Assista este filme.
Marlo George assistiu, escreveu e acha que esse filme deixa o chatérrimo e pretensioso "A Vida é Bela" no chinelo